O Agente da U.N.C.L.E.: entretenimento com a ótima trilha sonora

Cena do filme O Agente da U.N.C.L.E.
O Agente da U.N.C.L.E.: direção de Guy Ritchie

ESPIONAGEM, AÇÃO E DIVERSÃO!

O cinema tem essa capacidade impressionante de ir ligando os pontos da afetividade e no final revelar um desenho surpresa, formado feito constelação no firmamento da nossa imaginação. Quando terminei de assistir ao filme O Agente da U.N.C.L.E., dirigido em 2015 por Guy Ritchie, o que visualizei foi um delicioso sorvete de casquinha, daqueles que costumava tomar nas tardes de verão, depois de sair de uma sala de cinema acompanhado dos meus irmãos e amigos. Representava a continuação da diversão! Entretenimento de alta qualidade, feito com entusiasmo e competência, esse filme foi direto para a lista dos que pretendo revisitar de quando em quando.
        É claro que a primeira isca que mordi foi a sugerida pelo título. O Agente da U.N.C.L.E. era uma série de TV americana que costumava acompanhar com afinco quando criança. Foi ao ar de 1964 a 1968 e depois reprisada à exaustão nos anos 1970. Narrava as aventuras de dois espiões, que a cada episódio conseguiam salvar o mundo da destruição total. Napoleon Solo era americano e Illya Kuryakin era russo. Apesar de inimigos, ficaram parceiros e formaram uma dupla eficiente e imbatível. Os criadores da série, Sam Rolfe e Norman Felton, contaram com a consultoria de ninguém menos do que Ian Fleming, o criador de James Bond. Foram quatro temporadas e 105 episódios repletos de ação e aventura. Mas para minha imaginação infantil, o ápice era quando Napoleon Solo sacava do bolso da camisa uma caneta e a usava para se comunicar com outros agentes, feito um... celular. Ah, como queria ter uma daquelas!
        A outra isca que me levou à sala de cinema para assistir a esse filme foi o nome do diretor. Para quem ainda não se atinou, Guy Ritchie foi o inglês que dirigiu em 1998 o filme Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels no original), um delicioso filme de gângsteres londrinos filmado com estilo, com uma narrativa descolada e repleto de lances impagáveis de humor inteligente. O filme catapultou a carreira do diretor, que acabou dirigindo sucessos como os dois Sherlock Holmes estrelados por Robert Downey Jr. e Jude Law. Nas mãos de Guy Ritchie, meus espiões preferidos na infância só poderiam ser retratados com doses exageradas de charme e sofisticação.
        Dito e feito! Logo na cena de abertura, enquanto rolam os créditos e algumas cenas expositivas que contextualizam a trama durante 1963, em plena Guerra Fria, sou fisgado pela saborosa canção Compared to What, interpretada por Roberta Flack! Depois dela, outras canções incríveis vão embalando o filme, de um jeito cada vez mais envolvente. Mas o momento em que caí da cadeira foi quando ouvi a brasileiríssima canção Jimmy Renda-Se, composta e interpretada por Tom Zé. Que achado! Quem assina a trilha sonora de O Agente da U.N.C.L.E. é Daniel Pemberton, experiente compositor com vasto currículo na TV britânica, mas consta que aqui ele seguiu à risca as determinações de Guy Ritchie, um diretor consciente de que só se faz cinema de verdade quando se junta áudio com visual.
        A conversa está tão boa, que já ia me esquecendo: é preciso pôr na mesa a sinopse do filme, para quem ainda não conferiu! O Agente da U.N.C.L.E. conta a história do ex-sargento do exército e ladrão profissional, Napoleon Solo (Henry Cavill), que se tornou agente da CIA. Ele recebe a missão de extrair de Berlim Oriental a jovem Gaby Teller (Alicia Vikander), filha de um cientista nuclear. Eles conseguem passar para o outro lado do muro, mas com dificuldades, já que o implacável agente da KGB, Illya Kuryakin (Armie Hammer), está na cola, tentando impedir. Como a crise internacional acaba tomando proporções apocalípticas, a CIA e a KGB decidem se unir, colocando seus dois melhores agentes para escoltar Gaby até Roma, onde seu pai está sendo obrigado a construir uma bomba atônica para os irmãos Vinciguerra, Victoria (Elizabeth Debicki) e Alexander (Luca Calvani). Solo e Kuryakin terão que impedir, mas tropeçarão com os desmandos do maléfico tio Rudi (Sylvester Groth).
        O projeto do filme já estava no circuito dos estúdios há anos, com várias estrelas – Tom Cruise, inclusive – escaladas para encabeçá-lo. Quando Guy Ritchie e seu corroteirista Lionel Wigram tomaram as rédeas, herdaram mais de uma dezena de roteiros e tratamentos. Escreveram sua versão, mantendo o foco na atmosfera criada para a série original da TV. Ao invés de trazer a trama para os tempos atuais, decidiram mantê-la confinada nos anos 1960, o que se mostrou um grande acerto. O visual retrô recebeu uma releitura contemporânea, original e criativa. O sufoco da Guerra Fria, quando se fazia espionagem de verdade, ajudou a trazer uma verossimilhança benéfica para o enredo. As locações em Roma e Nápoles contribuíram com cenários deslumbrantes e trouxeram a atmosfera internacional dos grandes clássicos do gênero. E a direção original e precisa de Guy Ritchie foi decisiva para fazer de O Agente da U.N.C.L.E. uma excelente peça de entretenimento.
        Mas quando terminei de conferir esse filme, fui assolado por uma dúvida cruel: afinal de contas, o que significa U.N.C.L.E.? Sempre soube que é a palavra em inglês para tio, mas como aparece pontilhada, deve ser um acrônimo! Hoje em dia, graças à internet, foi fácil descobrir. Trata-se de uma abreviatura para United Network Command for Law and Enforcement. Ou seja, nada que tenha relevância ou faça algum sentido. Tudo o que importa é a diversão. E como ela vem fácil nesse filme. Recomendo!

Resenha crítica do filme O Agente da U.N.C.L.E.

Título original: The Man from U.N.C.L.E.
Ano de produção: 2015
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Guy Ritchie e Lionel Wigram
Elenco: Henry Cavill, Armie Hammer, Alicia Vikander, Elizabeth Debicki, Sylvester Groth, Christian Berkel, Luca Calvani, Misha Kuznetsov, Jared Harris e Hugh Grant

Comentários

Confira também:

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema