Tempo de Glória: o melhor filme sobre a Guerra Civil Americana
Tempo de Glória: direção de Edward Zwick
UM DRAMA DE GUERRA EMOCIONANTE
Filmes que narram dramas de guerra são aqueles aos quais costumo assistir sozinho, geralmente tarde da noite, quando Ludy está dormindo. Minha mulher não gosta do gênero. A violência que exibe e a tristeza que provoca a incomodam. Por isso, quando avisei que ia assistir a Tempo de Glória, dirigido em 1989 por Edward Zwick, ela torceu o nariz e retrucou que preferia se agarrar a um livro. Mas, enquanto se preparava, ficou sentada na beiradinha do sofá, só observando. E foi ficando, cena após cena, até se esquecer de que não gosta de dramas de guerra e de que a violência a entristece. Foi vencida por um cinema emocionante e de alta qualidade!Tempo de Glória é um grande filme, capaz de deixar qualquer cinéfilo de olhos arregalados. Baseado em fatos históricos, é construído com sólido material ficcional e nos apresenta a personagens desenvolvidos com grande habilidade. A história, que se passa durante a Guerra Civil nos Estados Unidos, é sobre o 54º Regimento de Massachusetts, a primeira unidade do exército americano a ser formada apenas com soldados negros. Praticamente todos eram escravos libertados, dispostos a lutar contra os rebeldes escravocratas do sul. Enfrentaram dificuldades gigantescas para ganhar credibilidade, mas tiveram uma participação heroica na guerra.
Indicado a cinco Óscares, o filme ganhou três: melhor fotografia, melhor som e melhor ator coadjuvante, para Denzel Washington. Aliás, com a conquista, o ator viu sua carreira decolar, alcançando seu lugar entre os grandes astros de Hollywood. Fotografado com brilhantismo por Freddie Francis e embalado por uma trilha sonora impecável, composta por James Horner, Tempo de Glória é um espetáculo audiovisual arrebatador. É certamente um dos melhores filmes já realizados sobre a Guerra Civil Americana, mas quase deixou de ser produzido: é que o projeto foi acusado de ser racista e encontrou vários detratores dentro do próprio estúdio. Mas, para entender essa polêmica, precisamos antes examinar a sinopse. Vamos a ela:
O filme abre em 1862, mostrando os horrores da Batalha de Antietam, o primeiro grande confronto da Guerra Civil, quando o jovem capitão Robert Shaw (Matthew Broderick) é ferido e vai parar num hospital de campanha. Recuperado, ele é promovido a coronel e recebe uma missão espinhosa: comandar o primeiro regimento formado só por voluntários negros. Ele aceita, mas convoca seu amigo de infância, o jovem major Cabot Forbes (Cary Elwes) para atuar como segundo no comando. Outro amigo seu, Thomas Searles (Andre Braugher), torna-se o primeiro voluntário. Outros escravos libertos e homens livres logo vêm engrossar as fileiras: John Rawlins (Morgan Freeman), Júpiter (Jihmi Kennedy), Trip (Denzel Washington) e outros quase 900 combatentes, todos destreinados e indisciplinados, mas ávidos por lutar no front. Então, o que acompanhamos é o esforço sofrido desses homens aferrados às suas circunstâncias, para serem reconhecidos como soldados de verdade. Entre sacrifícios e atos de bravura, o que vem para o primeiro plano é o drama dos indivíduos e a trajetória heroica que escolheram seguir.
A ideia para o filme Tempo de Glória nasceu da cabeça do roteirista Kevin Jarre. Ele se baseou nas cartas pessoais escritas pelo próprio coronel Robert Shaw, além do livro One Gallant Rush, de Peter Burchard e da monografia Lay This Laurel, escrita por Lincoln Kirstein. Seu roteiro, concluído em apenas quatro semanas, costurou uma trama baseada em fatos, mas o único personagem não fictício ao qual deu atenção foi o do coronel Robert Gould Shaw, cujas realizações estão fartamente documentadas em museus e academias militares. Os demais personagens foram compostos a partir de registros e fatos sobre soldados reais, que o roteirista conheceu em sua pesquisa. Os eventos históricos abordados no roteiro aconteceram de fato, inclusive o fatídico ataque ao Forte Wagner, que ceifou a vida de metade do 54º Regimento de Massachusetts.
Quando o diretor Edward Zwick ingressou no projeto, trouxe uma nova visão para a produção. Tirou o foco dramático do jovem coronel, suas angústias e dilemas, para ressaltar a história dos soldados e a maneira como conseguiram se unir como um regimento coeso. Foi uma decisão acertada, que elevou o potencial emocional do filme, embora tenha lançado os holofotes sobre as questões racistas e dado margem para a grita dos patrulheiros de plantão. Outro ponto a favor do diretor foi a habilidade que demonstrou na hora de filmar as cenas de batalha. Não houve computação gráfica enchendo a tela com soldados digitais. Ao invés disso, o que temos são 700 extras travando uma verdadeira guerra cênica, que reproduziu em detalhes toda a movimentação tática das batalhas. Realismo e verossimilhança como raramente vemos no cinema.
Apesar da qualidade do roteiro e da competente direção de Edward Zwick, que soube fazer girar a máquina cinematográfica que tinha em mãos, o mais marcante em Tempo de Glória é a força magnética do seu elenco. E não me refiro aqui apenas aos Washingtons e Freemans que esbanjam carisma, mas também a Matthew Broderick, que soube compor com sutileza um personagem difícil: jovem, inexperiente e tímido, é também determinado, corajoso e pautado por valores pétreos. Sua participação no filme eleva a qualidade artística da obra.
O roteirista Kevin Jarre também atua no filme! Ele interpreta um soldado que começa uma briga com o personagem de Denzel Washington por questões racistas, mas depois, em outra cena, obrigado a reconhecer sua bravura, faz torcida em favor do 54º Regimento. Resumindo: Tempo de Glória não é apenas um drama histórico de guerra. É um filme emocionante, que lida com um material humano denso e envolvente. É cinema para deixar qualquer cinéfilo de olhos arregalados. Ludy que o diga! Minha mulher chegou aos créditos finais sem pestanejar!
Ano de produção: 1989
Direção: Edward Zwick
Roteiro: Kevin Jarre
Elenco: Matthew Broderick, Denzel Washington, Cary Elwes, Morgan Freeman, Jihmi Kennedy, Andre Braugher, John Finn, Donovan Leitch, John David Cullum, Alan North, Bob Gunton, Cliff De Young, Christian Baskous, Jay O. Sanders, Raymond St. Jacques e Jane Alexander
O roteirista Kevin Jarre também atua no filme! Ele interpreta um soldado que começa uma briga com o personagem de Denzel Washington por questões racistas, mas depois, em outra cena, obrigado a reconhecer sua bravura, faz torcida em favor do 54º Regimento. Resumindo: Tempo de Glória não é apenas um drama histórico de guerra. É um filme emocionante, que lida com um material humano denso e envolvente. É cinema para deixar qualquer cinéfilo de olhos arregalados. Ludy que o diga! Minha mulher chegou aos créditos finais sem pestanejar!
Resenha crítica do filme Tempo de Glória
Título original: GloryAno de produção: 1989
Direção: Edward Zwick
Roteiro: Kevin Jarre
Elenco: Matthew Broderick, Denzel Washington, Cary Elwes, Morgan Freeman, Jihmi Kennedy, Andre Braugher, John Finn, Donovan Leitch, John David Cullum, Alan North, Bob Gunton, Cliff De Young, Christian Baskous, Jay O. Sanders, Raymond St. Jacques e Jane Alexander
Sou novato no FB, no grupo de "Clássicos de cinema". Entrei, porque queria ler coisas inteligentes sobre o cinema norte-americano, já que foi ele que me formou desde a infância, nos anos '40. Faroestes, comédias, musicais, dramas, muito Tom & Jerry, muito Leão da Metro, muito mocino & bandido, etc. O cinema europeu demorou anos pra entrar e competir com este repertório, Fábio. Já estava a ponto de cancelar minha inscrição no FB, dado que o nível de intervenção no grupo é rasteiro. É teu o primeiro comentário inteligente e sustancioso que li. Obrigado.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo feedback. Tento abordar os filmes a partir de uma visão pessoal, mas me preocupo em pesquisar e descobrir detalhas que antes haviam me escapado. É assim que vou construindo minhas crônicas. Que bom que gostou!
ExcluirMais um texto ótimo! Obrigado! Vou conferir o filme. Abraços
ResponderExcluirObrigado pelo feedback! Um abraço!
ExcluirExcelente crítica... também fiquei curioso pra assistir aí filme!Vlw!!!
ResponderExcluirMuito obrigado, Serpa. Espero que goste do filme. Depois comente sobre o que achou!
ExcluirEu assisti e posso dizer que é um grande épico que vale a pena ser assistido com atenção. Mas -com todo o respeito -em minha humilde opinião está LONGE de ser o maior filme ja feito sobre a guerra civil americana. Eu citaria alguns que considero bem melhores: "Guerra Submarina ("The Hunley") de 1999 dirigido por John Gray e com Donald Sutherland -Um interessante filme sobre o uso pioneiro e primitivo do submarino como arma de guerra pelos "rebeldes". "Shenandoah" de 1965 estrelado por James Stewart e dirigido por Andrew V. McLaglen -um dos mais comoventes dramas de guerra que já assisti. O fantástico "Sublime Tentação" (Friendly Persuasion) de 1956 com direção de William Wyler e estrelado por Gary Cooper. Também gostei muito do épico "Deuses e Generais"(Gods and Generals) 2003 dirigido por Ronald Maxwell (apesar de ter sido um fracasso de bilheteria e de crítica), e ultimo mas não menos importante o clássico "E o vento Levou" que eu nunca cansei de reassistir e dispensa comentários. Obrigado!
ResponderExcluirAh, minha petulância em votar nesse filme como o melhor foi por mera provocação! Para além de revelar minhas inclinações pessoais, pretendia dar pretexto pra os comentários inteligentes que certamente acrescentariam conteúdo na discussão. Os títulos que você cita são ótimos e entrara na minha lista de filmes aos quais preciso assistir - a não ser E Vento Levou, que já conferi duas vezes! Obrigado por compartilhar.
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