A História do Mundo - Parte 1: Mel Brooks dá sua versão dos fatos

Cena do filme A História do Mundo - Parte 1
A História do Mundo - Parte 1: direção de Mel Brooks

HUMOR POLITICAMENTE INCORRETO, COMO DEVE SER!

Não, Mel Brooks nunca teve a intenção de realizar uma segunda parte para o filme, A História do Mundo - Parte 1, que escreveu, dirigiu e produziu em 1981. O título nasceu como uma piada, que ele fez questão de contar em uma entrevista: estava dirigindo a caminho do trabalho quando foi abordado por um conhecido inoportuno. O abusado emparelhou com seu carro é gritou:
        – E então, está trabalhando em mais um filme grandioso?
        – Sim, vai se chamar A História do Mundo – retrucou Brooks, inventando na hora o título mais grandiloquente que conseguiu imaginar.
        – Nossa! Como vai conseguir contar tudo em um único filme? – especulou o sujeito. Mel Brooks não perdeu a oportunidade e se saiu com a tirada:
        – Tem razão! Acho que vou chamá-lo de A História do Mundo - Parte 1!
        Considerei essa passagem bastante crível, ainda que inusitada. Cheguei a visualizar os dois carros emparelhados... A expressão injuriada do diretor, olhando para o outro motorista enquanto tentava manter os olhos na estrada... O outro sujeito com cara de abusado, ávido por posar como amigo de uma celebridade... E aquela música orquestrada, servindo de trilha sonora – talvez executada pela banda que vinha lotando um ônibus logo atrás! É, o humor de Mel Brooks sempre foi mais verbal do que visual, mas jamais deixou dúvidas: sempre foi cinematográfico – e televisivo, é claro!
        O fato é que A História do Mundo - Parte 1 não foi exatamente um grande sucesso. Aliás, a crítica torceu o nariz, reclamando que faltou um pouco mais de narrativa para costurar com mais propriedade a enxurrada de piadas – algumas hilariantes – que o filme despeja sobre a plateia. Para complicar, o filme não envelheceu bem, porque o humor que ele irradiava há 40 anos já não é bem visto nestes nossos tempos de chatices politicamente corretas. Zoava com os homossexuais, com os cristãos, com os judeus, com os maconheiros, com os burocratas... Lembro que assisti ao filme várias vezes na sala de cinema e em todas elas soltei infinitas gargalhadas.
        Para aqueles que ainda não estudaram esse compêndio da história universal, é bom lembrar da sinopse. O filme é uma reunião de esquetes, agrupados em temas aleatórios, que representam pontos memoráveis da trajetória humana. Começamos com a Idade da Pedra, quando nasceram o humor, a arte de representar e os críticos de arte. Depois, vem o Antigo Testamento, quando Moisés surge com as tábuas dos 15, quer dizer, dez! mandamentos. No Império Romano, um humorista de stand up tem a oportunidade de fazer um show no Caesars Palace, aquele hotel de Las Vegas. Quando chega a Inquisição Espanhola, descobrimos que Torquemada era dono de uma musicalidade torturante. E finalmente, na Revolução Francesa, Mel Brook nos mostrou que bom mesmo era ser o rei!
        Mas o diretor ainda arranjou espaço para apresentar um trailer do que seria a parte 2, onde prometia, em breve, apresentar muitos outros esquetes hilariantes: um show de patinação intitulado Hitler on Ice, um divertidíssimo Funeral Viking e uma espiadela na história que ainda haverá de ser escrita, num esquete futurista intitulado Judeus no Espaço – muito parecido com o que já vimos em Star Wars!
        Para esse filme, Mel Brooks reuniu um elenco notável. Diversos nomes da cena humorística hollywoodiana vão desfilando, cena após cena, como, Dom DeLuise, Madeline Kahn, Harvey Korman, Cloris Leachman, Andreas Voutsinas, Spike Milligan, Sid Caesar, Shecky Greene, Gregory Hines, Charlie Callas... Até Orson Welles participa como narrador dessa destrambelhada A História do Mundo - Parte 1. Para nós, brasileiros, muitas dessas celebridades são desconhecidas, já que tiveram projeção maior nos programas da TV americana. A comparação que ouso fazer é com a nossa Escolinha do Professor Raimundo, que sempre conseguia vaga para matricular humoristas das mais variadas vertentes e idades. Mas antes que me apedrejem, alerto que não estou incluindo o humor de Mel Brooks nessa comparação!
        Apesar das críticas negativas, que colocam A História do Mundo - Parte 1 como um filme menor de Mel Brooks – há uma clara intenção de emular o humor anárquico e inteligente dos Monty Python, mas sem a mesma verve dos britânicos – tenho certeza de que ele ainda é capaz de arrancar boas gargalhadas até mesmo das plateias atuais. Aliás, quem apostou nisso foi o serviço de streaming Hulu, ligado à Disney, que lançou recentemente, com 42 anos de atraso, a tão aguardada A História do Mundo – Parte 2. Criada por Nick Kroll, Ike Barinholtz e Wanda Sykes, expoentes do humor contemporâneo, a continuação foi na verdade produzida como uma série em oito episódios, repletos de esquetes que seguem a mesma linha do que foi criado por Mel Brooks. O diretor, que já está na casa dos 96 anos, escreve algumas das piadas e atua como consultor. Ainda não conferi, mas estou ansioso para fazê-lo. Quero ver o que as novas gerações estão aprontando com o legado desse grande nome da história humorística do mundo.

Resenha crítica do filme A História do Mundo - Parte 1

Ano de produção: 1981
Direção: Mel Brooks
Roteiro: Mel Brooks
Elenco: Mel Brooks, Dom DeLuise, Madeline Kahn, Harvey Korman, Cloris Leachman, Ron Carey, Gregory Hines, Pamela Stephenson, Shecky Greene, Sid Caesar, Sammy Shore, Mary-Margaret Humes, Orson Welles, Carl Reiner, Howard Morris, Charlie Callas, Paul Mazursky, Henny Youngman, Hugh Hefner, Barry Levinson, John Myhers, Dena Dietrich, Fritz Feld, John Hurt, Art Metrano, Bea Arthur, Ronny Graham, Pat McCormick, Ronny Graham, Jackie Mason, Andreas Voutsinas, Spike Milligan, Sydney Lassick, Jack Carter, Jan Murray, John Hillerman, Andrew Sachs, Fiona Richmond, Nigel Hawthorne e Bella Emberg

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