Atirador: ação ágil, envolvente e catártica


Atirador: direção de Antoine Fuqua

TEM COISAS QUE SÓ CONSEGUIMOS RESOLVER A BALA!

Depois de um dia intenso de trabalho, são diversos os motivos que nos fazem deitar no sofá e assistir a um filme. O mais comum é a busca por diversão – que tal qual a busca pela felicidade, é sempre uma jornada individual. Porém, às vezes, levamos sorte e topamos com cinema de qualidade, aquele que surpreende e entrega mais do que mero entretenimento. Traz reflexões, provocações, dúvidas, elevação intelectual, regozijo estético... Atirador, filme de 2007 dirigido por Antoine Fuqua, definitivamente não é esse tipo de filme. Mas traz um bônus valioso: catarse!
        Não me refiro ao efeito que os psicólogos adoram provocar nos seus pacientes, cutucando o inconsciente para fazer jorrar as emoções traumáticas que ficaram represadas desde a infância. A catarse aqui é justamente aquela aristotélica, que tem função purificadora e purgatória, usada desde a tragédia grega para trazer alívio ao espectador, livrando-o dos impulsos violentos. Quando chegamos ao final do filme, estamos de alma lavada. Os bandidos, desumanos de tão inescrupulosos, jazem derrotados, humilhados e exterminados. Os mocinhos, redimidos, agigantam-se no alto dos seus valores éticos.
        O melhor de tudo em Atirador é que os bandidos são justamente... os políticos. Aqueles que se valem da coisa pública para angariar benefício próprio. Que não titubeiam em azeitar os mecanismos do estado com o caldo dos seus interesses privados. Que manipulam as leis, compram obediência, repartem privilégios, cooptam a mídia... Os políticos que se lambuzam com o dinheiro dos pagadores de impostos e trabalham com afinco para eliminar qualquer possibilidade de reação dos indivíduos.
        Na outra ponta, os mocinhos que vemos em Atirador são indivíduos comuns, sem superpoderes nem dons sobrenaturais. Descontaminados das enfermidades coletivistas, agarram-se aos seus ideais para lutar com as únicas armas que têm à disposição: as de fogo! E são elas que vão garantir o equilíbrio de forças e a vitória do indivíduo sobre o estado abalroado e assaltado pelos malditos parasitas. Agora que estamos, você e eu, espumando de raiva, é melhor examinar a sinopse desse filme, para ver como se dará a tal catarse.
        Atirador conta a história de Bob Lee Swagger (Mark Wahlberg), um caipira habilidoso com as armas, que virou um dos melhores atiradores do exército americano. Depois de perder seu melhor amigo numa missão na Etiópia, aposenta-se e vai viver isolado com seu cachorro nas montanhas do Wyoming. Até que o Coronel Isaac Johnson (Danny Glover) vem pedir sua ajuda para impedir uma tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos. Bob Lee Swagger investiga e identifica a melhor chance de sucesso que o assassino teria, mas é vítima de uma armação: o atentado de fato acontece, mas por obra do próprio Coronel Johnson e seus homens, que colocam a culpa no caipira. Agora ele é o homem mais procurado do país. Com a ajuda de Nick Memphis (Michael Peña), investigador do FBI e Sarah Fenn (Kate Mara), viúva do seu melhor amigo, Bob Lee Swagger terá que lutar contra o aparato do estado, tentando provar sua inocência. E se isso não for possível, está decidido a resolver tudo a bala!
        O filme é baseado no romance de ficção Point of Impact, escrito em 1993 por Stephen Hunter, um verdadeiro especialista em armas de fogo. Além de ser um atirador e entusiasta da cultura das armas, é um autor prolífico e publicou diversos livros sobre o tema – 12 deles dedicados à série de histórias sobre Bob Lee Swagger. Seus romances são sempre permeados com informações técnicas detalhadas sobre as armas, para deleite dos leitores.
        Há anos Hollywood vinha tentando adaptar o romance, mas a produção nunca decolou. Cerca de oito ou nove roteiros foram escritos, até que a adaptação de Jonathan Lemkin acabou vingando. Experiente – ele já assinou os roteiros de filmes como Advogado do Diabo, Planeta Vermelho e Dia de Treinamento – encontrou o ritmo certo e despertou o interesse do diretor Antoine Fuqua, outro nome experiente no gênero ação, à frente de filmes como O Protetor, Invasão à Casa Branca e Sete Homens e um Destino. Por fim, o astro Mark Wahlberg também encontrou em Atirador uma ótima oportunidade para dar continuidade à sua carreira e soube aproveitá-la.
        O filme é isso mesmo: um thriller de ação ágil e envolvente, que nos leva a torcer por um protagonista injustiçado, que sabemos ser inocente. Primeiro, queremos vê-lo provar sua inocência, enquanto o sistema trata de punir os verdadeiros culpados. Depois, na medida em que sentimos o fedor emanando do próprio sistema, e percebemos a podridão das instituições aparelhadas, torcemos para que o atirador use suas habilidades e 
acabe de vez com a corja toda. Quando isso acontece, é catártico!
        Pronto, já podemos ir dormir, purificados e aliviados. Nossos impulsos violentos estão controlados. Estamos prontos para mais um dia de trabalho intenso. Porém, a julgar pela enxurrada de más notícias que temos recebido da crônica política, ainda vamos precisar de muitos outros filmes do gênero. Alguém aí tem outra boa indicação a fazer?

Resenha crítica do filme Atirador

Título original: Shooter
Ano de produção: 2007
Direção: Antoine Fuqua
Roteiro: Jonathan Lemkin
Elenco: Mark Wahlberg, Michael Peña, Danny Glover, Kate Mara, Elias Koteas, Rhona Mitra, Rade Šerbedžija, Levon Helm, Ned Beatty, Tate Donovan e Louis Ferreira

Comentários

  1. Mas, sem intenção de corrigir, claro, o nome do filme é O Atirador, ou apenas Atirador, sem o artigo?

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  2. Ah, esse detalhe é confuso. Creio que em Portugal, há o artigo no título, mas no Brasil, não. Há outro filme com o mesmo título, então preferi manter o artigo para diferenciar. Talvez o certo seja eliminar, para manter a coerência com o título original.

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