The Chosen / Os Escolhidos: é impossível não maratonar!

Cena doo filme The Chosen / Os Escolhidos
The Chosen / Os Escolhidos: série criada por Dallas Jenkins

COMO NA BÍBLIA, MAS NUMA LINGUAGEM MAIS... ATUAL!

Não sou espectador habitual de filmes, séries ou novelas religiosas. Meus vínculos com o catolicismo se desfizeram na minha juventude – preferi vagar por aí sem uma religião para seguir. Embora tenha me apresentado desde então como um descrente, aviso que não atirei pela janela os valores cristãos que minha família fez questão de me incutir. Se me pus contrário às distorções corporativas que enxergava na Igreja e me atrevi a discutir os dogmas que não conseguia engolir, continuei agarrado à moral e aos valores éticos que aprendi. Os considero essenciais para que a humanidade possa seguir com o processo civilizatório.
        Essa longa introdução tem uma finalidade: deixar claro que se decidi conferir a série The Chosen / Os Escolhidos, criada em 2017 por Dallas Jenkins, foi por pura curiosidade de cinéfilo inveterado, interessado mais na sétima arte do que nos temas religiosos. Porém, tal introdução também serve para justificar o que veio depois: se maratonei todos os 26 episódios das três temporadas disponíveis no serviço de streaming em apenas três noites, foi por puro regozijo estético e espiritual! Ludy e eu nos acorrentamos em frente da TV, hipnotizados – minha mulher, sim, muito mais interessada nos ensinamentos cristãos do que em preciosismos cinematográficos.
        The Chosen / Os Escolhidos é mesmo uma série empolgante, com enorme poder de emocionar. A história que nos conta não é exatamente uma novidade. Ao contrário, tem sido muito batida nos últimos dois mil anos. É sobre a trajetória de Jesus Cristo e dos 12 personagens que escolheu como apóstolos, para disseminar sua mensagem entre os homens. É narrada como um drama histórico, mas o protagonista não é tratado apenas como um vulto. É apresentado em toda a sua natureza divina e seus feitos são mais do que milagrosos, são eivados de significados e de força transformadora. Ou seja: é exatamente o que apreendemos quando lemos a Bíblia!
        Dramatização! Esta é palavra-chave que norteia os realizadores de The Chosen / Os Escolhidos. A sequências são sempre ágeis e bem encadeadas. A trama segue linear, mas dá abertura para que as subtramas se desenvolvam com pitadas de suspense. Os diálogos são precisos e muito bem escritos. A atmosfera é sempre envolvente, alternando entre os momentos ternos e os de tensão. Como resultado, a série irradia autenticidade e naturalidade, fazendo com que as passagens bíblicas – que nas escrituras são impressas para guardar uma certa pompa e formalidade – ganhem uma tradução mais... descolada.
        Segundo o criador da série, o diretor, roteirista e produtor americano Dallas Jenkins, ao longo das sete temporadas previstas não será feita uma leitura compenetrada da Bíblia. Ao contrário, o espectador assistirá a um espetáculo audiovisual preparado para entreter. Os religiosos mais apegados ao ritos e formalidades torcerão o nariz, mas não é para esses que estará pregando. O alvo de Jenkins é o grande público, diverso e heterogêneo, formado pelos que não são espectadores habituais de filmes, séries ou novelas religiosas.
        Dallas Jenkins faz questão de perseguir a precisão histórica, espiritual e cultural de todo o conteúdo apresentado, ainda que se permita doses de liberdade criativa, para encenar as histórias de fundo dos personagens e mostrar como teria sido seu cotidiano. Ele compartilha a escrita de todos os episódios com outros dois roteiristas, Tyler Thompson e Ryan Swanson. Além disso, recorre a outros três consultores, que o ajudam a manter o rigor dos textos: Doug Huffman, cristão evangélico da Universidade Biola, o padre católico David Guffey e o rabino Rabi Sobel.
        A ideia para a série surgiu quando Dallas Jenkins estava rodando o curta-metragem com a mesma temática, intitulado The Shepherd, na fazenda de um amigo no Illinois. Na época ele acompanhava pelo streaming da HBO a série The Wire, que desfiava uma trama política repleta de desdobramentos sociais e religiosos. Fez um paralelo com o que aconteceu na Galileia dos tempos de Jesus e percebeu que poderia experimentar o uso da mesma linguagem, numa série que despertasse o interesse das pessoas em maratonar vários episódios em sequência.
        O curta-metragem chamou a atenção da Angel Studios – a plataforma é responsável por diversos filmes polêmicos de sucesso, como Som da Liberdade – que estimulou Jenkins a publicá-lo no Facebook como um piloto conceitual da série. Alcançou mais de 15 milhões de visualizações! O próximo passo foi lançar um projeto de crowdfunding, que se transformou no maior sucesso na história do entretenimento. A série conseguiu 40 milhões de dólares em contribuições, feitas por espectadores ávidos por acompanhar todos os episódios futuros, temporada por temporada. Transformou-se em sucesso estrondoso, visto por mais de 110 milhões de espectadores em 175 países. Hoje já são mais de 6,5 milhões de seguidores nas redes sociais, que consomem também livros, DVDs, histórias em quadrinhos e outros objetos de merchandising com a marca The Chosen.
        A audiência da série não é composta apenas por cristãos fervorosos. Muitos espectadores estão se deixando envolver pela narrativa dramatizada e repleta de gatilhos emocionais. As ótimas atuações de Jonathan Roumie, no papel de Jesus Cristo, e de Shahar Isaac, no papel de Simão Pedro, também são bons atrativos. A trilha sonora assinada por Dan Haseltine e Matthew S. Nelson, usando elementos de rock, folk e até blues, impõe um clima de familiaridade contemporânea.
        As três primeiras temporadas estão disponíveis em vários serviços de streaming e a quarta temporada já está em produção, para ser lançada ainda no primeiro trimestre de 2024. Os roteiros das demais temporadas já estão todos escritos e o projeto de crowdfunding segue a todo vapor, para alegria dos espectadores que não vêm a hora de acompanhar a trajetória completa de Jesus Cristo. Mas não resisto em dar aqui um spoiler: na sexta temporada ele será crucificado e na sétima, ressuscitará! Se bem que isso não deve ser nenhuma novidade, já que essa história tem sido contada e recontada à exaustão nos últimos dois mil anos!

Resenha crítica da série The Chosen / Os Escolhidos

Ano de produção: 2017
Temporadas lançadas: 3
Episódios lançados: 26
Temporadas previstas
Direção: Dallas Jenkins
Roteiro: Tyler Thompson, Dallas Jenkins e Ryan Swanson
Elenco: Jonathan Roumie, Shahar Isaac, Elizabeth Tabish, Paras Patel, Noah James, Janis Dardaris, Lara Silva, Shaan Sharma, Nick Shakoour, George H. Xanthis, Shayan Sobhian, Erick Avari, Kian Kavousi, Brandon Potter, Kirk B. R. Woller, Giavani Cairo, Jordan Walker Ross, Abe Martell, Joey Vahedi, Yasmine Al-Bustami, Vanessa Benavente, Yoshi Barrigas, Austin Reed Alleman, Alaa Safi, Luke Dimyan, Ivan Jasso, Amber Shana Williams, Elijah Alexander, Reza Diako

Comentários

  1. Estou amando essa série. Já assisti as 3 temporadas e não vejo a hora de assistir as próximas. Sua crônica está perfeita e "The Chosen" merece essa crítica maravilhosa.👏👏👏👏

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado! Também estou ansioso pelas próximas temporadas.

      Excluir
  2. Por coincidência, vi há pouco um vídeo de divulgação dessa série, pela Brasil Paralelo, e corri pra confirmar, mas ainda não entrou nessa plataforma. Vou tentar de novo, mais tarde.

    ResponderExcluir
  3. Ah, sim! A série estreia hoje à noite na Brasil Paralelo. Como estava ansioso para assistir, fui na Netflix. Mas há outros streaming disponibilizando a série. Inclusive na Internet é possível encontrá-la gratuitamente, por meio de um aplicativo disponibilizados pelos produtores.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Siga a Crônica de Cinema