Shakespeare Apaixonado: divertido, envolvente e romântico!

Cena do filme Shakespeare Apaixonado
Shakespeare Apaixonado: Filme de John Madden

O TEATRO SEMPRE FOI MOVIDO PELA PAIXÃO

Todo mundo é fã de William Shakespeare. Aqui no Brasil seu nome anda de braços dados aos de Romeu e Julieta. Ser ou não ser... Há mais mistérios entre o céu e a terra... Sonhos de uma noite de verão... Hamlet... Espere aí, fui longe demais! Talvez Shakespeare não seja tão popular por aqui; muitos brasileiros ainda nutrem por ele alguma implicância, depois que Gwyneth Paltrow desbancou Fernanda Montenegro ao faturar o Óscar de melhor atriz por Shakespeare Apaixonado, filme de 1998 dirigido por John Madden. Parece tolice, mas depois de tantos anos, alguns ainda torcem o nariz para este filme. Pois há vários motivos para rever tal posição.
        O primeiro deles é o próprio Willian Shakespeare, um dos maiores escritores de todos os tempos. Imaginativo, intelectualmente prolífico e dono de uma potência poética incomum, ele soube voltar seus dons para a arte de desvendar as emoções humanas e entender as dinâmicas dos nossos conflitos. Hábil com as palavras, conseguiu construir personagens verdadeiros e metê-los em situações universalmente reconhecíveis, para expressar as angústias e as paixões que nos tornam indivíduos; e fez isso sem priorizar a palavra impressa! Preferiu tirar proveito da força envolvente da encenação, ao fornecer munição para que atores viessem somar qualidades artísticas às suas criações memoráveis. Conquistou outros países e perdurou por eras!
        Shakespeare viveu numa época em que o seu idioma experimentava uma franca evolução – na gramática, no léxico e na ortografia –, impulsionada pela disseminação em escala do livro impresso. Suas contribuições para a linguagem foram cruciais, já que suas peças ganharam em popularidade, enquanto atendiam aos requisitos intelectuais do público mais exigente. O dramaturgo inglês se envolveu desde cedo com o teatro e participou dele como um empreendedor em busca de lucro; assimilou em profundidade todos os truques e práticas da arte da encenação e sempre se preocupou com as reações da plateia, para moldar seu texto com afinco.
        Ainda que nos tenha legado uma produção profícua em todos os gêneros, foi na comédia que Shakespeare alcançou sucesso imediato. Inspirado e inovador, criou aquilo que hoje conhecemos como comédia romântica, um subgênero gestado em peças como Muito Barulho Por Nada e Sonho de Uma Noite de Verão, onde eternizou os clichês que há mais de quatro séculos arrancam risos e suspiros do público. A oportunidade de ver o próprio Willian Shakespeare como protagonista em uma comédia romântica, portanto, tornou-se outro excelente motivo para assistir a Shakespeare Apaixonado; especialmente para os que respeitam e reverenciam suas contribuições como escritor e dramaturgo. Antes de seguir em frente, vejamos a sinopse:
        Na Londres de 1593, William Shakespeare (Joseph Fiennes) é um ator no teatro Lord Chamberlain's Men, enquanto tenta escrever uma peça romântica que terminará como uma tragédia. O problema é que ele passa por um sério bloqueio criativo e está em busca de inspiração. É quando Lady Viola de Lesseps (Gwyneth Paltrow), filha de um rico comerciante, aparece disfarçada de homem; usa o nome de Thomas Kent para concorrer a uma vaga no elenco do teatro – mulheres eram proibidas de atuar! É claro que Shakespeare e Viola vão se apaixonar. Ele encontrará inspiração e escreverá sua nova peça com o título de Romeo e Julieta; Viola, no entanto, está prometida em casamento para Lord Wessex (Colin Firth) e será objeto de um litígio num julgamento presidido pela própria Rainha Elizabeth I (Judi Dench). As confusões que se sucedem em nome do amor são dignas de uma peça de... Shakespeare.
        Shakespeare Apaixonado nasceu no final dos anos 1980, na cabeça do roteirista Marc Norman. Ele percebeu a oportunidade de tirar o escritor das aulas de literatura e retratá-lo como uma pessoa real, preocupado com questões mundanas e assolado com as angústias da atividade criativa. O fez se apaixonar por uma Viola aristocrata e inspiradora, mas tratou de envolve-la em segredos e complicações em série. Em 1991 a Universal comprou seu roteiro original e contratou o roteirista e dramaturgo Tom Stoppard para gerar um novo tratamento. Stoppard, que também escrevera o roteiro de Brazil – O Filme, percebeu a alma de comédia romântica presente na história. Adicionou algumas subtramas e temperou as linhas de diálogo com generosas pitadas de humor.
        O início da produção estava programado para 1992. O filme seria dirigido por Edward Zwick e estrelado por Julia Roberts e Daniel Day-Lewis, mas o projeto não vingou. Em 1996 a Miramax adquiriu os direitos e iniciou a produção, mas a direção ficou a cargo do inglês John Madden. Os protagonistas seriam agora interpretados pelos novatos Gwyneth Paltrow e Joseph Fiennes, mas cercados por atores tarimbados, como Geoffrey Rush, Ben Affleck, Rupert Everett, Colin Firth e Judi Dench.
        O diretor John Madden, mais recentemente lembrado por dirigir O Exótico Hotel Marigold, trouxe para o filme sua vasta experiência no teatro, cinema, televisão e rádio. Em Shakespeare Apaixonado ele mais uma vez lida com uma história clássica, claramente shakespeariana, no tom de comédia, no ritmo envolvente e amalucado, nas incontáveis referências ao teatro e à literatura... E vejam só, a peça que hoje conhecemos como Romeu e Julieta, por pouco não seria batizada de Romeu e Ethel, a filha do pirata! E a atriz que interpreta Julieta é de fato uma mulher, mas teve que se passar por um homem para conquistar a vaga de ator, para só então conseguir o direito de interpretar... uma mulher!
        John Madden nos lembra que Willian Shakespeare, quem diria, já foi um aspirante ao estrelato, que viveu o teatro como uma vocação, mas também como um negócio, ao mesmo tempo em precisava lidar com suas paixões carnais. O diretor abre espaço para nos mostrar como era o mundo do teatro há 400 anos – não tão diferente de como é hoje, quando precisa lidar com prazos, orçamentos, seleção de elenco, escrita dos roteiros... E se esbalda nas cenas de duelos, bailes, correrias e confusões, encadeadas por um texto elegante e espirituoso. De tão divertido e envolvente, Shakespeare Apaixonado venceu nada menos do que sete estatuetas na festa do Óscar: melhor filme, melhor atriz, melhor atriz coadjuvante, melhor roteiro original, melhor trilha sonora original, melhor direção de arte e melhor figurino. É um ótimo filme!
        Só quem não achou graça nenhuma foram alguns brasileiros, que ficaram danados da vida quando a novata Gwyneth Paltrow pôs a mão no Óscar. Mas isso já é outra história!

Resenha crítica do filme Shakespeare Apaixonado

Título original: Shakespeare in Love
Título em Portugal: A Paixão de Shakespeare
Ano de produção: 1998
Direção: John Madden
Roteiro: Marc Norman e Tom Stoppard
Elenco: Joseph Fiennes, Gwyneth Paltrow, Geoffrey Rush, Colin Firth, Ben Affleck, Judi Dench, Simon Callow, Jim Carter, Martin Clunes, Antony Sher, Imelda Staunton, Tom Wilkinson, Mark Williams, Daniel Brocklebank, Nicholas Le Prevost, Jill Baker, Patrick Barlow, Joe Roberts, Rupert Everett, John Inman, Sandra Reinton e Paul Bigley

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