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O Artista: um filme mudo, eloquente e emocionante

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O Artista: direção de Michel Harzanavivius CINEMA NUM FORMATO HÁ MUITO ABANDONADO O Artista , dirigido em 2011 por Michel Hazanavicius, é um filme mudo; tem formato de tela mais estreito e é inteiro em preto-e-branco. Ou seja, é um filme como aqueles feitos até o final dos anos 1920. Um cinéfilo distraído talvez não se dê conta de que se trata de um produto do século XXI; o ritmo, os enquadramentos, a iluminação, a performance dos atores... Tudo parece genuíno, até que começamos a reconhecer alguns atores e atrizes frequentadores de filmes mais modernos. A grande pergunta que fica, então, é: por que raios alguém gastaria seu tempo realizando um filme... mudo?           Quando dei o play em O Artista , já imaginava a resposta: seria por puro experimentalismo. Esperei ansioso pelo momento em que tudo viraria um divertido exercício de metalinguagem, com tiradas inteligentes e divertidas sobre o próprio fazer cinematográfico e sobre a evolução técnica que nos t...

O Infiltrado: remake hollywoodiano de um filme francês

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O Infiltrado: direção de Guy Ritchie UM HOMEM FURIOSO E ENVOLTO EM MISTÉRIOS Realizar um filme de ação é como preparar uma pizza. Antes que você engasgue com a arrogância da minha afirmação, deixe-me desenvolver essa metáfora gastronômica. Um pizzaiolo cuida de preparar a massa conforme a tradição, para mantê-la saborosa, crocante e com a textura que todos conhecemos; depois, usa um molho com personalidade e aplica um bom muçarela. Por fim, usa a criatividade para cobrir sua obra com as mais inusitadas combinações de ingredientes, a gosto do freguês. Mas há limites: extravagâncias descaracterizam o produto. Para não servir uma gororoba que apenas vagamente lembre uma pizza, o pizzaiolo sensato tem que se ater ao... arquétipo da pizza. Usar apenas ingredientes consagrados.           O diretor de um filme de ação segue a mesma receita. Pega um mote envolvente, concentra-se na essência do protagonista e destaca os elementos dramáticos que desencadeiam a ação. ...

Shakespeare Apaixonado: divertido, envolvente e romântico!

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Shakespeare Apaixonado: Filme de John Madden O TEATRO SEMPRE FOI MOVIDO PELA PAIXÃO Todo mundo é fã de William Shakespeare. Aqui no Brasil seu nome anda de braços dados aos de Romeu e Julieta. Ser ou não ser... Há mais mistérios entre o céu e a terra... Sonhos de uma noite de verão... Hamlet... Espere aí, fui longe demais! Talvez Shakespeare não seja tão popular por aqui; muitos brasileiros ainda nutrem por ele alguma implicância, depois que Gwyneth Paltrow desbancou Fernanda Montenegro ao faturar o Óscar de melhor atriz por Shakespeare Apaixonado , filme de 1998 dirigido por John Madden. Parece tolice, mas depois de tantos anos, alguns ainda torcem o nariz para este filme. Pois há vários motivos para rever tal posição.           O primeiro deles é o próprio Willian Shakespeare, um dos maiores escritores de todos os tempos. Imaginativo, intelectualmente prolífico e dono de uma potência poética incomum, ele soube voltar seus dons para a arte de desvendar as ...

Brazil – O Filme: uma distopia inspirada em George Orwell

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Brazil - O Filme: direção de Terry Gillian QUANDO MONTY PYTHON ENCONTRA GEORGE ORWELL No Brasil do começo dos anos 1980, o humor anárquico do grupo inglês Monty Python não era popular; poucos tiveram a oportunidade de assistir no cinema ao filme Monty Python em Busca do Cálice Sagrado . Com o advento dos videocassetes, as fitas com os programas de TV da trupe britânica apareceram nas locadoras e ajudaram a atrair espectadores para as salas de exibição, para ver os filmes A Vida de Brian e Monty Python – O Sentido da Vida . Na época, poucos enxergaram a conexão entre esses títulos e Brasil – O Filme , dirigido em 1985 por Terry Gillian – aliás, uma conexão sutil e se a menciono aqui, é apenas para criar um efeito narrativo.           Acontece que Terry Gillian, o diretor, foi um dos integrantes dos Monty Python – o único americano do grupo. Como cartunista, contribuiu com as animações que permeiam os filmes da trupe, além de ter colaborado nos roteiros e na...

O Último Duelo: uma superprodução ousada

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O Último Duelo: direção de Ridley Scott UM DRAMA, TRÊS PONTOS DE VISTA O Último Duelo , dirigido por Ridley Scott em 2021, é uma prova de que a sétima arte já não é mais a mesma. O filme tem DNA de cinemão e consumiu um orçamento polpudo, mas amargou um retumbante fracasso nas bilheterias – não arrecadou 20% do que os investidores aportaram. É um filme ruim? Longe disso! É cinema de primeira, bem realizado, com ótimas atuações e uma história envolvente. Mas o público não se dispôs a visitá-lo nas salas de exibição. Parece que, ultimamente, está mais cômodo ficar em casa e consumir as ofertas do streaming.           Produções caras viraram artigos exclusivos para poucos cineastas – os Nolans, Camerons e Villeneuves da vida – ou restritos a temáticas infantilizadas – Godzillas, Coringas, Wolverines e Deadpools... Ousadias como O Último Duelo terão que se contentar com orçamentos modestos. O fracasso financeiro do filme é algo a se lamentar, pois arrefece o í...

Jurado Nº 2: os dilemas de se fazer justiça

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Jurado No 2: direção de Clint Eastwood UM PROFUNDO RESPEITO AO DEBATE Aos 93 anos, Clint Eastwood resolve rodar um novo filme. Os cinéfilos que acompanham sua carreira esfregam as mãos, ansiosos. Conferir a proeza, que o diretor realiza com invejável lucidez, é uma reverência obrigatória. Entretanto, Jurado Nº 2 , lançado em 2024, é mais do que uma curiosidade ou um produto do oportunismo comercial. É cinema pulsante, envolvente e repleto de conteúdo para ser degustado com prazer e, sim, reverência.           Vamos direto ao ponto: Jurado Nº 2 é um drama de tribunal, confinado no espaço mental em torno de um julgamento, onde o aparato do sistema judiciário é posto à prova em sua capacidade de fazer justiça. O cinéfilo atento já deve ter remontado ao clássico 12 Homens e Uma Sentença , dirigido em 1957 por Sidney Lumet. Lá, os jurados tentam decidir o destino de um jovem acusado de assassinar o próprio pai. Onze deles o consideram culpado, mas um tem dúvida...

Zona de Risco: tiros, drones e tecnologia da comunicação

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Zona de Risco: direção de Willian Eubank UM VISLUMBRE DA MODERNA GUERRA DE DRONES Quem aprecia um bom filme de ação, já não cai mais nesse tipo de armadilha: colocam na capa, com destaque, o nome de um ator hollywoodiano consagrado no gênero – um com idade avançada – e capricham na foto. Depois de dar o play, você descobre que o tal astro faz apenas uma ponta insignificante, sem qualquer relevância para o conteúdo dramático do filme. Cabe ao restante do elenco, composto por novatos inexpressivos, a tarefa de prender a atenção do espectador. Geralmente não conseguem, porque o roteiro é mal costurado, as linhas de diálogo são óbvias e a trama vem ancorada apenas nas cenas de ação, repletas de clichês.           – Puxa vida! Como é que um ator com tão boa reputação veio parar num filme B? – você se pergunta, sem vontade de ouvir a resposta.           Confesso que quando me deparei no serviço de streaming com o filme Zona de Risco ...

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