7 Dias em Entebbe: a história real de um resgate bem-sucedido

Cena do filme 7 Dias em Entebbe
7 Dias em Entebbe: filme dirigido por José Padilha

DECISÕES TOMADAS POR GENTE DE CARNE E OSSO

Quando era adolescente, volta e meia via o terrorismo entrar na sala de estar, para atormentar nossa vida em família. Chegava pela porta do noticiário, assustando com imagens repletas de tensão e carimbadas como reais. Ao contrário das cenas de ficção, meticulosamente recriadas em estúdio, essas eram borradas, em baixa definição e trêmulas de tanto nervosismo. O episódio do sequestro do voo 139 da Air France, que ia de Paris para Tel Aviv, mas acabou desviado para Uganda, foi um desses eventos que marcou aquele ano de 1976. Lembro que havia, pairando ao redor dessa história, uma certa atmosfera de modernidade: o mundo se configurava como uma aldeia global, tensa, veloz e em constante transformação, onde as ideias de pequenos grupos políticos eram mais emocionantes do que a rotina dos cidadãos comuns. Todos queriam ser revolucionários!
        Tinha vívidas essas memórias da adolescência quando decidi assistir ao filme 7 Dias em Entebbe, dirigido em 2018 pelo brasileiro José Padilha. Não esperava nada além de tiros, ação desenfreada, suspense e boas doses de polêmica. Outros três filmes 
explorando essa história eletrizante já haviam sido produzidos na década de 1970, todos enaltecendo a espetacular operação militar orquestrada por Israel, para libertar seus cidadãos reféns dos terroristas palestinos. Por que a indústria do cinema precisava revisitar mais uma vez esse tema? Ora, porque foi espetacular! Para minha surpresa, assisti a um filme maduro e sóbrio, feito com a melhor matéria-prima que existe: personagens consistentes. E há muitos deles, de ambos os lados da fronteira ideológica. Vejamos uma sinopse:
        Em 1976, os alemães Wilfried Böse (Daniel Brühl) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike), pertencentes ao grupo terrorista Baader-Meinhof, tramam em conluio com integrantes da Frente Popular de Libertação da Palestina o tal sequestro do voo 139. A ideia é exigir a libertação de 40 prisioneiros palestinos, além de impor outras exigências tão vagas quanto descabidas – que na mente dos destrambelhados irão antecipar a derrocada do capitalismo. O plano é um sucesso e o avião acaba pousando em Entebbe, capital da Uganda, onde é recebido pelo ditador Idi Amin (Nonso Anozie). Rapidamente o governo israelense instala um gabinete de crise. O primeiro-ministro Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi) tende a negociar, mas o secretário de defesa Shimon Peres (Eddie Marsan) vem com ideias mais ousadas. Enquanto os 83 reféns israelenses são separados e mantidos em condições precárias, o mundo acompanha a libertação dos demais reféns, temendo que um massacre termine acontecendo. Mas o final dessa história já é bem conhecido: o exército israelense desembarca em Entebbe, acaba com a raça dos terroristas e resgata os reféns, numa operação ousada, criativa e executada com precisão cirúrgica.
        O roteiro de 7 Dias em Entebbe foi escrito pelo dramaturgo escocês Gregory Burke, que se baseou no livro do historiador britânico Saul David, intitulado Operation Thunderbolt: Flight 139 and the Raid on Entebbe Airport. Burke focalizou seu roteiro muito mais nos personagens e na trama política do que na ação propriamente dita. Foi o que atraiu José Padilha para o projeto. O diretor percebeu a oportunidade de contar essa história para além da perspectiva militar, encontrando o tom certo para explorar a dimensão psicológica de todos os envolvidos. Contou com a consultoria de militares, reféns, funcionários da companhia aérea e testemunhas do episódio, desenhando um painel convincente da intensa carga emocional que o marcou.
        Em 7 Dias em Entebbe, José Padilha prefere nos lembrar que há pessoas de carne e osso por trás de cada decisão e de cada ato político. Esforçou-se para transformar o drama dos envolvidos num autêntico thriller. Para contar esse novo ponto de vista, tratou de ser fiel aos fatos. Construiu um terminal de aeroporto funcional, similar ao verdadeiro, coreografou a ação do jeito exato como aconteceu e recrutou um elenco competente. Recrutou também alguns brasileiros: Lula Carvalho como diretor de fotografia, 
Rodrigo Amarante, do grupo Los Hermanos, para conduzir a trilha sonora e Daniel Rezende para fazer a montagem – Rezende, além do ótimo trabalho nos dois Tropa de Elite, também dirigiu o excelente Bingo - O Rei das Manhãs.
        Para contar o que aconteceu naqueles 7 Dias em Entebbe, Padilha pontuou sua narrativa com cenas hipnóticas de um belo número de dança, executado pela companhia Batsheva. Trata-se de um balé criado por israelenses, como crítica ao seu país. Os dançarinos, sentados em cadeiras dispostas em círculo, começam vestidos com roupas que caracterizam os judeus ortodoxos. Eles vão se despindo, num gesto que simboliza o abandono das ortodoxias, mas há os que se recusam e vão caindo das suas cadeiras, representando o impasse na busca pela paz no oriente médio. Com coreografia de Ohad Narahin, essa dança ofereceu um ótimo contraponto à tensão das operações militares, trazendo um elemento novo, que ainda não havia visto nos filmes de José Padilha: sensibilidade artística.

Resenha crítica do filme 7 Dias em Entebbe

Data de produção: 2018
Direção: José Padilha
Roteiro: Gregory Burke
Elenco: Rosamund Pike, Daniel Brühl, Vincent Cassel, Eddie Marsan e Ben Schnetzer

Comentários

Confira também:

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema