Ela: o amor na era digital

Ela: filme estrelado por Joaquin Phoenix
A CARA DA SEGUNDA DÉCADA DO SÉCULO XXI
As inquietações e dificuldades dos jovens em relação ao amor e aos relacionamentos, sempre foram vetores da literatura. Talvez seja esse o tema mais recorrente entre todos os romances já escritos e que ainda serão criados. No cinema não é diferente. Alternam-se os panos de fundo, mas em primeiro plano, lá está o amor e seus emaranhados a ocupar o centro da tela. O filme Ela, escrito e dirigido em 2013 por Spike Jonze, também visita o tema e o desenvolve em passagens de sátira, humor e romance, mas o ressalta em tons de melancolia. É que o caso de amor do protagonista é com a inteligência artificial do seu computador! O longa, portanto, parece conversar com os jovens millennials – a geração que engloba os nascidos entre 1985 e 1999 – conhecidos por enfrentar dificuldades para construir relacionamentos românticos sólidos. Apesar de se passar no futuro não muito distante, Ela reflete a mentalidade da segunda década do século XXI.
Quando os millennials vieram ao mundo, encontraram em andamento uma verdadeira revolução no âmbito da comunicação. Tiveram suas vidas pessoais e profissionais mediadas por aparatos tecnológicos impensáveis para seus pais e foram impulsionados em alta velocidade na direção da urgência e da mudança permanente. Para eles, a ideia de contar com uma inteligência artificial a mediar suas interações com a realidade não é absurda. Apenas os torna mais rápidos, abrangentes e eficazes. Mais produtivos em casa, na escola, no trabalho e no trânsito, encontraram tempo para a diversão e para se preocupar com a questão do... amor!
Já para os que vieram antes dos millennials, essa questão é mais simples: por mais que uma entidade digital manifeste inteligência, ela não tem alma – aquela que nos define como humanos. Como tais, possuímos uma terceira dimensão para além da racionalidade e do emocional: a dimensão espiritual. A ideia de nos apaixonarmos por uma entidade inumana é incômoda e enseja uma discussão embasada por séculos e séculos de filosofia. O policial Rick Deckard experimentou esse desconforto em Blade Runner - O Caçador de Androides, quando se apaixonou pela replicante Rachael. Ao menos ela tinha um corpo físico – e sedutor – que tornava a relação mais... palpável. Já o protagonista de Ela tem muito menos no que se... agarrar! Antes de continuar especulando, é melhor conferir a sinopse do filme:
Em Ela, Theodore (Joaquim Phoenix) é um escritor atormentado e deprimido. Trabalha para uma empresa especializada em escrever cartas pessoais para gente que não consegue escrever cartas pessoais. Incomodado com a iminência do divórcio, ele instala no seu computador um novo sistema operacional – uma inteligência artificial programada para evoluir emocionalmente e aprender com o usuário. Acontece que a I.A. se chama Samantha e tem a voz rouca e sussurrada da deusa Scarlett Johanssonn. Theodore se apaixona perdidamente, mas isso não acontece em poucos cliques. Como todo relacionamento romântico, exige um bom tempo de convívio para crescer.
No começo, Theodore se sente desconfortável com o novo... namoro, mas descobre que sua amiga Amy (Amy Adams) também mantém um relacionamento amoroso com o sistema operacional que encontrou no computador do seu ex-marido. Decidido a arriscar, ele se coloca no modo apaixonado. Samantha não passa de uma entidade digital inteligente, que existe num plano intocável da realidade, mas tem personalidade e poder de sedução suficientes para tirar o sujeito do sério. Vulnerável e carente, ele passa a viver todas as fases de um relacionamento amoroso. Deixa-se levar pelo romantismo até mergulhar num mar de decepções e incertezas.
Ela é ambientado e conduzido como um filme de ficção científica, mas é uma comédia dramática com pitadas exageradas de romantismo. Fala da confusão entre o real e o virtual que aos poucos toma conta do homem contemporâneo. Reflete as novas dificuldades que a tecnologia trouxe para o âmbito dos nossos relacionamentos e desperta emoções diferentes em cada espectador – alguns consideram o filme triste e melancólico, outros saem do cinema inspirados e esperançosos. No final das contas, é isso mesmo: uma obra sobre as inquietações e dificuldades dos jovens em relação ao amor e aos relacionamentos.
O cinema de Spike Jonze é impulsivo e intuitivo. Não parece seguir um método criativo específico e busca a colaboração com os atores e profissionais envolvidos na realização. O diretor moldou seu estilo colorido e salpicado de melancolia no mundo dos videoclipes, trabalhando para artistas como Bjork, The Beastie Boys e REM. Seus outros filmes – entre eles Quero ser John Malkovich e Adaptação – refletem essa inquietude vibrante e uma obsessão pela linguagem audiovisual editada à exaustão. Ao escrever Ela, Spike Jonze criou um universo instigante, que lhe valeu o Óscar de melhor roteiro original.
Quando os millennials vieram ao mundo, encontraram em andamento uma verdadeira revolução no âmbito da comunicação. Tiveram suas vidas pessoais e profissionais mediadas por aparatos tecnológicos impensáveis para seus pais e foram impulsionados em alta velocidade na direção da urgência e da mudança permanente. Para eles, a ideia de contar com uma inteligência artificial a mediar suas interações com a realidade não é absurda. Apenas os torna mais rápidos, abrangentes e eficazes. Mais produtivos em casa, na escola, no trabalho e no trânsito, encontraram tempo para a diversão e para se preocupar com a questão do... amor!
Já para os que vieram antes dos millennials, essa questão é mais simples: por mais que uma entidade digital manifeste inteligência, ela não tem alma – aquela que nos define como humanos. Como tais, possuímos uma terceira dimensão para além da racionalidade e do emocional: a dimensão espiritual. A ideia de nos apaixonarmos por uma entidade inumana é incômoda e enseja uma discussão embasada por séculos e séculos de filosofia. O policial Rick Deckard experimentou esse desconforto em Blade Runner - O Caçador de Androides, quando se apaixonou pela replicante Rachael. Ao menos ela tinha um corpo físico – e sedutor – que tornava a relação mais... palpável. Já o protagonista de Ela tem muito menos no que se... agarrar! Antes de continuar especulando, é melhor conferir a sinopse do filme:
Em Ela, Theodore (Joaquim Phoenix) é um escritor atormentado e deprimido. Trabalha para uma empresa especializada em escrever cartas pessoais para gente que não consegue escrever cartas pessoais. Incomodado com a iminência do divórcio, ele instala no seu computador um novo sistema operacional – uma inteligência artificial programada para evoluir emocionalmente e aprender com o usuário. Acontece que a I.A. se chama Samantha e tem a voz rouca e sussurrada da deusa Scarlett Johanssonn. Theodore se apaixona perdidamente, mas isso não acontece em poucos cliques. Como todo relacionamento romântico, exige um bom tempo de convívio para crescer.
No começo, Theodore se sente desconfortável com o novo... namoro, mas descobre que sua amiga Amy (Amy Adams) também mantém um relacionamento amoroso com o sistema operacional que encontrou no computador do seu ex-marido. Decidido a arriscar, ele se coloca no modo apaixonado. Samantha não passa de uma entidade digital inteligente, que existe num plano intocável da realidade, mas tem personalidade e poder de sedução suficientes para tirar o sujeito do sério. Vulnerável e carente, ele passa a viver todas as fases de um relacionamento amoroso. Deixa-se levar pelo romantismo até mergulhar num mar de decepções e incertezas.
Ela é ambientado e conduzido como um filme de ficção científica, mas é uma comédia dramática com pitadas exageradas de romantismo. Fala da confusão entre o real e o virtual que aos poucos toma conta do homem contemporâneo. Reflete as novas dificuldades que a tecnologia trouxe para o âmbito dos nossos relacionamentos e desperta emoções diferentes em cada espectador – alguns consideram o filme triste e melancólico, outros saem do cinema inspirados e esperançosos. No final das contas, é isso mesmo: uma obra sobre as inquietações e dificuldades dos jovens em relação ao amor e aos relacionamentos.
O cinema de Spike Jonze é impulsivo e intuitivo. Não parece seguir um método criativo específico e busca a colaboração com os atores e profissionais envolvidos na realização. O diretor moldou seu estilo colorido e salpicado de melancolia no mundo dos videoclipes, trabalhando para artistas como Bjork, The Beastie Boys e REM. Seus outros filmes – entre eles Quero ser John Malkovich e Adaptação – refletem essa inquietude vibrante e uma obsessão pela linguagem audiovisual editada à exaustão. Ao escrever Ela, Spike Jonze criou um universo instigante, que lhe valeu o Óscar de melhor roteiro original.
Para finalizar, quero lembrar que contemporaneidade é um atributo ligado ao cinema, não aos filmes. O cinema incorpora tecnologias, processos e facilidades que o aproximam da atualidade. Já os filmes refletem sua época. Quando feitos com arte, têm maior prazo de validade. Porém, cedo ou tarde envelhecem, sujeitos ao julgamento do tempo. Assim como as obras literárias. Esse é um filme para ser degustado enquanto é tempo!
Resenha crítica do filme Ela
Título original: Her
Título em Portugal: Uma História de Amor
Data de produção: 2013
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Rooney Mara, Olivia Wilde, Scarlett Johansson, Chris Pratt, Matt Letscher, Sam Jaeger, Luka Jones, Kristen Wiig, Bill Hader, Spike Jonze, Portia Doubleday, Soko e Brian Cox
5G , 6G , AI ,mais velocidade de conexão, para nos manter conectados...afastados...Mundo real , mundo virtual , talvez se possa escolher em qual viver , quanto de cada mundo e quando.
ResponderExcluirSim, Paula Garrido, e ainda assim, com tudo isso, as questões envolvendo amor e relacionamento continuarão centrais na vida do ser humano. Nossas emoções e as emoções que projetamos sobre os outros - ou sobre as máquinas!
ExcluirEu entendo perfeitamente o Theodore, ele se apaixonou pelo amor. Ele criou uma fantasia em cima de uma voz digital. Mas não é isso que muitas vezes fazemos? Com sede de amar, amando o amor, criamos uma fantasia por uma pessoa real. A pessoa existe, mas todos aqueles atributos que nos fizeram amá-la estão apenas na nossa fantasia.
ResponderExcluirNelson Rodrigues tinha uma coluna em um jornal, onde respondia através de um pseudônimo, consultas amorosas. Uma mulher queria saber por que amava mais o marido, namorado, não lembro, quando ele estava longe. Nelson respondeu que era simples: porque quando ele estava longe, ela podia idealizá-lo, ele correspondia ao seu ideal de amor. Mas quando perto, ela constatava que não era bem assim.
Ah, esse é o puro amor platônico, Cecília! Viva o romantismo e os românticos!!!!
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