À Espera de Um Milagre: mistério, fantasia e... esperança!

Cena do filme À Espera de Um Milagre
À Espera de Um Milagre: filme de Frank Darabont

HÁ SERES HUMANOS VAGANDO PELO CORREDOR DA MORTE!

Para nós, brasileiros, o corredor da morte não passa de uma invencionice dos americanos. Por aqui, não temos pena morte. Não temos nem prisão perpétua! Quantos anos cumpre, de verdade, um criminoso hediondo nas prisões brasileiras? Vinte, trinta anos? Matou a própria mãe? Esquartejou o marido? Torturou a namorada?... Se inspirar bom comportamento, ganha progressão da pena – não seria mais lógico chamar de regressão da pena, pois é ela quem vai se apequenando enquanto o criminoso se alivia do castigo?
        Para tais perguntas retóricas, já sabemos as respostas: o sistema de justiça no Brasil está mais interessado em demonstrar complacência para com os criminosos. A prioridade não é reparar os danos às vítimas e aos seus familiares, mas recuperar os malfeitores e devolvê-los o quanto antes ao convívio da sociedade – essa sim, o grande monstro que merece arcar com toda a culpa. Porém, como temos visto, tal recuperação não acontece. O dinheiro público é gasto com os criminosos, a pretexto de que tenham a oportunidade de deixar de ser rotulados como tal. Reparações? Punições? Castigos? Indenizações? As vítimas não têm a menor chance. Indignadas, só lhes resta espumar de raiva diante das audiências de custódia, das saidinhas durante os feriados, dos indultos natalinos...
        Já os americanos não conhecem essa justiça pelo avesso. Lá, a pena de morte é uma instituição. E funciona, ainda que sujeita a imperfeições. Nós, cinéfilos, já pudemos testemunhar os dramas e tensões que vagam pelo corredor da morte, por meio de vários filmes. Um dos mais emocionantes é certamente À Espera de Um Milagre, dirigido em 1999 por Frank Darabont. Trata-se da adaptação de um romance escrito por Stephen King, originalmente publicado em seis partes, com o título de O Corredor da Morte – lançado depois em um único volume de 400 páginas, com o mesmo título do filme, para aproveitar a onda de sucesso.
        Contador de histórias fecundo, cuja obra tem mais para oferecer além dos romances de terror, Stephen King soube enxergar os personagens que dividem o espaço no corredor da morte: os condenados, os carcereiros e os carrascos. Gente de carne e osso, que vive dramas pessoais e carrega o peso de um convívio forçado. Mas como sempre, o autor temperou sua narrativa com elementos de mistério e fantasia. Vamos a uma rápida sinopse para orientar quem ainda não conhece a obra:
        À Espera de Um Milagre conta a história de Paul Edgecomb (Tom Hanks), que durante os anos 1920 trabalhou como supervisor no corredor da morte da Penitenciária de Cold Mountain. Naquele ambiente estressante, vive a triste rotina de um carrasco, cuidando das execuções desde os seus preparativos. O clima do lugar muda quando John Coffey (Michael Clarke Duncan), um grandalhão com aparência ameaçadora, mas de índole doce e gentil, ocupa uma das celas à espera da morte. Condenado por assassinato, Coffey transborda inocência, além de um incrível poder de cura sobrenatural que transforma a vida de todos. Guardas deprimidos, prisioneiros em busca de redenção, carcereiros sádicos... Todos se põem à espera do tal milagre que lhes poderá trazer a salvação.
        O diretor Frank Darabont, hoje mais conhecido como o criador da série de televisão The Walking Dead, já havia realizado com enorme sucesso o filme Um Sonho de Liberdade, adaptado de outro livro de Stephen King. Com isso, ganhou carta branca do estúdio para exercitar seu estilo detalhista e compenetrado. Assim, À Espera de Um Milagre ficou com mais de três horas de duração. O filme, porém, segue ágil e envolvente, numa narrativa linear – Paul Edgecomb narra a história em flashback, o que nos deixa na expectativa do desfecho. O próprio Frank Darabont arregaçou as mangas e em apenas dois meses escreveu um roteiro muito fiel ao material original, cobrindo praticamente todos os pontos da trama e seus personagens. Na direção, ele soube preservar a atmosfera que Stephen King insinua nas entrelinhas do seu romance.
        O espectador conhece os personagens, mas não sabe porque estão trancafiados no corredor da morte, nem como aconteceram seus crimes ou em quais circunstância foram presos, julgados e condenados. Seguindo na mesma trilha do romance original, o diretor não perde tempo com cenas expositivas. Tudo o que faz é deixar que o comportamento e as reações de cada um ditem o andamento da trama. Consegue assim extrair densidade dos personagens, ressaltando seus dramas e conflitos internos – ainda que esbarre em alguns estereótipos aqui e ali.
        Quando realizou Um Sonho de Liberdade, Frank Darabont quase levou o Óscar, mas foi ofuscado por Forrest Gump – O Contador de Histórias, filme estrelado por Tom Hanks! Dessa vez, em À Espera de Um Milagre, o diretor conseguiu escalar o ator para o seu time, mas ainda assim continuou sem um Óscar sequer. Bem, isso não tem a menor importância! O que importa é que o filme conseguiu conquistar o engajamento do público, porque traz uma boa história, contada do jeito certo, com personagens verdadeiros e interpretados por um elenco competente e carismático. É cinema de qualidade.

Resenha crítica do filme À Espera de Um Milagre

Data de produção: 1999
Direção: Frank Darabont
Roteiro: Frank Darabont
Elenco: 
Tom Hanks, Dabbs Greer, Michael Clarke Duncan, David Morse, Bonnie Hunt, James Cromwell, Jeffrey DeMunn, Barry Pepper, Michael Jeter, Graham Greene, Doug Hutchison, Sam Rockwell, Patricia Clarkson, Harry Dean Stanton, Bill McKinney, Brent Briscoe, Eve Brent, William Sadler, Paula Malcomson e Gary Sinise

Comentários

  1. Comentário impecável de um filme emocionante!

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    Respostas
    1. Ah, obrigado pelo feedback. É mesmo um filme tocante!

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