Um Sonho de Liberdade: o tema é a redenção!

Cena do filme Um Sonho de Liberdade
Um Sonho de Liberdade: filme dirigido por Frank Darabont

UM FILME DE PRESÍDIO QUE NÃO EXALTA A FAÇANHA DA FUGA

Redenção. Eis a palavra que falta no título em português desse filme. Sua omissão rouba uma boa fatia de significado e nos leva a sentar na poltrona esperando acompanhar a saga de personagens ansiosos por liberdade. E para complicar, em se tratando de um filme sobre a vida num presídio, a palavra liberdade também vem amputada de significados e parece pronunciada apenas como antônimo de cárcere. Mas Um Sonho de Liberdade, filme de 1994 dirigido por Frank Darabont, está longe de ser um filme de presídio feito para exaltar a façanha da fuga. É um filme sobre... redenção!
        Baseado no conto Rita Hayworth and Shawshank Redemption, escrito por Stephen King e publicado no livro Quatro Estações, o filme se tornou uma das mais celebradas produções do cinema e conquistou uma legião de fãs de todas as idades. Seu fracasso nas bilheterias, atribuído à concorrência de Pulp Fiction e Forrest Gump, que arrasaram todos os quarteirões naquele ano, tornou-se lendário. Mas a sua posterior redenção, por meio da presença maciça nas locadoras e nas TVs por assinatura, só aconteceu por um motivo muito simples: o filme é excelente!
        Um Sonho de Liberdade conta a história de Andy Dufresne, interpretado por Tim Robbins, um banqueiro bem-sucedido que vai ocupar ad aeternum uma cela na tal penitenciária de Shawshank. O motivo: foi condenado por assassinar a esposa e o amante depois de flagrá-los. Confinado num ambiente cruel, violento e injusto, ele passará a conviver com agentes penitenciários corruptos e prisioneiros desumanos, que vão tirar tudo dele, exceto a esperança. Lá ele conhecerá Ellis “Red” Redding, vivido por Morgan Freeman, um prisioneiro que cumpre 20 anos de pena e se revela um grande amigo.
        Desde que pôs os pés no presídio, em 1946, Andy nutre o seu sonho de liberdade. Como e quando ele o concretizará, só saberemos no final da história, narrada de modo envolvente por seu amigo Red. Enquanto isso não acontece, vamos sendo apresentados a personagens intensos e marcantes, que impõem sofrimento e dor ao protagonista e criam situações limites que serão transformadoras.
        A adaptação que Frank Darabont escreveu para o cinema é brilhante. Ele soube aproveitar os recursos interpretativos de Morgan Freeman e deu ao personagem Red uma voz envolvente, capaz de nos entreter por mais de duas horas. O texto que ele recita ao longo do filme é, em alguns momentos, descritivo, indo na contramão do que pregam os mestres do roteiro – enquanto a página impressa conta, o roteiro tem que mostrar! Mas esse truque ousado funcionou, trazendo para o filme a narrativa em primeira pessoa que Stephen King preferiu empregar nessa sua história.
        Um elemento que chama a atenção no roteiro de Darabont é a ampliação do personagem Brooks Hatlen, o idoso bibliotecário interpretado por James Whitmore. No livro ele aparece rapidamente em um parágrafo, mas no filme vemos que ele passou a vida na prisão e de repente se vê de volta à sociedade. Décadas de rotina na instituição penitenciária o tornaram inepto para a vida fora das grades – o que o expectador entende como destino plausível que poderá acontecer também com os protagonistas. Com esse recurso narrativo, o roteirista conseguiu expressar conceitos que King pôs apenas em palavras.
       Outra cena acrescentada no filme é a que mostra Andy pondo Mozart para tocar nos autofalantes da prisão. Um recurso típico da linguagem audiovisual que contribuiu para expressar uma gama de emoções, que vão da pura contemplação estética à recuperação da dignidade e da esperança por parte dos prisioneiros.
        Em Um Sonho de Liberdade, Darabont também incluiu cenas de violência gráfica – mortes de personagens que não acontecem no livro – como forma de amarrar a história para as telas, aumentando a sua força dramática e tornando o resultado mais impactante para o espectador, que ao contrário do leitor tem que lidar com campos narrativos mais limitados. Ou seja: o diretor se exercitou na arte do cinema!
        Um Sonho de Liberdade é repleto de momentos emocionantes, vividos por personagens verdadeiros. Gente criminosa, sim, mas que se alimenta de esperança e sonha com a liberdade. Uma liberdade que só se torna plena no momento em que alcançam a redenção. Há muito mais o que dizer sobre o filme, mas isso implicaria em spoilers. Prefiro ficar por aqui.

Resenha crítica do filme Um Sonho de Liberdade

Ano de produção: 1994
Direção: Frank Darabont
Roteiro: Frank Darabont
Elenco: Tim Robbins, Morgan Freeman, Bob Gunton, William Sadler, Clancy Brown, Gil Bellows e James Whitmore

Comentários

  1. Verdade, é um excelente filme, onde a fuga ficou em outro plano não inferior, mas secundário entre tantos fatos .....

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  2. Amo muito ✨👌

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