O Poderoso Chefão: um dos melhores filmes já realizados

Cena do filme O Poderoso Chefão
O Poderoso Chefão: filme dirigido por Francis Ford Coppola

COPPOLA REALIZOU UM MARCO NA HISTÓRIA DO CINEMA

Quantas vezes nós, cinéfilos inveterados, já assistimos e ainda vamos assistir ao filme O Poderoso Chefão? Devo dizer que essa não é mera questão contábil, mas gravitacional: é que a imensa massa formada por personagens carismáticos, atores talentosos, textos irretocáveis, competência narrativa e sensibilidade artística formam um mundo tão denso que atrai o olhar de qualquer um que se interesse pela sétima arte. Foi o que vi acontecer ontem à noite quando, zapeando pelos canais da TV por assinatura, descobri que o filme começaria a ser exibido em poucos minutos. Larguei tudo o que estava fazendo, preparei o balde de pipoca e me acomodei na poltrona.
        O Poderoso Chefão foi lançado em 1972 e se tornou um dos filmes mais aclamados de todos os tempos. Baseado no romance The Godfather, escrito por Mario Puzo e dirigido por Francis Ford Coppola, imortalizou todo seu elenco e pavimentou o caminho seguido por todas as produções que falam a respeito da Máfia. Da contratação do diretor, passando pela formação do elenco até as filmagens atribuladas, aconteceram acirradas disputas entre os produtores e realizadores, que viraram motivo de especulação para deleite dos fãs.
        Como sempre, aqui na Crônica de Cinema meu foco de interesse se fecha na maneira como as histórias são contadas e nas lições que podemos extrair do trabalho de cada diretor. E O Poderoso Chefão é uma verdadeira aula de cinema! Para começo de conversa, precisamos levar em conta alguns fatos relevantes: quando começaram a rodar o filme, o livro fora lançado poucos meses antes e já era um estrondoso sucesso de vendas. Havia, portanto, grande expectativa por parte do público. Além disso, famílias mafiosas não eram comuns no cinema – no máximo eram produzidos alguns filmes sobre gângsters.
        Vemos que a tarefa abraçada por Coppola foi árdua. Com base no roteiro inicial de Mario Puzo, ele precisou construir o mundo da máfia que deveria entrar para o imaginário do público. Acontece que nem mesmo Puzo conhecia de verdade os meandros da máfia – ele escreveu seu livro baseado em pesquisas e na própria imaginação. Coppola, que tinha ascendência italiana e fora contratado por esse motivo, cortou a maioria das tramas paralelas do livro. Decidiu focar na história clássica do pai poderoso e seus três filhos.
        Don Corleone precisa encontrar um sucessor. Tem um filho durão e explosivo, um outro que vive atordoado e um caçula herói de guerra, que gostaria de ver trilhando caminhos mais... honestos. Quando se ateve a esse enredo, Coppola concentrou a força dramática do seu filme e ganhou em objetividade.
        Outra decisão crucial de Coppola foi a de realizar um filme de época. No roteiro original, a história era ambientada na mesma época na qual seria filmada – o que reduziria bastante os custos de produção, já que não seria preciso investir em figurinos, cenários e locações. Depois de muitas disputas, o diretor venceu e trouxe a história para os anos 40 e 50. Isso deu ao O Poderoso Chefão uma dimensão histórica que remeteu à forte presença da máfia italiana na vida dos americanos.
        Coppola, ao abrir seu filme com a fala de um mafioso pedindo favores a Don Corleone, nos mostra que seu imenso poder foi conquistado por meio do exercício da violência. É ele quem decide quanta dor será imposta aos inimigos e quantas benesses caberão aos apadrinhados. Em contraste, na cena seguinte assistimos a uma alegre festa de casamento, com todos os elementos que compõem o universo de uma família rica e tradicional: crianças, tios e tias, amigos e convidados... todos celebrando, com muita música, comida e bebidas, as tradições e os valores familiares. Coppola nos faz assumir o ponto de vista da nova namorada de Michael Corleone, enquanto o filho mais novo vai apresentando sua família poderosa, que se relaciona com gente rica, políticos e celebridades.
        Quando a festa termina, o roteiro de O Poderoso Chefão já nos pôs íntimos da família Corleone, sua dinâmica patriarcal e sua predisposição em cometer crimes para mantê-la em funcionamento. A partir daí seguimos acompanhando o ponto de vista da família mafiosa, surpresos com acontecimentos violentos que culminarão no atentado a Don Corleone. Chegamos ao ponto de virada da história.
        Coppola então nos remete à questão da sucessão e aos eventos mortais que ela ensejará. Estamos agora enxergando as cenas com os olhos de Michael Corleone, o filho que almejava se distanciar da violência, mas acaba engolido por ela em nome da defesa dos interesses da família. Por fim, depois de uma série de ações e reações, algumas passionais e outras de uma frieza perturbadora, o diretor mais uma vez nos coloca sob o ponto de vista de Kay, que já não é namorada, mas sim esposa e mãe dos filhos de Michael Corleone. Na cena final, junto com ela nos damos conta de que a escalada de mortes e violência está longe de terminar.
        O mérito do roteiro de Coppola está justamente nessa capacidade de oferecer ao público o melhor ponto de vista para acompanhar uma história. Cada cena é vista pelo espectador através dos olhos de um personagem envolvido na ação. É isso que torna a trama tão vívida, tão plausível e emocionalmente impactante.
        Quanto talento demonstrou esse diretor que, durante a realização de O Poderoso Chefão, tinha apenas 30 anos!

Resenha crítica do filme O Poderoso Chefão

Ano de produção: 1972
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo e Francis Ford Coppola
Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Richard Castellano, Robert Duvall, Sterling Hayden, John Marley, Richard Conte e Diane Keaton

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Comentários

  1. Magnífico
    Não canso de rever, sempre as interpretações poderosas dos atores. Somente uma crítica : resumiu bastante certos detalhes do livro, mas Puzo estava lá assinando o roteiro com coppola. Depois do falecimento do goodfather, o ritmo perdeu passo, isso é notado. De resto, perfeito.

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  2. O melhor filme de todos os tempos. Já assisti 18 vezes e não me canso. Intenso e majestoso.

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