A Escolha de Sofia: diante de um dilema devastador

Cena do filme A Escolha de Sofia
A Escolha de Sofia: filme dirigido por Alan J. Pakula

UM CLÁSSICO COM DENSIDADE DRAMÁTICA ESMAGADORA

Que mundo emergiu da Segunda Guerra Mundial? Depois que as bombas cessaram, que os soldados se cansaram, que a paz foi instituída por decreto, quem eram as pessoas que tentavam seguir com suas vidas? Willian Styron tentou nos dar uma ideia em seu livro A Escolha de Sofia, lançado em 1979. O diretor Alan J. Pakula adaptou a obra para o cinema e realizou um clássico, que de tão denso e contundente, até hoje emociona.
        Pelas lentes de Pakula, A Escolha de Sofia é um filme enclausurado, confinado a uma linguagem teatral e solene. E não poderia ser diferente! Conta a história de Stingo (Peter MacNicol), que em 1947 chega ao Brooklyn perseguindo o sonho de se tornar escritor. Vai morar numa pensão, onde conhece Sofia Zawistowska (Meryl Streep) e seu namorado, Nathan Landau (Kevin Kline); ela, uma sobrevivente do holocausto, que se esforça para parecer meiga e otimista; ele, um judeu destemperado, que se esforça para encontrar o equilíbrio entre seu relacionamento com Sofia e sua profissão de pesquisador.
        Em A Escolha de Sofia, os personagens não são o que parecem. Stingo é um jovem escritor em busca de experiência de vida; quer aproveitar qualquer oportunidade para viver e acumular conteúdo. Sofia, essa sim, tem conteúdo a ser desvendado – e quanto! Nathan vive na fronteira da sanidade e nunca se sabe para que lado penderá. O triângulo amoroso que se forma é incômodo e desastroso.
        Mas é claro que esse filme é sobre Sofia, cuja vida ruiu despedaçada, diante da escolha desumana imposta a ela por um soldado nazista. Os cacos que ela trouxe do campo de concentração para uma América travestida de terra prometida não conseguem se juntar; Stingo bem que tenta, mas aos poucos descobre que o mundo saído da Segunda Guerra Mundial ainda lateja em dor, em desesperança e está longe de encontrar paz. Para um escritor à procura de conteúdo, ele encontrou um universo em ebulição.
        Ao manter a narrativa teatral, Alan J. Pakula, cujo filme mais lembrado é Todos os Homens do Presidente, canalizou toda a energia para o trabalho dos atores. Meryl Streep, que venceu o Óscar de melhor atriz por sua atuação como Sofia, impressionou; lida com diferentes idiomas e sotaques com desenvoltura assustadora. Kevin Kline também se sai muito bem, assim como Peter MacNicol.
        Sim, A Escolha de Sofia é um filme triste e por isso mesmo segue lento – a maioria dos espectadores de hoje dirão que é arrastado. Trata de temas cruciais e tem o peso e a densidade que só encontramos em raros filmes. E termina como começa, num tom singelo e despretensioso, talvez para nos mostrar como é a sensação de ter que reconstruir a vida, ao menos na aparência, depois de ter sido obrigado a fazer uma escolha tão excruciante.

Resenha crítica do filme A Escolha de Sofia

Ano de produção: 1982
Direção: Alan J. Pakula
Roteiro: Alan J. Pakula
Elenco: Meryl Streep, Kevin Kline e Peter MacNicol

Comentários

  1. Ótima crônica. Sim, a escolha a mutilou para sempre.

    ResponderExcluir
  2. Maravilhosa crônica e o filme tb!

    ResponderExcluir
  3. É sempre uma emoção adicional ler as suas crônicas. Através delas posso completar algumas coisas importantes que deixei de perceber nos filmes. Sobre a melhor atriz de cinema que conheço, Meryl Streep, não vou chover no molhado. Obrigado

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, sou eu quem deve agradecer! Valeu por acompanhar a Crônica de Cinema.

      Excluir

Postar um comentário

Confira também:

O Despertar de uma Paixão: ao final, muitas reflexões

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema