A Morte de Stalin: uma sátira sobre a disputa pelo poder

A Morte de Stalin: filme dirigido por Armando Iannucci
UMA COMÉDIA QUE EXALA HUMOR REFINADO E ELEGANTE
Quando examinei a capa no serviço de streaming, fiquei em dúvida: que tipo de filme é esse? Um drama histórico? Uma cinebiografia? Precisei consultar o buscador na internet para entender que se trata de uma comédia, o que aumentou ainda mais minha relutância – sou exigente em relação às comédias e não é qualquer rompante de humor escrachado que me agrada; porém, uma rápida olhada na ficha técnica do filme me convenceu de que A Morte de Stalin, realizado em 2017 por Armando Iannucci, merecia uma chance.
Em primeiro lugar, o diretor tem ótimas credenciais: o escocês tornou-se um expoente da comédia política entre o público americano, por meio da série Veep, que escreveu, produziu e dirigiu para a HBO. Em segundo lugar, o elenco reúne nomes de peso entre os americanos e britânicos. Foi o suficiente para deduzir que o filme poderia trazer boas doses de humor refinado.
Mais do que isso, A Morte de Stalin mostrou-se uma comédia ácida, repleta de humor negro e uma veia satírica que jorra ótimas tiradas; um filme ao qual se assiste empolgado, com atenção nos detalhes. A sinopse é simples: certa noite em 1953, depois de recolher-se aos seus aposentos, o ditador Josef Stalin desaba, vítima de um derrame. Feito moscas, os membros do comitê geral do partido imediatamente adentram ao local e dão início à corrida pelo poder. Lavrentiy Beria (Simon Russell Beale) e Nikita Khrushchev (Steve Buscemi) ficam no centro da disputa, mas Molotov, Malenkov, Andreyev, Bulganin, Kaganovich, Mikoyan e outros tantos poderosos apressam-se a garantir seus nacos.
Em primeiro lugar, o diretor tem ótimas credenciais: o escocês tornou-se um expoente da comédia política entre o público americano, por meio da série Veep, que escreveu, produziu e dirigiu para a HBO. Em segundo lugar, o elenco reúne nomes de peso entre os americanos e britânicos. Foi o suficiente para deduzir que o filme poderia trazer boas doses de humor refinado.
Mais do que isso, A Morte de Stalin mostrou-se uma comédia ácida, repleta de humor negro e uma veia satírica que jorra ótimas tiradas; um filme ao qual se assiste empolgado, com atenção nos detalhes. A sinopse é simples: certa noite em 1953, depois de recolher-se aos seus aposentos, o ditador Josef Stalin desaba, vítima de um derrame. Feito moscas, os membros do comitê geral do partido imediatamente adentram ao local e dão início à corrida pelo poder. Lavrentiy Beria (Simon Russell Beale) e Nikita Khrushchev (Steve Buscemi) ficam no centro da disputa, mas Molotov, Malenkov, Andreyev, Bulganin, Kaganovich, Mikoyan e outros tantos poderosos apressam-se a garantir seus nacos.
Enquanto as listas de Stalin, com os inimigos do estado a serem assassinados, são substituídas por novas listas elaboradas pelo comitê, os burocratas, membros do partido e militares se dedicam a matar uns aos outros, mediante acusações mútuas de inépcia ou traição. Enquanto a elite no poder se deleita com as futilidades dos preparativos para o funeral, entre pompas e teatralidades, o povo é convocado para atuar na figuração, penando numa infindável procissão ao caixão do grande líder. Enquanto os filhos de Stalin tentam manter a pose e os privilégios, os novos rumos da União Soviética são traçados com displicência por personagens perversos, que se julgam deuses, mas são de carne e osso.
A facilidade com que se mata, a naturalidade com que se mente, a banalidade com que se conspira, a rapidez com que se esquece... Os absurdos produzidos por um regime totalitário não são engraçados, mas Armando Iannucci os expõe com mordacidade sutil, a ponto de nos arrancar risos nos momentos mais inesperados. O humor vem expresso nos gestos, nos olhares e nos subtextos, com a fleuma que nos acostumamos a apreciar no humor britânico – aliás, a presença do Monty Python Michael Palin é uma grata surpresa!
O roteiro assinado por David Schneider, Ian Martin e pelo próprio Armando Iannucci é baseado na graphic novel La Mort de Staline, escrita por Fabien Nury e desenhada por Thierry Robin. E nesse ponto cabe ressaltar a beleza dos quadrinhos criados pela dupla de franceses. A história, baseada em fatos, é contada com certa licença poética, mas mantendo a verossimilhança. Fabien Nury consegue recriar uma densa atmosfera de ansiedade e incerteza, materializada por Thierry Robin em cores frias e deprimentes. Nas suas 120 páginas, a supremacia da cor vermelha lembra o estado todo poderoso, contrastando com os tons terrosos e acinzentados que representam o povo privado de liberdade.
Armando Iannucci partiu dessa concepção visual para materializar seu filme; conduziu os espectadores diretamente para a União Soviética dos anos 50. O ar que respiramos, porém, é de um frescor arrebatador. O que acontece diante dos nossos olhos poderia se passar em algum país totalitário do século XXI; são fatos assustadores, mas engraçados, mostrados por um ângulo tão inusitado que se tornam cômicos.
Para finalizar, quero lembrar que há em A Morte de Stalin um elemento ausente nos quadrinhos dos franceses, mas que foi adicionado pelo diretor com talento e competência: a excelente trilha sonora composta por Christopher Willis.
A facilidade com que se mata, a naturalidade com que se mente, a banalidade com que se conspira, a rapidez com que se esquece... Os absurdos produzidos por um regime totalitário não são engraçados, mas Armando Iannucci os expõe com mordacidade sutil, a ponto de nos arrancar risos nos momentos mais inesperados. O humor vem expresso nos gestos, nos olhares e nos subtextos, com a fleuma que nos acostumamos a apreciar no humor britânico – aliás, a presença do Monty Python Michael Palin é uma grata surpresa!
O roteiro assinado por David Schneider, Ian Martin e pelo próprio Armando Iannucci é baseado na graphic novel La Mort de Staline, escrita por Fabien Nury e desenhada por Thierry Robin. E nesse ponto cabe ressaltar a beleza dos quadrinhos criados pela dupla de franceses. A história, baseada em fatos, é contada com certa licença poética, mas mantendo a verossimilhança. Fabien Nury consegue recriar uma densa atmosfera de ansiedade e incerteza, materializada por Thierry Robin em cores frias e deprimentes. Nas suas 120 páginas, a supremacia da cor vermelha lembra o estado todo poderoso, contrastando com os tons terrosos e acinzentados que representam o povo privado de liberdade.
Armando Iannucci partiu dessa concepção visual para materializar seu filme; conduziu os espectadores diretamente para a União Soviética dos anos 50. O ar que respiramos, porém, é de um frescor arrebatador. O que acontece diante dos nossos olhos poderia se passar em algum país totalitário do século XXI; são fatos assustadores, mas engraçados, mostrados por um ângulo tão inusitado que se tornam cômicos.
Para finalizar, quero lembrar que há em A Morte de Stalin um elemento ausente nos quadrinhos dos franceses, mas que foi adicionado pelo diretor com talento e competência: a excelente trilha sonora composta por Christopher Willis.
Resenha crítica do filme A Morte de Stalin
Ano de produção: 2017Direção: Armando Iannucci
Roteiro: Armando Iannucci, David Schneider e Ian Martin
Elenco: Steve Buscemi, Simon Russell Beale, Paddy Considine, Rupert Friend, Jason Isaacs, Olga Kurylenko, Michael Palin, Andrea Riseborough, Paul Chahidi, Dermot Crowley, Adrian McLoughlin, Paul Whitehouse e Jeffrey Tambor
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