Águas Rasas: mais do que um filme de tubarão, é um drama de sobrevivência

Cena do filme Águas Rasas
Águas Rasas: filme dirigido por Jaume Collet-Serra

CONTORNANDO A TRADICIONAL ABORDAGEM SANGUINÁRIA DO GÊNERO

Antes de mais nada, é preciso que se diga: Águas Rasas, filme de 2016 dirigido por Jaume Collet-Serra, não é um filme de terror, com cenas sanguinárias de monstros aterrorizantes. Também não é um filme de tubarão nos moldes daquele que nos vem à mente quando tal palavra é pronunciada. Trata-se de um filme de sobrevivência. A protagonista passa por situações aterrorizantes, o tubarão é uma monstruosa máquina de matar e o sangue é inevitável, mas o diretor prefere focar suas lentes no ancestral embate entre o homem e a natureza.
        Águas Rasas conta a história de Nancy Adams, vivida pela ótima Blake Lively, uma estudante de medicina que chega pela manhã numa praia remota e desabitada do México, com o firme propósito de... surfar. Abalada com a recente morte da mãe, tudo o que ela deseja é expurgar a dor e rever os rumos da própria vida. À tarde, aproveitando suas últimas ondas, o inevitável acontece: Nancy é atacada por um tubarão e sofre um ferimento na perna. Ela consegue se proteger em uma pequena rocha, mas está cercada pelo monstro marinho e à mercê das marés. Tudo o que ela tem é sua vontade de sobreviver e seus conhecimentos de medicina.
        O espanhol Collet-Serra é um cineasta experiente. Dirigiu o sucesso do gênero terror A Orfã, além de filmes de ação com o ator Lian Neeson, entre eles Noite Sem Fim, O Passageiro e Desconhecido. Em Águas Rasas ele imprime seu estilo ágil e nos conduz hipnotizados por uma narrativa repleta de ação e suspense. Seu filme, apesar de inundado pela luz do dia e arejado pela ambientação externa, está confinado num espaço cercado: a rocha salvadora, uma boia, uma carcaça de baleia e a praia – tão próxima que quase pode ser alcançada.
        A façanha do diretor foi combinar computação gráfica com os efeitos especiais tradicionais. Seu tubarão é inteiramente digital e a maior parte do que vemos foi filmada em tanques, cercados pela tela azul. A habilidade em combinar imagens captadas nas locações com as realizadas em estúdio, trouxe ao filme um realismo atordoante. Isso fez de Águas Rasas uma ótima peça visual, bem-acabada e marcante.
        Para que o espectador tenha empatia pela personagem, Collet-Serra se preocupou em dar a ela alguma densidade emocional, mas tomou o cuidado de apresentar seu relacionamento com a família sem o uso de flashbacks ou ações paralelas. Preferiu manter o filme confinado na praia, mostrando as cenas expositivas no celular em simulações de conversas e mensagens por meio de aplicativos.
        A história original concebida pelo roteirista Anthony Jaswinski nasceu bem mais sombria e “sanguinária”, ao gosto dos apreciadores do gênero terror, mas ao longo da produção essa abordagem foi sendo trabalhada. Pelas mãos de Collet-Serra, chegou ao grande público como um drama de sobrevivência convincente, ainda que o final suscite controvérsias.

Resenha crítica do filme Águas Rasas

Ano de produção: 2016
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Anthony Jaswinski
Elenco: Blake Lively, Óscar Jaenada, Brett Cullen, Sedona Legge, Angelo José Lozano Corzo, José Manuel Trujillo Salas, Pablo Calva, Diego Espejel e Janelle Bailey

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