Hotel Ruanda: história real, contada no tom certo

Cena do filme Hotel RuandaDireção: Terry George

UM PROTAGONISTA IRRADIANDO VERDADE EMOCIONAL

Em 1994, Ruanda era um país à beira da explosão. Num caldeirão político, fervilhavam três ingredientes com elevada octanagem: o ódio racial entre as etnias Hutu e Tutsi; uma estrutura de poder baseada em privilégios, construída pelos colonizadores belgas e uma mídia enfurecida, dedicada a incentivar a violência e a promover atos insanos. Quando o avião do presidente cai, num suposto atentado atribuído à minoria Tutsi, os Hutus saem às ruas e se dedicam, ao longo de quatro meses, a assassinar homens, mulheres e crianças; promovem um genocídio sistemático que ceifou quase um milhão de vidas.
        Essa história tragicamente verdadeira faz parte do enredo de Hotel Ruanda, filme de 2014 dirigido pelo cineasta irlandês Terry George. O diretor, porém, toma o cuidado de não descambar para a mera exposição gráfica da violência, nem sucumbe à tentação de filmar um dramalhão lacrimoso. Seu filme é contundente, porque precisa denunciar a insanidade para que ela jamais se repita, mas é edificante, porque resgata os valores que definem nossa humanidade e traz uma mensagem de esperança.
        Hotel Ruanda conta a incrível história de Paul Rusesabagina (Don Cheadle), então gerente do Hotel des Mille Collines, um dos maiores e mais luxuosos da capital Kigali, pertencente a um grupo empresarial belga. Quando o mundo ao seu redor explode em matança generalizada, Paul tenta proteger sua família e seus hóspedes; vale-se de suas habilidades de negociador e seu bom relacionamento com ambos os lados do conflito. O hotel que administrava virou refúgio para 1.268 pessoas e nenhuma delas foi morta; por milagre, e também pela ação corajosa de Paul, resistiram por mais de 100 dias, protegidos pelas forças de paz da ONU. Depois, alcançaram um campo de refugiados e escaparam pela fronteira com a Tanzânia.
        O roteiro de Hotel Ruanda, escrito a quatro mãos por Keir Pearson e Terry George, não foi baseado em nenhum livro, mas sim em depoimentos do próprio Paul Rusesabagina, obtidos durante reuniões realizadas entre eles em 2002. Alguns personagens que aparecem no filme, como os interpretados por Nick Nolte e Joaquin Phoenix, foram compilações de vários personagens, mas as várias situações de tensão e violência aconteceram de fato. Paul Rusesabagina acompanhou todas as fases da produção, inclusive se encontrou diversas vezes com o ator Don Cheadle, para ajudá-lo na composição do personagem.
        Sem apoio dos grandes estúdios, Terry George viabilizou a produção de Hotel Ruanda de forma independente; preocupou-se em entregar ao público um drama higienizado, sem exageros sanguinários; ainda assim, conseguiu criar uma atmosfera de autenticidade: retratou o genocídio por meio de insinuações dramatizadas e do impacto psicológico que vemos refletidos nos personagens. Mais conhecido por seu trabalho como roteirista nos filmes Em Nome do Pai e A Guerra de Hart, o diretor manteve o tempo todo a perspectiva de que filmava uma dramatização e não um documentário. Fez um grande trabalho!

Resenha crítica do filme Hotel Ruanda

Ano de produção: 2004
Direção: Terry George
Roteiro: Terry George e Keir Pearson
Elenco: Don Cheadle, Sophie Okonedo, Desmond Dube, Hakeem Kae-Kazim, Nick Nolte e Joaquin Phoenix

Comentários

  1. antes dessa super Produção, houve um filme sobre Ruanda, nada haver com o atual, gostaria de ler algum comentário analítico sobre o primeiro filme. Um abraço

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    Respostas
    1. Ah, precisarei pesquisar, pois não conheço o filme. Mas o assunto é interessante e será uma boa empreitada. Já está na lista!

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  2. Você citou Em nome do pai. Se ainda não o fez, eis aí um filme que sugiro para uma futura abordagem.

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