Scarface: um remake estilizado por Brian de Palma, com roteiro de Oliver Stone

Cena do filme Scarface
Scarface: filme dirigido por Brian De Palma

UM ÉPICO VIOLENTO ONDE AL PACINO EXERCE SEU ESTRELATO

O Scarface original foi filmado em 1932, enquanto Al Capone começava a amargar seus dias de prisão. Foi dirigido por Howard Hawks e estrelado por Paul Muni. Ben Hecht, o roteirista, se inspirou no romance Scarface, publicado em 1930 por Armitage Trail, que por sua vez se inspirou no mais famoso dos gangsters. Ainda que não tenha conhecido pessoalmente Al Capone, Trail compilou suas façanhas criminosas alardeadas pela mídia e as caracterizou no personagem Tony Guarino, que trazia uma horrível cicatriz no lado esquerdo do rosto. Escreveu um romance noir que se tornaria precursor do gênero.
        Na época, o cinema tratou o tema com cautela. Ainda no calor dos acontecimentos, os realizadores preferiram evitar qualquer apologia ao crime e deram ao filme o título de Scarface - A Vergonha de uma Nação. Além disso, caracterizaram o personagem – rebatizado como Tony Camonte – como um sujeito bruto e sem carisma, que emerge violento entre as gangues de Chicago.
        Al Pacino, cuja estampa estava colada ao gênero depois do estrondoso sucesso de O Poderoso Chefão, assistiu ao filme e percebeu a oportunidade de realizar um remake. Envolveu o produtor Martin Bregman, num projeto que resultaria no Scarface de 1983. Bregman convocou o diretor Sidney Lumet e encarregou Oliver Stone de escrever o roteiro. Logo perceberam que precisavam trazer a história para os dias correntes. Foi de Lumet a ideia de transformar o personagem em imigrante cubano e trazê-lo para o submundo de Miami. Mais tarde, por divergências criativas, o diretor foi substituído. Brian de Palma assumiu o projeto, mas herdou um roteiro de cuja concepção não participou.
        No remake de Scarface, Al Pacino vive o criminoso cubano – agora batizado de Tony Montana – que chega a Miami e se alia a Manny Ribeira (Steven Bauer). Os dois começam por baixo, trabalhando para Frank Lopez (Robert Loggia), o chefão do tráfico local. O ímpeto violento, a ambição desenfreada e uma ousadia ímpar impulsionam a ascensão meteórica de Tony. É só uma questão de tempo para que ele tome o lugar do chefe, roube sua mulher Elvira Hancock (Michelle Pfeiffer) e construa um verdadeiro império do crime, fazendo do tráfico de drogas um meio para conquistar cada vez mais poder e dinheiro. Acompanhamos sua escalada até o topo e sabemos que, antes de cair, muito sangue há de jorrar.
        É preciso que se diga que em Scarface a violência não é expressa graficamente, mas insinuada com tamanha eloquência que chega a dar nos nervos! Tal brutalidade chocou os críticos da época e hoje continua sendo a marca registrada do filme. Concebida inicialmente como um veículo para que Al Pacino pudesse exercer seu estrelato, a versão escrita por Oliver Stone não é propriamente um remake. Há vários elementos reinventados, que Stone acrescentou depois de empreender uma imersão no mundo das drogas – na época viciado em cocaína, percebemos no seu roteiro uma incômoda intimidade com o tema.
        Outro detalhe que incomoda no roteiro é o flerte com os clichês dos filmes de gangsters, que Brian De Palma conseguiu superar ao impor uma direção mais estilizada, principalmente no segundo e terceiro atos. Nas mãos do diretor, Scarface acabou se tornando um épico, que povoou o imaginário do público com alegorias sobre o submundo do crime organizado e narrou a ascensão e queda de um dos gângsteres mais cruéis e sanguinários da história do cinema – até então!

Resenha crítica do filme Scarface

Ano de produção: 1983
Direção: Brian De Palma
Roteiro: Oliver Stone
Elenco: Al Pacino, Steven Bauer, Michelle Pfeiffer, Mary Elizabeth Mastrantonio, Robert Loggia, Mírian Cólon, F. Murray Abraham, Paul Shenar, Harris Yulin, Ángel Salazar, Arnaldo Santana, Dennis Holahan, Michael P. Moran, Al Israel, Mark Margolis, Ronald G. Joseph e Richard Delmonte

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