Assalto ao Carro Blindado: eles passaram para o lado dos bandidos

Cena do filme Assalto ao Carro Blindado
Assalto ao Carro Blindado: direção de Nimród Antal

NÃO ME VENHAM COM DESCULPAS ESFARRADAS!

Todo cinéfilo tem, na manga da camisa, um filme despretensioso, descomplicado e envolvente, que dará como cartada quando quiser encerrar de vez a busca no serviço de streaming, para finalmente poder relaxar diante da TV. Na verdade, tenho vários filmes assim, e um deles é Assalto ao Carro Blindado, dirigido em 2009 por Nimród Antal. O que há de especial nesse filme? Não muito, mas posso citar pelo menos três bons motivos para se render a ele: tem um elenco excelente, traz uma boa história bem contada e cutuca valores pessoais e familiares me precisam ser cultivados nesses nossos dias confusos.
        O título do filme já diz tudo: trata-se do thriller policial que tem Matt Dillon, Jean Reno, Laurence Fishburne e Columbus Short à frente do elenco, onde os seguranças encarregados de transportar cifras astronômicas resolvem passar para o time dos gatunos e meter a mão na grana. Por que gosto desse filme? Porque ele não faz apologia ao crime, não enaltece os bandidos e não traz desculpas esfarrapadas que justifiquem as decisões tortas de alguns personagens. Aqui, um protagonista heroico decide que ficará do lado certo da lei, arriscará a própria pele para evitar que o mal prevaleça e se desdobrará para que a justiça seja feita.
        No começo de Assalto ao Carro Blindado, todos são mocinhos. Ty Hackett (Columbus Short), um ex-veterano que serviu no Iraque, é o novato na empresa de transporte de valores. Ele está na equipe de Mike Cochrane (Matt Dillon) e tem como colegas os descolados Quinn (Jean Reno), Baines (Laurence Fishburne), Dobbs (Skeet Ulrich) e Palmer (Amaury Nolasco), todos empenhados em mostrar o melhor profissionalismo. Todos também fazem questão de acolher o novato Ty, que acabou de perder os pais, está prestes a perder a casa hipotecada para o banco e corre o risco de perder a guarda do vulnerável irmão mais novo. Mas de repente, seus colegas se revelam bandidos: vão simular um assalto e roubar 42 milhões de dólares!
        O jovem Ty, que está numa curva descendente de perdas, é empurrado para uma decisão moralmente questionável. Sem saída, decide tomar parte no crime, desde que ninguém saia ferido. O problema é que as coisas, por óbvio, sairão do controle. Logo haverá gente morta e um punhado de gananciosos metendo os pés pelas mãos para ocultar seus crimes. No momento crucial, o jovem Ty se agarra aos seus valores e decide que não cederá às tentações do mal.
        Muitos críticos torceram o nariz para Assalto ao Carro Blindado, o acusando de ser um filme “B”, realizado dentro de parâmetros convencionais e pouco criativos. É verdade que não se trata de cinema inovador, com personagens tratados em profundidade ou recursos narrativos sofisticados. Mas está longe de ser um filme que mereça ser ignorado. É ágil, envolvente e traz boas cenas de ação, realizadas sem computação gráfica, mas com grande desenvoltura. O time de atores carismáticos segura as pontas dramáticas, cuidando para que haja algum fluxo de emoções.
        O diretor Nimród Antal, americano de ascendência húngara, cujo longa anterior flertava como o underground, foi sábio em optar por filmar de maneira protocolar e burocrática. Fez um filme interessado em seguir os bons ditames do marketing, direcionado para o público que a associação da indústria cinematográfica americana classifica como PG-13, inadequado para pré-adolescentes. Vale lembrar que uma classificação NC-17 permitiria uma abordagem mais adulta e violenta! O diretor rodou em Los Angeles e contou com a fotografia de Andrzej Sekuła, que trabalhou com Quentin Tarantino em Cães de Aluguel e Pulp Fiction. Também levou sorte de reunir o elenco certo, que funciona como seu principal atrativo.
        Inicialmente, o roteiro de Assalto ao Carro Blindado foi escrito como um roteiro especulativo. Hollywood se refere assim aos roteiros que nascem sem ser encomendados, normalmente escritos por autores desconhecidos, que buscam espaço na indústria. No caso, o roteirista em questão era James V. Simpson, que conseguiu uma façanha de causar inveja a qualquer iniciante: teve sua ideia adquirida pela Screen Gems. Sem especificações cinematográficas precisas, normalmente esse tipo de roteiro especulativo se limita apenas a estabelecer a narrativa do filme. Quem tratou de formatar toda a concepção audiovisual foi o próprio diretor Nimród Antal.
        Penso que grande parte das ressalvas a Assalto ao Carro Blindado tenha partido de críticos engajados, mais preocupados em alardear as causas... sociais. Quando o filme foi realizado, a crise econômica de 2008 estava corroendo o humor dos americanos. Muitos queriam ver as tais mazelas sociais mais escancaradas na tela, servindo como justificativa para as escolhas erradas dos criminosos. Segundo essa narrativa, um protagonista às voltas com a realidade injusta, teria motivos de sobra para abrir concessões. Os pobres seguranças, oprimidos enquanto eram obrigados a transportar o dinheiro dos poderosos, teriam alguma razão para se rebelar. Bobagem!
        O que gosto em Assalto ao Carro Blindado é justamente poder ver uma por uma dessas desculpas esfarrapadas sucumbindo a uma verdade incontestável: o errado sempre será errado, e quem estiver disposto a fazer o certo não terá plenas garantias de sair vitorioso. Eventualmente pode ganhar o jogo, mas jamais sairá de campo com a consciência abalada. Como em qualquer bom filme de ação engendrado por Hollywood, o mocinho termina bem e os bandidos, um por um, vão revelando a falta de caráter e recebem o que merecem! Esse é para ser consumido junto com um belo balde de pipoca!

Resenha crítica do filme Assalto ao Carro Blindado

Título original: Armored
Ano de produção: 2009
Direção: Nimród Antal
Roteiro: James V. Simpson
Elenco: Matt Dillon, Jean Reno, Laurence Fishburne, Skeet Ulrich, Columbus Short, Amaury Nolasco, Milo Ventimiglia, Fred Ward e Andre Kinney

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