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Clube da Luta: proposta anarquista para desvendar o sentido da vida

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Clube da Luta: dirigido por David Fincher LUTANDO PARA PREENCHER O VAZIO EXISTENCIAL Quando penso no filme Clube da Luta , dirigido em 1999 por David Fincher, a primeira palavra que me vem à mente é "publicidade". A matéria me interessa profundamente, tanto que a escolhi como profissão – isso no comecinho da década de 1980, quando tinha 18 anos e ainda não sabia exatamente onde estava me metendo. Porém, tinha plena noção de que iria trabalhar na atividade motora do capitalismo, crucial para alimentar a sociedade de consumo. Eram outros  tempos: os consumidores sabiam exatamente quando estavam sendo abordados por mensagens publicitárias. Elas chegavam pelos comerciais de rádio e TV, dos jornais e revistas, placas na rua... Hoje, nos meios digitais, informação e persuasão estão de mãos dadas e nem sempre a publicidade se mostra explícita os consumidores.            Conhecer por dentro o mecanismo astuto da publicidade não me imunizou dos seus efeitos. Por várias vezes sucumbi à

Sociedade dos Poetas Mortos: ainda hoje, uma mensagem poderosa

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Sociedade dos Poetas Mortos: filme de Peter Weir CINEMA E LITERATURA NUMA RELAÇÃO SIMBIÓTICA           – O livro é muito melhor do que o filme! Mais completo, mais descritivo. Revela detalhes que o diretor simplesmente ignorou.           – Nada disso! O filme dá de dez a zero! É mais objetivo e tem um final mais inteligente.           Discussões como essa são fáceis de encontrar em comentários nas postagens dos grupos de cinema. Com frequência acabam da mesma forma como começaram: ambos os lados saem com a mesma opinião que trouxeram. Soa arrogante dizer que tais discussões são inúteis, afinal elas trazem à tona informações relevantes para os apreciadores de cinema e literatura – além de serem um ótimo pretexto para interagir com gente que compartilha o mesmo prazer pelas artes narrativas. Prefiro lembrar que livro e filme são duas experiências sensoriais diferentes da mesma história e não podem ser comparados como se olhássemos irmãos gêmeos, tentando diferenciá-los nas miudezas. Nem

Projeto Flórida: alegrias e tristezas, fantasia e realidade

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Projeto Flórida: filme dirigido por Sean Baker CINEMA INDEPENDENTE E INSPIRADO, BEIRANDO O EXPERIMENTALISMO Quando o cinema independente dá as caras na TV por assinatura e nos serviços de streaming, dá para sentir o sopro de renovação entrando pela sala. Ludy e eu estávamos acomodados no sofá depois do jantar, indecisos sobre o que assistir, quando Projeto Flórida , filme de 2017 dirigido por Sean Baker entrou por uma brecha e agarrou nossa atenção. Diferente, inteligente, emocionante e envolvente, conquistou mais dois admiradores e motivou este cronista a pesquisar sobre a produção para engordar o acervo da Crônica de Cinema.           Projeto Flórida não segue os cânones narrativos de Hollywood, estabelecidos a partir das formulas shakespearianas já amplamente testadas e aprovadas nas bilheterias. A história não vem contada em três atos e as cenas não são enfileiradas em blocos de tensão e resolução. O que há é uma fluidez natural, que oferece o mínimo de exposição e o máximo de dra

Sete Anos no Tibet: uma experiência real e transformadora

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Sete Anos no Tibet: filme de Jean-Jaques Annaud UMA ESCALADA DE POLÊMICAS, COM DOSES EXAGERADAS DE BOM CINEMA Histórias envolvendo alpinistas tendem a nos remeter a valores como determinação, autoconfiança, destemor e desejo de superação. Nelas, os protagonistas são submetidos a provações extenuantes e o papel do vilão é quase sempre desempenhado pela natureza implacável. No filme  Sete Anos no Tibet , dirigido em 1997 por Jean-Jacques Annaud, o trem da narrativa não segue por esses trilhos, mas nos conta uma história onde a palavra-chave é transformação. E termina num tema tão espinhoso e polêmico que por muito pouco o filme não descarrilha.          O filme  Sete Anos no Tibet é baseado no relato de viagem narrado no livro com o mesmo título, escrito pelo austríaco Heirich Harrer, um dos maiores montanhistas de seu tempo. Ele escalava o Himalaia quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial e foi feito prisioneiro dos ingleses na Índia, juntamente com o também alpinista Peter Aufschnaiter

A Última Nota: um pianista fictício vivendo uma crise real

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A Última Nota: filme dirigido por Claude Lalonde O UNIVERSO DA MÚSICA ERUDITA TRATADO COM REVERÊNCIA E CONTEMPLAÇÃO Sir Henry Cole é um concertista consagrado. Sua história de sucesso no mundo da música erudita parecia terminada, depois da morte da mulher em circunstâncias trágicas. Mas agora ele está de volta, numa turnê comemorada pelos amantes da música, que disputam lugares para vê-lo interpretar ao piano obras de grandes compositores como Schumann, Chopin, Scarlatti, Beethoven, Schubert, Scriabin, Rachmaninoff e Liszt. Acontece que ao retornar aos palcos, Cole trouxe com ele uma crise de ansiedade que está prejudicando seu desempenho.           Em A Última Nota , o pianista interpretado por Patrick Stewart é fictício, mas a ansiedade de desempenho é um drama real, que assombra os artistas do mundo da música de alta performance. Realizado em 2019, com direção de Claude Lalonde e roteiro assinado por Louis Godbout, o filme não é otimista e muito menos dedicado a contar uma história

O Despertar de uma Paixão: um filme que no final deixa muitas reflexões

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O O Despertar de Uma Paixão: dirigido por John Curran QUANDO CAI O VÉU DE ILUSÃO QUE COBRE UM RELACIONAMENTO O romance The Painted Veil , escrito em 1925 por William Somerset Maugham é intimista e um tanto sombrio. Conta uma história de amor às avessas, onde a paixão só vem muito depois do casamento e, ainda assim, atribulada por acontecimentos trágicos. Rendeu três adaptações para o cinema: em 1934, com o filme The Painted Veil , estrelado por Greta Garbo e Herbert Marshal, em 1957, no filme The Seventh Sin , com Bill Travers e Eleanor Parker e em 2006, no filme O Despertar de Uma Paixão , estrelado por Edward Norton e Naomi Watts. Esse último remake é resultado do empenho de Edward Norton, que desde 1999 planejava produzi-lo, mas apenas tomou forma em 2001, quando Naomi Watts entrou no projeto também como produtora.           O Despertar de Uma Paixão , dirigido por John Curran, é um daqueles filmes com vocação para “cinemão”. Tem ascendência nobre e é tratado pelos anglo-saxões de f

Rede de Mentiras: estrelado por Leonardo DiCaprio e Russel Crowe

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Rede de Mentiras: filme de Ridley Scott UMA ABORDAGEM REALISTA SOBRE AS AÇÕES DA CIA NO ORIENTE MÉDIO Depois da queda do muro de Berlin e do colapso da União Soviética, os autores de thrillers de espionagem precisaram queimar neurônios para encontrar matéria-prima que atendesse a demanda por histórias convincentes. Então veio o 11 de Setembro e revelou ao mundo a existência de um vilão digno de revigorar o gênero: a Al Qaeda. O cinema tratou de explorar o tema e produziu uma fartura de títulos envolvendo a guerra contra o terrorismo. Rede de Mentiras , realizado em 2008 por Ridley Scott, parece ser apenas mais um, mas é bem acima da média. Trata-se de um excelente filme, com todos os ingredientes indispensáveis para agradar os fãs e cinéfilos.           O cineasta Ridley Scott, cujo portfólio diversificado dispensa apresentações, faz aqui sua incursão sobre o universo dos thrillers de espionagem, mas não invade o território dos James Bonds e Jason Bournes. Seu filme abraça o realismo –

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