Os 12 Macacos: viagem no tempo e o significado de salvar a raça humana

Cena do filme Os 12 Macacos
Os 12 Macacos: filme dirigido por: Terry Gillian

FICÇÃO CIENTÍFICA COM A ENTONAÇÃO DE UM DIRETOR INOVADOR

Em 1895, Albert Einstein contava apenas 16 anos e ainda estava longe de publicar suas teorias sobre a Relatividade. O grande público não fazia ideia sobre os conceitos de gravidade, espaço-tempo e outras bizarrices da física moderna, mas naquele ano deliciou-se com o romance de H.G. Wells intitulado A Máquina do Tempo. Foi o primeiro livro desse autor genial e também a primeira história contada sobre as viagens no tempo. Abriu a porteira! De lá para cá, passou uma boiada inteira de ótimas ideias envolvendo viajantes ao passado e ao futuro, fazendo a festa dos amantes da ficção científica. E quando pensávamos que o assunto já estava esgotado, vem o filme Os 12 Macacos, dirigido em 1995 por Terry Gilliam e recupera um brilho de criatividade para esse gênero.
        Contada do ponto de vista de Terry Gillian, uma história sobre viagens no tempo vai além do que já se tornou clichê. Surpreende, incomoda, instiga... Exibe uma tonalidade original e criativa. Retira todo o glamour do tema e mostra que esse tipo de aventura, muito provavelmente, acaba no hospício – lugar perfeito para os que se atrevem a confessar que vieram do futuro, com a intenção de salvar a raça humana. No filme Os 12 Macacos, o diretor desfia uma história complexa, repleta de idas e vindas, com desdobramentos inusitados e muita ação. Mas encontra espaço para explorar as implicações mentais de uma tal jornada amalucada. Mas antes de seguir por ela, vejamos uma sinopse do filme:
        Em 2035, a civilização humana foi dizimada por um vírus mortal e os sobreviventes se enfurnaram nos subterrâneos. James Cole (Bruce Willis) é um prisioneiro que se voluntaria para uma missão perigosa: voltar no tempo para 1996, recuperar o vírus original espalhado por um certo exército revolucionário dos 12 Macacos, para que os cientistas possam encontrar a cura. Mas esses cientistas não são tão espertos, afinal. Com péssima pontaria, enviam James Cole para 1990. Ele acaba num hospício, onde conhece Jeffrey Goines (Brad Pitt), um ambientalista filhinho de papai tagarela e mentalmente desiquilibrado. Tratado pela Dra. Kathryn Railly (Madeleine Stowe), James Cole tem sua insanidade atestada e acaba trancafiado num quarto de segurança máxima. Mas desaparece misteriosamente! Os imprecisos cientistas continuam insistindo em transportá-lo de uma época para outra, até que ele finalmente vai parar em 1996. Lá, as pessoas que poderão ajudá-lo a completar sua missão serão justamente a incrédula Dra. Kathryn Railly e o alucinado Jeffrey Goines. James Cole nunca está totalmente seguro acerca do que é real ou produto da sua imaginação, mas está disposto a seguir até as últimas consequências para salvar a humanidade.
        O filme Os 12 Macacos foi vagamente inspirado no curta-metragem francês de 1962 intitulado La Jeté, escrito e dirigido por Chris Marker. Nessa peça icônica da Nouvelle Vague, que trata o tempo e a memória como sendo feitos da mesma matéria misteriosa, o protagonista é atormentado por uma imagem da infância, enquanto tenta arranjar uma forma de viajar no tempo para salvar uma Paris subterrânea, devastada por uma catástrofe nuclear decorrente da Terceira Guerra Mundial. Para o casal de roteiristas David e Janet Peoples, a ideia poderia render um longa instigante. Com a ajuda de Francis Ford Coppola conseguiram obter os direitos junto ao irascível Chris Marker e arregaçaram as mangas. Experientes – David Peoples já trazia no currículo os roteiros de Blade Runner – O Caçador de Androides e Os Imperdoáveis – sabiam que não poderiam repetir a fórmula vitoriosa que James Cameron usou no seu O Exterminador do Futuro. Ao invés disso, preferiram destacar a viagem mental do protagonista, mostrando o que aconteceria na cabeça de alguém que pudesse viajar no tempo, pisando na linha divisória entre a sanidade e o delírio.
        Com a adesão dos produtores, Os 12 Macacos virou um projeto de peso, que atraiu a atenção de vários produtores e atores estrelados. Mas eis que Terry Gillian acabou escalado para dirigir! Com seu talento e domínio para lidar com temas absurdos, fez o impensável: escalou dois dos maiores nomes de Hollywood na época, Bruce Willis e Brad Pitt, para os papéis principais de um filme que estava claramente fora dos padrões convencionais.
        Quando leu o roteiro, Terry Gillian compreendeu que tinha um excelente material nas mãos, mas o considerou demasiado complexo. Pediu aos roteiristas David e Janet Peoples uma série de mudanças, especialmente em relação ao ponto de virada no último ato, o que que terminou por aprimorar o script. Depois, nos sets de filmagem, o diretor teve que lidar com os astros paparicados pela mídia, que se esforçaram para dar conta de personagens com demandas tão exigentes em termos dramáticos. Bruce Willis ainda projetava a sombra do policial duro de matar e Brad Pitt jamais havia lidado com tantas falas. Ambos se saíram muito bem e ainda contaram com a força de Madeleine Stowe, que trouxe um toque feminino e evitou a overdose de testosterona.
        Terry Gillian impôs sua visão criativa e colocou a sua cara em Os 12 Macacos. Até mesmo a trilha sonora, composta por Paul Buckmaster, foi uma encomenda sua, que exigiu uma composição ao estilo de Astor Piazzolla, de quem se tornara fã declarado. Seu filme recebeu duas indicações para o Óscar, uma para Brad Pitt como ator coadjuvante e outra para os figurinos. Não levou nada! Se tivesse sido filmado por outro diretor, esse roteiro escrito por David e Janet Peoples resultaria num filme diferente, mais convencional e menos... estranho. Ainda bem que o ex-integrante do Monty Python abraçou a causa e se agarrou à direção dessa ficção-científica imperdível!

Resenha crítica do filme Os 12 Macacos

Ano de produção: 1995
Direção: Terry Gilian
Roteiro: David Peoples e Janet Peoples
Elenco: Bruce Willis, Madeleine Stowe, Joseph Melito, Joey Perillo, Brad Pitt, Christopher Plummer, Michael Chance, Vernon Campbell, David Morse, Christopher Meloni, Simon Jones, Bill Raymond, Bob Adrian e H. Michael Walls

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