Whiplash - Em Busca da Perfeição: tudo para ser o melhor bateirista

Cena do filme Whiplash - Em Busca da Perfeição
Whiplash - Em Busca da Perfeição: dirigido por Damien Chazelle

EGOS INFLADOS MUNIDOS DE INSTRUMENTOS MUSICAIS

O jovem diretor Damien Chazelle criou suas próprias oportunidades na indústria do cinema. Seu projeto de se tornar cineasta do primeiro time vingou de modo espetacular, materializado num filme vigoroso e arrebatador, que foi premiado com três estatuetas no Óscar: Whiplash – Em Busca da Perfeição, dirigido por ele em 2014. Com esse filme independente, Chazelle alcançou grande visibilidade e catapultou sua carreira – na sequência ele já realizou La La Land, O Primeiro Homem e Babilônia.
        Antes de se dedicar à carreira no cinema, Chazelle labutou no universo da música. Frequentou aulas de bateria e tocou em uma banda de jazz – uma das mais competitivas e exigentes – durante o ensino médio em Princeton, Nova Jersey. Veio daí a experiência de vida que lhe serviu de base para escrever Whiplash – Em Busca da Perfeição. O filme é uma obra de ficção, sobre um aluno escolhido para tocar bateria na banda da melhor escola de música dos Estados Unidos, dirigida por um famoso maestro. Pressionado e aterrorizado, física e mentalmente, o rapaz se torna um músico excepcional, mas entra em pé de guerra com seu mestre enraivecido.
        A força do filme está nesse caráter marcadamente pessoal e confessional, que preenche o enredo com emoções verdadeiras. Está também na aspereza dos seus personagens em conflito, que lutam para impor valores e vontades um ao outro. Se protagonizassem um western, estariam armados com facas e revólveres, mas aqui o diretor lhes deu instrumentos musicais, que como o espectador acaba constatando, são igualmente letais!
        A ideia para o filme resultou num roteiro bem acabado, que correu os bastidores de Hollywood, mas sem empolgar os estúdios. Empolgou um grupo de amigos produtores, que tiveram a ideia de convertê-lo em um curta-metragem, para servir de chamariz para investidores interessados na realização de um longa. Filmaram uma cena e a editaram no formato de um curta, que foi exibido no Festival de Cinema de Sundance em 2013. Deu certo. Já no ano seguinte o longa estava sendo exibido no mesmo festival!
        Aqueles que têm alguma experiência no competitivo mundo da música, ou mesmo quem já se esforçou ao máximo para alcançar o pleno domínio das técnicas de qualquer instrumento, não estranharão a temática de Whiplash – Em Busca da Perfeição. Ao contrário, irão admitir que se trata disso mesmo: trabalhar com dedicação obsessiva e impor-se os mais descabidos sacrifícios. Quem observa de fora, no entanto, fica assombrado. Será que o domínio da técnica com tal nível de excelência pode, de fato, substituir o prazer da música criada para o puro regozijo estético? Dificilmente!
        Antes de entrar nesse mérito, vamos examinar a sinopse de Whiplash – Em Busca da Perfeição. O filme conta a história de Andrew Neiman (Miles Teller), o estudante de bateria empenhado em alcançar o nível máximo de proficiência em seu instrumento. A pedra no seu caminho é Terence Fletcher (J. K. Simmons), o maestro exigente, apegado a métodos militares e dono de uma raiva incontida. Cada um tem a sua própria ideia de perfeição, mas o mestre está convicto de que nenhum ser humano jamais conseguirá alcançá-la. Ambos irão até o limite do possível para fazer valer sua posição, numa guerra tão irracional que, a cada batalha, nos deixa uma certeza: a música será a grande derrotada!
        Damien Chazelle escreveu seu roteiro mentalizando os grandes standards que executava quando era baterista de jazz. As mais notáveis eram Whiplash, de autoria de Hank Levy e Caravan, composta por Juan Tizol. Outras composições famosas também estavam no roteiro, mas na hora de produzir o filme, tiveram que ser substituídas por músicas originais, por causa dos altos custos com licenciamento. O primeiro rascunho do roteiro foi gestado em 10 dias, mas foi sendo aperfeiçoado ao longo de um ano inteiro. A trama foi criada a partir de material autobiográfico e de experiências de outros músicos que conviveram com o diretor.
        Embora os diálogos tenham sido previamente roteirizados, Chazelle fez questão de priorizar o andamento musical e o ritmo no calor dos sets de filmagem. Por esse motivo, Whiplash – Em Busca da Perfeição foi festejado pelos amantes do jazz, que podem se deliciar com um repertório elaborado, executado com apuro técnico e expressividade artística. Os cinéfilos também têm motivos para aplaudir. As performances de Miles Teller e J.K Simmons são brilhantes. Aliás, Simmons venceu o Óscar de melhor ator coadjuvante pelo papel. As outras duas estatuetas do filme foram pela melhor mixagem de som e melhor montagem.
        Ao final do filme, ficou a martelar no meu cérebro de músico amador – sou violonista diletante – uma questão incômoda. Até que ponto vale a pena perseguir a perfeição técnica, enquanto o desejo genuíno de abraçar a música como um prazer vai se escorrendo pelos dedos? Bem, a resposta me veio óbvia: é justamente por conviver com essa dúvida que permaneço sendo um músico amador. Se tivesse uma resposta segura, certamente já seria um profissional.

Resenha crítica do filme Whiplash - Em Busca da Perfeição

Data de produção: 2014
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco:
Miles Teller, J. K. Simmons, Paul Reiser, Melissa Benoist, Austin Stowell, Nate Lang, Chris Mulkey, Damon Gupton, Suanne Spoke, Jayson Blair, Charlie Ian, Henry G. Sanders, C.J. Vana e Adrian Rashad Driscoll

Comentários

Postar um comentário

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: nada importa, nem o cinema!

Siga a Crônica de Cinema