A Vida de Brian: Monty Python mostra o lado bom da vida

Cena do filme A Vida de Brian
A Vida de Brian: filme dirigido por Terry Jones

OS MARUJOS INGLESES PREFEREM OLHAR A VIDA SEMPRE PELO LADO BOM

Só me dei conta da existência do grupo inglês Monty Python no começo dos anos 1980, quando entrei numa sala de cinema por acaso. Não fazia ideia do que encontraria pela frente. Comprei o ingresso porque gostei do cartaz e da possibilidade de assistir a uma comédia despretensiosa. Contei pouco mais de dez pessoas na plateia – lembro bem, era uma tarde de quarta-feira e tinha saído mais cedo do trabalho. Quando começou a projeção de Em Busca do Cálice Sagrado, minha vida se transformou. Jamais foi a mesma. Experimentei um choque de diversão! No final, continuei na poltrona e assisti ao filme de novo, na sessão seguinte.
        Com o passar dos anos fui descobrindo que a trupe de humoristas ingleses também era culpada por programas de TV, músicas, livros, filmes… O humor anárquico, inteligente e sempre atual que produziram inspirou gente do mundo inteiro e fez escola, inclusive no Brasil. E foi graças aos filmes que conseguiram realizar ao longo dos anos – com o apoio financeiro de personalidades como o ex-Beatle George Harrison – que alcançaram certa notoriedade.
        Inicialmente o cinema me pareceu apenas um veículo para que os Monty Python transportassem seu humor criativo e revolucionário. Mas Terry Gillian estava lá para fazer cinema de verdade! Foi o cartunista americano que assinou as sequências de animação nos filmes da trupe inglesa. Dirigiu Em Busca do Cálice Sagrado, Os 12 Macacos, Brazil – O Filme, Os Irmãos Grimm… É um contador de histórias com uma assinatura inconfundível e total domínio das técnicas narrativas.
        Mas o filme que pretendo destacar nessa crônica é A Vida de Brian, uma produção de 1979, escrita pelo grupo Monty Phyton e dirigida por Terry Jones. O ponto que desejo comentar diz respeito à  emblemática cena final, que apresenta a canção Always Look on the Bright Side of Life, escrita por Eric Idle.
        O tal Brian do filme veio ao mundo na mesma noite em que Jesus Cristo nasceu – inclusive foram vizinhos de manjedoura! A partir daí, Brian segue uma vida pacata e comum, como tantos outros habitantes da então Judéia dominada pelos romanos. A avalanche de piadas e sátiras que segue é de fazer chorar de tanto rir. Os absurdos vão se sucedendo até a cena final, que é das mais hilárias já realizados pela trupe: enquanto o sol se põe, incontáveis cruzes aparecem enfileiradas no alto de uma colina nos arredores de Jerusalém. Estão repletas de alegres crucificados, cantando o lado bom da vida. Cena tão absurda e sem sentido só poderia ter saído das mentes criativas daqueles ingleses loucos!
        Mas espere! O senso de humor dos britânicos não tem paralelo! A mesma cena se repetiu, dessa vez na vida real, durante a Guerra das Malvinas. Sim! O fato foi noticiado pela imprensa britânica e aconteceu em 1982, quando o destróier HMS Sheffield foi atingido por um míssil Exocet argentino – de construção francesa.
        Para a marinha inglesa, que desde a Segunda Guerra mundial não havia perdido nenhuma embarcação, foi uma tragédia. O míssil atingiu o Sheffield a apenas 2,5 metros acima da linha d'água, provocando uma explosão que matou 20 marinheiros e feriu 26. As chamas e a fumaça tomaram o navio rapidamente, enquanto a tripulação, impotente, nada pôde fazer, a não ser aceitar seu destino e aguardar pelo resgate.
        O Sheffield não afundou imediatamente e só começou a fazer água quando foi rebocado. Enquanto o HMS Arrow, enviado para resgatar a tripulação não chegava, os oficiais formaram uma corrente para manter todos juntos. Foi quando o subtenente Carrington-Wood teve a ideia e começou a cantar a canção Always Look on the Bright Side of Life, escrita por Eric Idle. A tripulação, em coro, entrou na brincadeira.
        Dá para imaginar uma cena dessas? Num momento tão grave e tenso? A capacidade do ser humano de rir de si mesmo é ilimitada! Ver uma criação do cinema ganhando dimensões reais e incorporando novos significados é uma prova de que somos guiados por uma força narrativa, que nos impele a entender o mundo a partir das histórias que contamos uns aos outros.

Resenha crítica do filme A Vida de Brian

Ano de produção: 1979
Direção: Terry Jones
Roteiro: Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Jones, Terry Gilliam e Michael Palin
Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin, Terence Bayler, Carol Cleveland, Kenneth Colley, Neil Innes, Charles McKeown, John Young, Gwen Taylor, Sue Jones-Davies e Peter Brett

Comentários

  1. Gostaria de ouvir a música.

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  2. Olha, nem sempre eu consigo rir com esse filme, mas com a sua narrativa, sinto vontade de assistir novamente.👏👏👏👏👏👏👏👏

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  3. Amei sua crítica. Já vi umas cenas desse filme, mas há muito tempo. Deu vontade de assistir todo. Obrigada.

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