Os Indomáveis: western com sotaque dos filmes de ação

Cena do filme Os Indomáveis
Os Indomáveis: filme dirigido por James Mangold

UM REMAKE MAIS ELETRIZANTE E COM MAIS DENSIDADE DRAMÁTICA  

Na infância, fui exposto a uma grande quantidade de filmes de faroeste. O gênero imperava da TV, exibido em séries e longas que se espalhavam por toda a grade de programação. Por óbvio, este cinéfilo recém-saído do berço tratava de trazer para a vida real as dinâmicas que percebia na tela; meu irmão e eu vivíamos com nossos chapéus de caubóis e nossas armas na cintura – réplicas de metal munidas de espoletas, que quase disparavam tiros de verdade! Aliás, acumulamos um vasto arsenal: uma carabina, revólveres de diferentes pesos e tamanhos e – as que mais gostávamos – um par de pistolas que atiravam pequenas bolinhas azuis de plástico; eram inofensivas, mas se espalhavam por todos os cantos da casa e minha mãe se irritava de tanto varrê-las.
        Mais do que brincadeiras, nossas estripulias eram verdadeiras encenações; perseguições, emboscadas, duelos, tiroteios... Certa vez passei dos limites: subi até o sótão e por uma janelinha cheguei no telhado. Meu irmão me viu e não titubeou; disparou um tiro barulhento: – Bangue! Levei as duas mãos ao coração, olhei para baixo e calculei a distância da queda (já tinha visto essa cena em dezenas de filmes!). Minha mãe, que pendurava roupas no varal, percebeu a iminência do perigo e berrou, enquanto me olhava nos olhos:
        – Não pule! Se morrer eu te mato!
        Fiquei de castigo e ganhei um baita puxão de orelha, mas sobrevivi à selvageria do velho oeste. O curioso é que em nossas brincadeiras não havia bandidos, só mocinhos; usávamos nossas armas contra nós mesmos, mas estávamos ambos do lado da razão, do lado da lei. Meu irmão e eu sabíamos a diferença entre certo e errado, entre justo e injusto, entre o bem e o mal; aprendemos na prática, com um dos gêneros mais antigos do cinema e seu vasto repertório boas histórias – muitas das quais se assemelham, já que as premissas se repetem.
        Já nos filmes de faroeste, há sempre um bandido pedindo para pagar por seus crimes. Por mais complexo que seja o personagem, por mais carisma que irradie, o vilão pode ser facilmente identificado: é aquele que ignora a ética, a moral, a lealdade e os demais valores que sustentam a vida civilizada. Lutando do lado certo, temos o mocinho; por mais atormentado e embrutecido que se mostre, ele jamais ultrapassa os limites impostos por nós, os espectadores. Um dos filmes emblemáticos dessa dicotomia é Os Indomáveis, dirigido em 2007 por James Mangold – que por sua vez é um remake de Galante e Sanguinário, realizado em 1957 por Delmer Daves.
        Esta nova versão e mais envolvente e traz personagens desenhados com mais nitidez. De um lado, um fora da lei conhecido e popular. De outro, um rancheiro falido, mas imbuído de sólidos valores familiares. O destino coloca os dois em conflito, numa trama onde um deles sairá derrotado. Estrelado por Russel Crowe e Christian Bale, Os Indomáveis é um autêntico western, mas contado numa linguagem acelerada, forjada nos atuais filmes de ação.
        O diretor James Mangold, que depois realizou o ótimo Ford vs Ferrari, sempre se mostrou um especialista em dirigir atores. Aqui ele parte de um clássico do gênero western e incorpora novos conceitos para agradar as plateias mais jovens – aqueles com propensão a bocejar nas cenas mais arrastadas. Antes de seguir em frente, vejamos a sinopse: o filme conta a história de Dan Evans (Christian Bale), um veterano da Guerra Civil que perdeu uma perna e decidiu se estabelecer com a família em um rancho no Arizona. Endividado e prestes a perder tudo, aceita a incumbência de levar Ben Wade (Russel Crowe), chefe de um perigoso bando, até a cidade de Yuma e colocá-lo num trem, que o lavará para a prisão. Evans é um perdedor, mas é honesto e está disposto a fazer a coisa certa. Wade é um assassino frio e violento, mas é inteligente e se sabe capaz de atos surpreendentes. A empreitada não será fácil: pelo caminho há uma quadrilha impiedosa, que fará de tudo para resgatar seu líder.
        Como é de praxe no gênero faroeste, a história de Os Imperdoáveis é moralista e edificante; defende que a civilização precisa se impor sobre a terra sem lei. Aqui, os valores individuais são testados o tempo todo e os atos de bravura se multiplicam. A diferença é que o filme está centrado em dois personagens com certa complexidade, que se vêm às voltas com seus próprios conflitos internos; além disso, são interpretados por dois grandes atores, que conseguem expressar emoções muito verdadeiras.
        O diretor James Mangold estava interessado em contar essa história usando uma linguagem mais atualizada; para tanto, contou com os roteiristas Michael Brandt e Derek Haas, conhecidos por escrever para filmes de ação mais populares, como Velozes e Furiosos. Em Os Indomáveis os dois fizeram um ótimo trabalho. Retomaram o conto original escrito por Elmore Leonard e o adaptaram com alguns adendos: incluíram toda uma sessão com várias sequências na estrada, repleta de tiros e perseguições; também adicionaram um novo personagem: William Evans (Logan Lerman), o filho de Dan Evans, cuja presença trouxe intensidade dramática para o embate final entre Russel Crowe e Christian Bale... Quero dizer, entre Dan Evans e Ben Wade.
        Os Imperdoáveis é mesmo eletrizante! Este remake traz personagem expostos com mais profundidade e oferece maior densidade dramática. É um faroeste para esses nossos dias de velocidade e fúria!

Resenha crítica do filme Os Indomáveis

Ano de produção: 2007
Título original: 3:10 to Yuma
Direção: James Mangold
Roteiro: Michael Brandt e Derek Haas
Elenco: Russell Crowe, Christian Bale, Logan Lerman, Dallas Roberts, Ben Foster, Peter Fonda, Vinessa Shaw, Alan Tudyk, Luce Rains, Gretchen Mol, Lennie Loftin, Rio Alexander, Johnny Whitworth, Shawn Howell, Pat Ricotti, Benjamin Petry, Forrest Fyre e Luke Wilson 

Comentários

  1. Dupla crowe/Scott navegando por vários gêneros da antiga Hollywood, desta vez um remake do western, um pequeno clássico dos anos 50 do pouco prestigiado Delmer Daves.
    Há mudanças positivas em certos personagens, mas há o pecado do excesso de protagonismo de Crowe como sempre na batuta de Riddley Scott. Pouco acrescenta, somente diversionismo para plateias saborear em um produto bem acabado tecnicamente. Clássicos não se mexem, do contrário destoam. Além de tudo Russell não convence como cowboy sulista por mais ator que seja. Não agradou dessa vez, sou raiz para esse gênero que não voltará a produzir algo fora da curva como já fizeram no passado. Falta autencidade.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Russell Crowe navegando por vários gêneros da antiga Hollywood, desta vez um remake do western, um pequeno clássico dos anos 50 do pouco prestigiado Delmer Daves.
    Há mudanças positivas em certos personagens, mas há o pecado do excesso de protagonismo de Crowe como sempre na batuta de James mangold. Pouco acrescenta, somente diversionismo para plateias saborear em um produto bem acabado tecnicamente. Clássicos não se mexem, do contrário destoam. Além de tudo Russell não convence como cowboy sulista por mais ator que seja. Não agradou dessa vez, sou raiz para esse gênero que não voltará a produzir algo fora da curva como já fizeram no passado. Falta autencidade.

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  4. Meu gênero preferido da infância e juventude, os westers de John Ford, Sam Pechimpah e Sérgio Leone.

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    1. Os faroestes sempre foram inspiradores. Aventura, drama, ação... Ficaram nas nossas memórias.

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