Bar Doce Lar: a jornada de amadurecimento de um aspirante a escritor

Cena do filme Bar Doce Lar
Bar Doce Lar: direção de George Clooney

UM LIVRO DE SUCESSO, TRATADO NAS TELAS COM REVERÊNCIA

J. R. Moehringer é um jornalista e escritor premiado, com grande popularidade entre os americanos. Seu livro de memórias publicado em 2005, intitulado The Tender Bar, tornou-se um best-seller, arrebanhou uma legião de fãs e recebeu todos os elogios da mídia especializada. Desde então, uma adaptação para as telas vinha sendo aguardada em Hollywood. Por fim ela chegou em 2021, com direção de George Clooney. Trata-se do filme Bar Doce Lar, estrelado por Ben Affleck e Tye Sheridan. Topei com ele no serviço de streaming e apertei o play por curiosidade, motivado pela curta sinopse apresentada na tela – não conhecia a história e fui capturado por um texto conciso, escrito com rara precisão nesses aplicativos.
        Fiquei satisfeito! Bar Doce Lar traz uma história envolvente, terna e saborosa, apresentada como um drama de amadurecimento. Expõe a vida, desde a infância até a juventude, de um aspirante a escritor, que nutre profundo amor por sua família e recebe dela o carinho e o amparo que precisa para exorcizar seus fantasmas e se tornar um homem centrado. O vilão da trama é o pai ausente e problemático. As armas usadas para derrotá-lo são os modelos de masculinidade e paternidade baseados em valores éticos e morais, que o garoto encontra em um ambiente inusitado: um bar frequentado por uma fauna diversa e carismática.
        Em seu livro, J. R. Moehringer conta como cresceu em Long Island, na região metropolitana de Nova Iorque, durante os empolgantes anos 1970. Criado pela mãe, sua infância foi marcada por uma voz, que costumava ouvir no rádio: era a do seu pai, um radialista chamado Johnny Michaels, que abandonou a família quando o garoto ainda engatinhava. Podia ouvir seu pai, projetá-lo em seu imaginário e internalizá-lo, mas não podia vê-lo. Era frustrante! O estímulo para se tornar jornalista e escrever chegou cedo e foi alimentando por uma família amorosa – da parte de sua mãe – que o acolheu e foi decisiva para que frequentasse a universidade.
        Em seu livro, o autor relembra um período longo de sua vida, apresentando os muitos personagens que conheceu. Já a adaptação realizada por George Clooney se detém em um recorte mais curto. Antes de falar nisso, vale a pena examinar a sinopse de Bar Doce Lar. O filme conta a história de J.R. Maguire (Daniel Ranieri), um garoto de nove anos que se muda com a mãe, Dorothy (Lily Rabe), para a casa dos avós maternos em Long Island, depois que ela fica desempregada. Imediatamente estabelece um vínculo afetivo com seu tio Charlie (Ben Affleck), que o acolhe como um filho e vira o modelo de pai que ele nunca teve. O avô Maguire (Christopher Lloyd) também abre os braços para o garoto, mas o pai verdadeiro (Max Martini), resolve dar as caras para atrapalhar. Acontece que o Tio Charlie é um viciado em livros e mantém um bar chamado Dickens – uma alusão ao famoso escritor britânico Charles Dickens – onde oferece aos frequentadores uma mistura explosiva de álcool e literatura. Enquanto recebe do tio uma educação letrada, tem na cola a mãe obcecada em vê-lo conquistando uma bolsa de estudos em Yale. Os anos passam e J.R. (Tye Sheridan) cresce tendo o bar do tio Charlie como seu habitat natural. Persegue primeiro o sonho de se tornar um jornalista, enquanto planeja se tornar um escritor, mas terá que experimentar a vida, viver o amor e suas desilusões.
        Para o filme Bar Doce Lar, o roteirista William Monahan estabeleceu algumas diferenças em relação ao livro. Experiente – já venceu o Óscar por sua adaptação de Os Infiltrados – preferiu manter o foco no personagem do Tio Charlie e apenas esboçar alguns dos personagens retratados no texto original. Cortou as sequências envolvendo a adolescência de J.R. para se concentrar na infância e na juventude do protagonista, reduzindo a trama para fazê-la funcionar nas telas. E fez com que J.R. decidisse escrever seu livro de memórias ainda jovem, enquanto que na vida real o autor seguiu trabalhando por 20 anos como jornalista, antes de publicá-lo. Nada disso foi tarefa fácil. Além de reduzir as 500 páginas do livro para caber nas 115 do roteiro, pisou em ovos enquanto se preocupava em não decepcionar os fãs e admiradores da obra. Isso sem falar na cobrança que deve ter sofrido por parto do próprio J.R. Moehringer, que colaborou na adaptação e depois atuou como produtor executivo do filme.
        O roteirista conta que escreveu o primeiro rascunho e depois fez poucas revisões nas linhas de narração. Quando ingressou no projeto, George Clooney adorou o roteiro e o filmou, sem pedir reescritas. Com filmes como Caçadores de Obras-Primas e O Céu da Meia-Noite, currículo, o diretor é um ator tarimbado e costuma filmar tendo em mente a perspectiva do elenco, o que geralmente rende ótimas atuações. É o que vemos acontecer aqui com Ben Affleck, que vive um tio Charlie sem exageros. Por traz da sua rigidez moral, o personagem é envolvente, misterioso e aparenta ter muitos segredos. É visto, primeiro, pelos olhos de um garoto carente e depois por um jovem que já o tem como herói e modelo.
        Bar Doce Lar vem com uma história leve e delicada, vivida por personagens reais. Inclusive o tal bar, chamado Dickens, ainda está em funcionamento em Long Island. Apenas trocou de nome e hoje é conhecido como Publicans. Para completar, o filme é embalado por uma deliciosa trilha sonora, bem ao estilo dos anos 1970. Vale a pena conferir.

Resenha crítica do filme Bar Doce Lar

Título original: The Tender Bar
Ano de produção: 2021
Direção: George Clooney
Roteiro: William Monahan
Elenco: Ben Affleck, Tye Sheridan, Daniel Ranieri, Ron Livingston, Lily Rabe, Christopher Lloyd, Max Martini, Sondra James, Michael Braun, Matthew Delamater, Max Casella, Renzy Feliz, Ivan Leung e Briana Middleton

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