Independence Day: trazendo a fantasia para o mundo real

Cena do filme Independence Day
Independence Day: direção de Roland Emmerich

LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA, DURANTE O FERIADO AMERICANO

Para quem vive na Região Sul, como é meu caso, o mês de julho tem as feições do inverno. As temperaturas baixas nos obrigam a tirar do guarda-roupa os casacos mais pesados e as bebidas quentes se tornam as mais apreciadas. Enquanto isso, lá no hemisfério norte, dá-se o oposto: o verão representa a cara das férias e da diversão; é quando a indústria do cinema aproveita para lançar seus filmes arrasa-quarteirão, na certeza de alcançar as maiores bilheterias. Naquele 2 de julho de 1996, a aposta vencedora foi Independence Day, dirigido por Roland Emmerich. Nunca a expressão arrasa-quarteirão – ou blockbuster, como preferem os anglófonos – foi tão bem empregada! Os trailers, exibidos à exaustão, mostravam a Casa Branca pulverizada por raios alienígenas e a cidade de Nova Iorque reduzida a escombros, num realismo desconcertante. Durante semanas, não se falou de outra coisa.
        Naqueles tempos pré-internet, os cinéfilos não dispunham de meios para saciar a curiosidade; a única opção era encarar as filas dos cinemas. Quando finalmente conseguiam se acomodar na poltrona, os espectadores tinham a certeza de estar diante de uma verdadeira revolução cinematográfica. Tal revolução, no entanto, não era resultado apenas dos efeitos visuais realistas, que valeram o Óscar naquele ano; o que mais assombrou foram as sacadas narrativas empregadas pelos realizadores. A primeira delas foi associar dois gêneros distintos, ficção científica e catástrofe, para aproveitar seus melhores elementos; a segunda foi trazer a narrativa fantasiosa para o mundo real: as descomunais espaçonaves alienígenas aportam na Terra no exato dia do lançamento do filme, 2 de julho, para anunciar que o Dia da Independência, comemorado pelos americanos dali a dois dias, seria um verdadeiro dia de luta. Curiosamente, tal ímpeto patriótico também funcionou para o resto do mundo, diante da contingência de enfrentar um poderoso inimigo comum. Tamanho esforço de marketing compensou, mas antes de falar sobre ele, vamos examinar a sinopse do filme:
        No dia 2 de julho, uma colossal nave extraterrestre chega à órbita terrestre e lança inúmeras naves menores, cada uma com 24 quilômetros de diâmetro. Elas pairam sobre as principais cidades do mundo e deixam claro que não estamos sós no universo. Os militares se mobilizam e se põem na defensiva. Para gerenciar a crise, o presidente americano, Thomas Whitmore (Bill Pullman), faz a única coisa que sabe fazer: manobras políticas. O capitão Steven Hiller (Will Smith) deixa sua namorada, Jasmine Dubrow (Vivica A. Fox) em Los Angeles e vai para a base aérea de El Toro, juntar-se aos seus colegas pilotos. Em Nova Iorque, o gênio do MIT, David Levinson (Jeff Goldblum), descobre que os alienígenas coordenam um ataque global w segue para Washington com o pai, Julius (Judd Hirsch), na tentativa de alertar o presidente. Conta com a ajuda da sua ex-mulher, Constance Spano (Margaret Colin), que agora é assessora especial da Casa Branca.
        O ataque, acontece como previsto e dizima populações inteiras em todos os cantos do planeta. Os protagonistas, no entanto, escapam no último segundo, a bordo do avião presidencial. Entocado numa base aérea secreta – a famigerada área 51 – o presidente coordena um contra-ataque global no dia três de julho, mas é vergonhosamente rechaçado. Agora, a única esperança da humanidade está na brilhante ideia criada por David Levinson, que será colocada em prática com a ajuda do capitão Hiller, enquanto o presidente Whitmore coordenará o derradeiro ataque aos desumanos extraterrestres. E isso justamente no dia 4 de julho!
        Independence Day conseguiu solidificar um conceito que ficou eternizado na mente do público: a ideia aterradora de acordar pela manhã, olhar para o céu e dar de cara uma nave descomunal a escurecer o céu. Surgiu como um filme sobre invasão alienígena, mas fez renascer o cinema catástrofe. Cinco anos depois, ainda assumiria ares premonitórios, quando os atentados terroristas de 11 setembro geraram imagens similares àquelas idealizadas pelo diretor Roland Emmerich e pelo produtor e roteirista Dean Devlin. A dupla já havia obtido sucesso comercial em anos anteriores, com a criação de Soldado Universal e Stargate. Para esse filme, no entanto, decidiram pensar grande; trabalharam numa escala de destruição sem precedentes, que se tornaria marca registrada de Roland Emmrich em seus próximos filmes de catástrofe, como O Dia Depois de Amanhã, 2012 e Moonfall
        A ideia central do filme nasceu quando os realizadores decidiram caracterizar os alienígenas como uma força da natureza e não como vilões articulados; dessa forma, obrigariam a humanidade, tomada por uma súbita consciência de patriotismo global, a empreender um esforço de sobrevivência. Ao especular sobre como seria uma invasão alienígena, Emmerich criou uma série de desenhos para mostrar a destruição da Casa Branca, enquanto Devlin escrevia as cenas e concebia a trama. Cada um dava palpites no trabalho do outro e assim alinhavaram o filme todo.
        Computação gráfica de ponta, design de produção afiadíssimo, personagens carismáticos e um ritmo narrativo empolgante... Tudo isso contribuiu para transformar Independence Day numa peça memorável de entretenimento, que volta e meia podemos revisitar com prazer. A continuação, realizada vinte anos depois, ficou aquém do desejado, já que se concentrou apenas na ação desenfreada e abandonou os conceitos de cinema catástrofe do enredo original. E pior, perdeu o gancho criativo do tal feriado americano.

Resenha crítica do filme Independence Day

Ano de produção: 1996
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Dean Devlin e Roland Emmerich
Elenco: Will Smith, Bill Pullman, Jeff Goldblum, Mary McDonnell, Judd Hirsch, Robert Loggia, Randy Quaid, Margaret Colin, Vivica A. Fox, James Rebhorn, Harvey Fierstein, Brent Spiner, Bill Smitrovich, Harry Connick Jr., Mae Whitman, Ross Bagley, Lisa Jakub, Giuseppe Andrews, Gary Hecker e Frank Welker

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