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Florence: Quem é Essa Mulher?: filme sobre a pior cantora do mundo

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Florence: Quem é Essa Mulher?: filme dirigido por Stephen Frears, com roteiro de Nicholas Martin SOBRA TALENTO, SENSIBILIDADE E PAIXÃO PELA MÚSICA Quando decidi assistir a esse filme sobre “a pior cantora do mundo”, temia que o roteiro ficasse só nas piadas óbvias, tripudiando sobre a falta de talento da personagem. Mas não! Florence: Quem é Essa Mulher? Filme de 2016 dirigido por Stephen Frears, foi realizado com sensibilidade e talento. O roteiro nos apresenta a personagens humanos e verdadeiros, repletos de conteúdo. A atmosfera romântica, a ambientação aristocrática e o senso de ritmo impecável tornam o filme envolvente e ágil. E apesar de espancada pela total falta de noção da protagonista, a música é muito bem tratada, com o devido respeito e a necessária reverência.           Para quem ainda não sabe quem é essa mulher, o filme nos dá um vislumbre: Florence Foster Jenkins era uma socialite de Nova Iorque, apaixonada por música erudita e fundadora do The Verdi Club, onde promov

Sonhos: Kurosawa apresenta seu filme mais cativante

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Sonhos: filme de Akira Kurosawa UMA CONVERSA INDIVIDUAL, COM CADA ESPECTADOR Filmes são como espelhos. Refletem a vida real, ainda que às vezes as imagens cheguem distorcidas, manipuladas e ordenadas segundo alguma lógica peculiar. Filmes nos falam por meio de metáforas e nos alcançam com símbolos e arquétipos. São projeções que nos confrontam com nossas emoções, nossos desejos, nossas frustrações... Filmes dialogam com nosso inconsciente. Também poderíamos chamá-los de... sonhos!           Desde os seus primórdios, a função onírica do cinema ficou clara. A linguagem que estabeleceu, guarda similaridade com a linguagem dos sonhos – trazida como herança do teatro, do circo, dos espetáculos operísticos... Os cineastas sempre compreenderam tal relação e se esbaldaram com a possibilidade de trazer para as telas os misteriosos eventos que nos visitam enquanto estamos dormindo. Mas foi Akira Kurosawa quem realizou um filme intitulado Sonhos ! Lançado em 1990, é uma das suas obras mais cativa

Todo o Dinheiro do Mundo: a história real do homem mais rico do mundo

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Todo o Dinheiro do Mundo: filme dirigido por Ridley Scott A MÍDIA TRABALHA COM FATOS, MAS O CINEMA É TERRITÓRIO PARA O DRAMA! Certa vez li uma entrevista com um grande diretor – não lembro qual – onde perguntaram sobre em que pé estava seu próximo filme. – Está pronto – respondeu, para depois emendar: – Agora só falta filmar! Ao ler essa frase de efeito, compreendi que os filmes são construções mentais, que nascem, crescem, amadurecem e despontam para a vida nas cabeças dos seus realizadores. E por tabela, descobri também porquê os cineastas são chamados de realizadores – incluindo na categoria os produtores, que viabilizam os filmes! Lembrei-me dessa história quando parti para pesquisar sobre Todo o Dinheiro do Mundo , produção de 2017 dirigida por Ridley Scott. O diretor é um realizador irrequieto, que salta de projeto em projeto com grande avidez, para felicidade dos cinéfilos de plantão. Porém, ao contrário do que faz na maioria dos seus filmes, nesse ele não se envolveu durante

Simonal: a cinebiografia de Wilson Simonal

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Simonal: filme dirigido por Leonardo Domingues SÓ ESQUECERAM DE MOSTRAR O CANTOR ALEGRE E CARISMÁTICO Lembro com saudosismo do astro Wilson Simonal. Sua música era contagiante, com letras fáceis e um balanço alegre, que irradiava brasilidade. Ouvi-lo no rádio, ou dar de cara com ele nos programas de auditório da TV, era sempre uma festa. Ao pronunciar seu nome, a palavra que me vêm à mente é alegria.           – Mas foi justamente essa palavra que ficou faltando no filme – exclamou Ludy com certa indignação, enquanto fazíamos nossa caminhada no parque.          Tive que concordar. Simonal , dirigido em 2018 por Leonardo Domingues, nesse sentido, foi uma decepção!  Caprichar no repertório não foi o suficiente para resgatar a alegria e o carisma daquele que se destacou como um dos maiores nomes do show business brasileiro.          Durante todo o trajeto da nossa caminhada, m inha mulher continuou a conversa. Lembrou dos tempos de criança, quando ouvia no rádio

Boyhood: da Infância à Juventude: quanto tempo bem aproveitado!

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Boyhood: o diretor Rchard Linklater filmou por 12 anos COMO NA VIDA, A PASSAGEM DO TEMPO SIMPLESMENTE ACONTECE Ao invés de rodar um drama sensível e envolvente, Richard Linklater poderia ter se contentado em realizar um documentário com vocação para estudo acadêmico. Mas não! Manteve a determinação de produzir uma obra com relevância artística. Boyhood: da Infância à Juventude , seu filme de 2014 exigiu paciência, domínio das técnicas narrativas, muita sensibilidade e maturidade para lidar com os percalços da vida.           O diretor Richard Linklater levou 12 anos captando as imagens que usaria em seu filme, para contar a história de Mason, um garoto de seis anos criado por pais separados, ao longo se sua trajetória entre a infância e a ju8ventude, até ingressar na faculdade, aos 18 anos. O projeto cinematográfico foi bem idealizado e realizado com método e paciência: a cada ano, a equipe de filmagem se reunia com os atores por três ou quatro dias, para ajustar o roteiro

Nossas Noites: filme reúne Jane Fonda e Robert Redford

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Nossas Noites: filme dirigido por Ritesh Batra  AH, A BELEZA DA MATURIDADE! Não são dois octogenários quaisquer. Trata-se de Jane Fonda e Robert Redford, astros do primeiro time de Hollywood. A presença deles é razão de sobra para assistir ao filme Nossas Noites , de 2017, dirigido por Ritesh Batra. Na medida em que embarcamos na história, encontramos outros bons motivos: o ritmo apropriado da narrativa, a densidade dos personagens, a objetividade do roteiro, a delicadeza e a ternura empregadas no tratamento do tema... Nesse filme, há muita gente madura, na frente e por trás das câmeras!           Sim, para apreciar Nossas Noites o espectador terá que trazer na bagagem alguma dose de maturidade, ou pelo menos já ter refletido sobre a vida na terceira idade. Um adolescente achará o filme chato e arrastado, já que conta a história de dois viúvos solitários, que decidem iniciar um relacionamento. A iniciativa parte dela, num ímpeto de atrevimento e ousadia. Ambos passam a dividir a cama

Koyaanisqatsi: uma obra de arte audiovisual

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Koyaanisqatsi: filme dirigido por Godfrey Reggio  UMA ESTÉTICA REPETIDA À EXAUSTÃO, QUE AINDA ASSIM CONTINUA MODERNA Belíssimas imagens em movimento, sincronizadas com uma música minimalista e hipnótica. Essa receita virou estrogonofe cinematográfico: é requintada, lida com uma certa complexidade de sabores e exige atenção no preparo, mas há muito deixou de ser prato principal em cardápios com pretensões sofisticadas. Quando foi inventada, no entanto, irradiava inovação e originalidade. A primeira vez em que pudemos degustá-la foi em 1982, quando o diretor americano Godfrey Reggio lançou Koyaanisqatsi: Life Out of Balance .           Mesmo quem ainda não assistiu a essa obra instigante, conhece seu legado estético. Hoje, até os diretores de comerciais de bebida se atrevem a lançar mão do cacoete moderno que o filme consagrou, abusando das imagens urbanas capturadas à noite em time lapse – cenas filmadas quadro a quadro em longos intervalos de tempo, de modo a parecerem aceleradas quand

Roubando a cena, literalmente

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TODOS NOS ACHAMOS CRÍTICOS DE CINEMA - E SOMOS MESMO!     Cinema: não se trata apenas de gostar ou não gostar Texto escrito originalmente para o site Pllano Geral                Escrever sobre cinema é parecido com pisar em ovos. É possível atravessar o desafio, mas algumas claras e gemas terminarão espalhadas. Nestes poucos meses em que me impus a obrigação de escrever uma crônica por semana, sempre comentando sobre algum filme relevante, percebi que é impossível agradar a todos. Ao contrário, o mais provável é acabar desagradando a muitos.             Isso acontece por um motivo básico: todo mundo entende de cinema. Esse é um fato inquestionável. Desde que nascemos – e até mesmo antes, na barriga da mãe – somos submetidos a incontáveis filmes, desenhos, seriados, programas de televisão, reality shows, noticiários... Criancinhas, somos alfabetizados na linguagem audiovisual e aprendemos como funcionam os planos e os diálogos em uma cena. Entendemos quando o personagem está imer

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