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5 filmes onde o mundo da música é pano de fundo

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Antes do cinema, a música tinha um caso sério com o teatro. Deram à luz a opera e continuam apaixonados até hoje. Mas a sétima arte herdou as qualidades do pais e criou espetáculos inesquecíveis. Há uma categoria de filmes que não podemos classificar propriamente como musicais, pois neles a música se estende como pano de fundo para sustentar os dramas de seus personagens. As histórias se passam nos bastidores e nos deixam entrever as dinâmicas e as práticas no fascinante mundo habitado pelos músicos, produtores e operários da indústria musical. Aí vai uma lista com cinco filmes onde vale a pena prestar atenção nesse pano de fundo. 1 - Whiplash – Em Busca da Perfeição Um filme vigoroso dirigido por Damien Chazelle, sobre uma batalha de egos no mundo da música de alta performance. Leia mais: 2 - A Última Nota Patrick Stewart em excelente atuação vive um pianista fictício passando por uma crise real. A direção é de Claude Lalonde Leia mais: 3 - O Cântico dos Nomes Uma ode imaginativa e or

Um Lugar no Coração: descobri porquê quase ninguém fala desse filme

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Um Lugar no Coração: escrito e dirigido por Robert Benton UMA OBRA PARA SER REVISITADA Às vezes me pergunto: por que Um Lugar no Coração , escrito e dirigido em 1984 por Robert Benton, quase não aparece na lista dos grandes filmes a serem reverenciados no panteão da sétima arte? Quase não leio comentários sobre essa produção impecável, que recebeu seis indicações ao Óscar e saiu com duas estatuetas: melhor atriz para Sally Field e melhor roteiro original para Robert Benton. Ela nos traz uma história emocionante, contada com propriedade e encenada por um elenco magnético. Ainda assim, parece esquecida. Os privilegiados que dispõem de uma cópia no acervo certamente se dão o prazer de revisitá-la de tempos em tempos. O resto de nós, só quando tropeçamos com o título em algum serviço de streaming.           Parti de algumas teorias para tentar resolver o mistério. Na primeira, a culpa seria de Mozart, ou melhor, de Amadeus , a obra-prima de Miloš Forman, que roubou todas as cenas naquele a

Diamante de Sangue: injustiças x hipocrisia em Serra Leoa

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Diamante de Sangue: dirigido por Edward Zwick NÃO HÁ REDENÇÃO PARA OS GRANDES CULPADOS O problema com a hipocrisia é que ela se disfarça tão bem que às vezes não a reconhecemos de imediato. É preciso dar corda ao narrador, para que ele se enrole e tropece nas próprias contradições. É quando percebemos que sua postura não é tão virtuosa quanto seu discurso afetado deixa transparecer. É quando compreendemos que os punhos erguidos são coreografados e as bandeiras agitadas estão ao sabor dos ventos do oportunismo. Diamante de Sangue , filme de 2006 dirigido por Edward Zwick é um desses filmes que chafurdam em hipocrisia, mas conseguem entregar um bom entretenimento, ainda que esquecível.           Ok, estou sendo incisivo e compreendo que precisarei justificar essa introdução com argumentos convincentes. Mas antes será necessário estabelecer a sinopse do filme e seu contexto dramático. O pano de fundo de Diamante de Sangue é a guerra civil que eclodiu em Serra Leoa, quando os guerrilheiro

A Sombra de Stalin: a história real de um herói esquecido

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A Sombra de Stalin: dirigido por Agnieska Holland UM HERÓI DE VERDADE QUE MERECE SER LEMBRADO Estava passeando pelo serviço de streaming e decidi apertar o play num filme destacado como sugestão. É um risco, sei muito bem. Mas minha política é dar alguns minutos para que o filme ao menos possa mostrar a que veio. Muitos, de tão precários, acabam ganhando apenas isso: alguns poucos minutos. Mas A Sombra de Stalin , filme de 2019 dirigido pela polonesa Agnieszka Holland ganhou minha atenção e meu respeito. É uma produção acima da média, que apresenta um personagem admirável, envolvido numa história escabrosa, mas muito bem contada. Baseado em fatos, mistura thriller com melodrama e traz à tona elementos históricos que, apesar de terem acontecido há quase um século, ainda irradiam atualidade e urgência.           A cena de abertura nos apresenta a um escritor misterioso, martelando sua máquina de escrever num ambiente rural, cercado de animais. Sua narrativa remete ao protagonista, Gareth

Dersu Uzala: poesia audiovisual de Akira Kurosawa

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Dersu Uzala: dirigido por Akira Kurosawa QUANDO O CINEMA GANHA EXPRESSÃO POÉTICA Em Curitiba, nos anos 1970, havia um grande portal para o espaço-tempo. Costumava usá-lo com rotineira frequência – praticamente todos os finais de semana. Era enorme, daqueles com um imenso saguão de entrada, plateia e primeiro balcão. Usava-o para acessar mundos distantes e épocas remotas, passadas e futuras. Como é da natureza dos portais, havia pouco o que reparar nele. Todas as atenções se voltavam para a janela que se abria e o crucial momento da travessia. Enquanto isso, as expectativas eram vencidas com a ajuda de um saquinho de pipocas ou uma caixinha de balas Mentex. Apesar de perceber pessoas ao meu redor, as jornadas nas quais embarcava eram sempre solitárias e de esforço pessoal. Ainda hoje me sinto conectado com aquele lugar. E nesse momento em que escrevo, tal conexão é real! Palpável. Consigo me ver sentado numa das poltronas vermelhas, com o olhar vidrado. Encantado! Com a mente desconecta

Lion - Uma Jornada para Casa: o drama real de um garotinho indiano

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Lion - Uma Jornada Para Casa: dirigido por Garth Davis UMA HISTÓRIA SIMPLES E PODEROSA Os filmes têm esse poder de estabelecer conexões emocionais entre as experiências que vivenciamos de fato e aquelas das quais nos apropriamos depois fruir uma obra cinematográfica. Não há lógica nessas conexões, mas elas afetam a nossa visão do mundo e a maneira como lidamos com ele. Quando penso em Lion - Uma Jornada Para Casa , produção australiana de 2016 dirigida por Garth Davis, não consigo deixar de lembrar o fato que me aconteceu naquela noite chuvosa, antes de assistir ao filme.           Quando voltava para casa ao cair da tarde, parei em um posto para abastecer o carro. O frentista anotou o valor num papelzinho e eu tomei o rumo da loja. Queria chegar depressa ao caixa, pagar de uma vez e seguir viagem. O rapaz que abastecia na bomba ao lado também estava com pressa e veio logo atrás. Acontece que o chão estava liso e acabei escorregando. Foi um tombo... cinematográfico! Daqueles em que o v

O Expresso da Meia-Noite: exagerando os horrores da prisão

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O Expresso da Meia-Noite: filme de Alan Parker QUE ISSO SIRVA DE EXEMPLO Completei 18 anos quando o filme O Expresso da Meia-Noite foi lançado em 1978. Estava apto, portanto, a comprar meu ingresso e me acomodar numa das poltronas daquela sala de cinema quase vazia. Sabia que estava prestes a encarar um filme denso, com temática adulta e que prometia causar polêmica. Mas não estava preparado para tamanho impacto. O filme me apresentou a um novo tipo de cinema, feito para incomodar, que faz questão de ser impertinente e de tocar em temas espinhosos. Um filme que, logo entendi, pertencia à linhagem dos que têm o prazo de validade estendido por décadas – como Taxi Driver , de 1976.           Saí do cinema com dois nomes na cabeça, que havia extraído dos créditos: Alan Parker, o diretor e Oliver Stone, o roteirista. Os mesmos nomes nos quais tropecei ao percorrer as páginas dos cadernos de cultura dos jornais e das revistas especializadas. Na mídia, o filme  O Expresso da Meia-Noite logo

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