Uma Mente Brilhante: um gênio às voltas com a esquizofrenia

Cena do filme Uma Mente Brilhante
Uma Mente Brilhante: filme de Ron Howard

UMA HISTÓRIA VERDADEIRA, MAS CARREGADA NAS TINTAS

Alunos e professores da prestigiada Universidade de Princeton contam que havia, vagando pelos corredores do prédio de matemática, um fantasma que calçava tênis roxo e rabiscava equações por todos os cantos. Era John Forbes Nash, vivendo seus dias mais sombrios. Lidava com a doença mental que o atormentou durante toda a existência, a esquizofrenia paranoica. Mesmo assim jamais deixou de ser o gênio que verdadeiramente era.
        Recebeu o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1994 – compartilhado com Reinhard Selten e John Harsanyi – por causa das suas descobertas relacionadas aos equilíbrios não-cooperativos, que passaram a ser conhecidas como a teoria do Equilíbrio de Nash. Ele percebeu que em jogos como xadrez e dama, onde todas as variáveis são conhecidas, o resultado é determinado antes mesmo dos jogadores fazerem qualquer movimento, pois existe uma estratégia mais racional, que leva a um resultado predeterminado. Aplicando esta estratégia de jogo a outros campos, como o da economia, o impacto mostrou-se estrondoso.
        A história desse gênio atormentado veio à tona quando a jornalista Sylvia Nasar escreveu Uma Mente Brilhante, uma biografia abrangente de John Nash, que cobre desde seu nascimento até sua aposentadoria. Um trecho do seu livro foi publicado num artigo da revista Vanity Fair, o que despertou o interesse de produtores em Hollywood. Quem acabou à frente do projeto para adaptar a história para o cinema foi o diretor Ron Howard, que tem uma sólida carreira na indústria, com filmes como Rush – No Limite da Emoção, O Preço de um Resgate, O Código Da Vinci e muitos outros. Seu filme, que recebeu o mesmo título do livro, foi lançado em 2001.
        Acontece que o John Nash do cinema não é apenas um matemático brilhante e prestigiado no mundo acadêmico. É bom marido, bom pai e bom em... espionagem! Para ficar assim, o personagem recebeu a ajuda do experiente roteirista Akiva Goldsman – é dele o roteiro de Tempo de Matar, além de vários outros sucessos. Russel Crowe, um ator talentoso, com ótimo faro para as boas histórias, também fez intervenções no roteiro. Podemos afirmar, portanto, que Uma Mente Brilhante não é propriamente uma cinebiografia precisa, mas uma mostra de como a linguagem do cinema é capaz de traduzir com precisão as mais complexas facetas da mente humana. Mas antes de falar disso, vamos relembrar sua sinopse:
        Uma Mente Brilhante conta a história de John Nash (Russel Crowe), desde seus primórdios na Universidade de Princeton, quando buscava uma ideia que o ajudasse a se firmar na vida acadêmica. Mergulhando na teoria dos jogos, fez importantes descobertas que lhe renderam prestígio e a oportunidade de trabalhar secretamente para o Pentágono, prestando serviços de criptografia. Em paralelo, sua vida de professor universitário segue pacata. Até que ele conhece a bela Alicia López-Lardé de Harrison (Jenifer Conelly), uma aluna que conquista seu coração. Eles se casam e têm um filho. Então, o que acontece é que a esquizofrenia paranoica se revela. disposta a embaralhar sua vida acadêmica e suas atividades de agente secreto. O gênio matemático terá que lutar ferozmente para manter sua sanidade mental.
        Os mesmos lampejos criativos na mente de John Nash, que mereceram o reconhecimento da academia científica, pregaram-lhe peças, custaram sua lucidez e exigiram um imenso esforço de superação. O excelente roteiro de Akiva Goldsman está mais interessado em nos conduzir pelos labirintos da mente do protagonista do que garantir precisão histórica – alguns críticos dizem que John Nash ficou muito melhor na foto! Mas o fato é que, na própria biografia de Sylvia Nasar, o matemático assume contornos mais simpáticos e humanos ao enfrentar sua doença, em comparação com a postura arrogante e insensível do começo da carreira. Uma tal doença acaba pondo de joelhos até mesmo as mentes mais geniais!
        O trabalho de escrita de Akiva Goldman foi complexo. Em seu primeiro rascunho, concluído em quatro meses, dedicou-se a transformar o protagonista desagradável em alguém mais simpático para o público. Isso resultou em certas... licenças poéticas. A principal delas foi a inclusão dos elementos de espionagem. Também precisou atenuar a abordagem de vários temas desagradáveis, como os problemas sexuais, dificuldades conjugais, casos amorosos e outras questões pessoais.
        Em seu livro, Sylvia Nasar utiliza páginas e páginas para descrever os sintomas e o tratamento da esquizofrenia. Numa adaptação para as telas, o grande público dispensa esse nível de detalhamento. Akiva Goldman sabiamente preferiu a dramatização. Além disso, colocou os feitos matemáticos de John Nash em termos leigos, para que o espectador comum pudesse compreender sua importância e seus impactos na sociedade moderna. E, finalmente, tratou de focalizar sua narrativa no relacionamento difícil entre Nash e Alicia, em todas as suas implicações românticas e emocionais.
        O próprio diretor Ron Howard, que entrevistou pessoalmente o professor Nash em seu escritório na Universidade de Princeton, sinalizou que era preciso enfatizar esse relacionamento no filme. Fez várias anotações que orientaram Akiva Goldman na escrita do segundo tratamento do roteiro. Um terceiro tratamento foi gerado depois, quando Russel Crowe entrou no projeto. O ator fez interferências importantes, que ampliaram as oportunidades para expressar as várias camadas do personagem.
        Além de todas as soluções encontradas para o roteiro, que adicionaram pitadas exatas de suspense e romance, Uma Mente Brilhante contou com a direção segura de Ron Howard. Ele soube imprimir ao filme um ritmo ágil e envolvente. Tanto esforço foi muito bem reconhecido pelo Óscar: valeu as estatuetas de melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor atriz coadjuvante para Jenifer Connely. O filme ganhou também a admiração de todos os que gostam de ser capturados por uma boa história bem contada.

Resenha crítica do filme Uma Mente Brilhante

Data de produção: 2001
Direção: Ron Howard
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Russell Crowe, Jennifer Connelly, Ed Harris, Christopher Plummer, Paul Bettany, Adam Goldberg, Josh Lucas, Anthony Rapp, Jason Gray-Stanford, Judd Hirsch, Austin Pendleton e Vivien Cardone

Comentários

  1. Você diz tudo na sua crónica sobre esse excelente filme!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado! Tenho procurado ser sempre sintético e objetivo

      Excluir

Postar um comentário

Confira também:

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema