Fama: o musical de Alan Parker que marcou os anos 80
Fama; filme dirigido por Alan Parker
Assim que começamos a estabelecer o que é arte, percebemos que algumas das suas modalidades demandam um ingrediente especial: a performance. Não nos importamos com os trajes usados pelo compositor enquanto anota sua melodia na partitura; nem com o tom de voz do poeta enquanto recita para si os versos que acaba de inventar; nem com as caretas do escultor a martelar seu cinzel; o que nos interessa é o resultado final das obras por eles deixadas. Por outro lado, enquanto ouvimos um recital, assistimos a um número de dança ou acompanhamos uma peça de teatro, os gestos, os adereços, os movimentos e as expressões dos artistas tornam-se parte integrante da obra. Se a performance falhar, a obra perde o brilho.
Música, dança, canto, teatro, malabarismo, mímica, mágica... Costumávamos nos referir a essas modalidades como artes performáticas – e aos artistas que as executam como performers. Lá pelos anos 1960, porém, inventaram que o momento da criação também pode ser espetaculoso; transformaram pintores, escritores e compositores em performers e chamaram a isso de performance arte. Agora, para ser artista de verdade, é preciso interagir com o público e se expor por inteiro. Além de ser criativo e talentoso, é preciso ser famoso!
O filme Fama, dirigido em 1980 por Alan Parker, repisa esse tema com sensibilidade e expõe os sonhos, as ansiedades e as inquietações daqueles que correm atrás dos holofotes em busca de reconhecimento e realização. Depois de filmar O Expresso da Meia-Noite, o diretor achou por bem retomar sua paixão pelos musicais e foi parar em uma escola de artes performáticas de Nova Iorque, para contar as aventuras, desventuras dos jovens aspirantes ao competitivo mundo do showbizz. Conseguiu um imenso sucesso e marcou toda uma geração; ditou moda, inspirou a abertura de escolas de artes em todo o mundo e emplacou canções inesquecíveis nas paradas de sucesso.
Na verdade, Fama nasceu na cabeça do produtor David De Silva, depois que ele assistiu ao musical A Chorus Line, sobre dançarinos disputando vaga em um espetáculo, durante as audições para seleção do elenco; teve uma ideia inspirada: imaginou contar a história pregressa dos candidatos, desde a formação na escola de artes. Contratou Christopher Gore para escrever o roteiro e viabilizou a produção junto a um grande estúdio. O projeto caiu nas mãos do inglês Alan Parker, diretor consagrado, com sólida experiência no mercado da publicidade.
Alan Parker chegou a Nova Iorque para realizar Fama com sua equipe britânica e descobriu as benesses e as dificuldades de fazer cinema num país altamente sindicalizado como os Estados Unidos. Durante meses acompanhou a vida real de vários jovens que frequentavam a High School for the Performing Arts de Manhattan, na 46th Street. Depois de um exaustivo processo de seleção, o diretor fechou o elenco com atores fortemente identificados com os personagens que representariam.
Para Fama, o diretor trabalhou no roteiro de Christopher Gore e ampliou o alcance dramático dos personagens; acrescentou as incontáveis impressões que colheu durante o seu convívio com os alunos da escola – o que ficou evidente na cena do refeitório, a mais memorável delas, onde conseguiu extrair muita espontaneidade dos jovens, especialmente dos oito personagens principais.
A atmosfera de Fama é envolvente e sedutora. Mostra uma Nova Iorque glamorosa, mas revela seus bolsões de pobreza. Lembra o tempo todo que é possível vencer, mas que o fracasso é estatisticamente mais provável. Mostra personagens densos e nos faz torcer por eles, a partir do momento em que fazem o teste para ingressar na escola e depois, ano a ano, até o momento da formatura.
Além da canção Fame, que venceu o Óscar de melhor canção original, o filme recebeu outra estatueta de melhor trilha sonora, que trouxe canções como I Sing The Body Eletric, Its Okay To Call You Mine?, Never Alone, Hot Lunch Jam e Out Here on My Own. O brilhante trabalho de edição assinado por Gerry Hambling também precisa ser ressaltado, pois além de costurar a obra cinematográfica, ditou os padrões para os videoclipes musicais dos anos 80. Depois disso, Fama ainda virou peça de teatro e ganhou um remake em 2009.
Direção: Alan Parker
Roteiro: Christopher Gore
Elenco: Irene Cara, Lee Curreri, Laura Dean, Antonia Franceschi, Paul McCrane, Maureen Teefy, Gene Anthony Ray e Barry Miller
UM FILME QUE FALOU COM A JUVENTUDE DOS ANOS 80
Desde os tempos em que rodeávamos fogueiras e dividíamos cavernas, nos empenhamos em cultivar as capacidades que nos separam do restante dos animais. Nossos grunhidos viraram canto; nossas excitações, dança; nossas palpitações, batuque; nossas negociações, teatro; nossas memórias, pintura. Nos tornamos consumidores de arte, de tanto procurar por entretenimento para fugir do tédio. Milênios de prática nos levaram à perfeição: hoje mantemos em funcionamento uma indústria cultural diversificada, pródiga e onipresente. Não há uma única goma de mascar que não saia de fábrica rodeada por uma embalagem repleta de ... arte!Assim que começamos a estabelecer o que é arte, percebemos que algumas das suas modalidades demandam um ingrediente especial: a performance. Não nos importamos com os trajes usados pelo compositor enquanto anota sua melodia na partitura; nem com o tom de voz do poeta enquanto recita para si os versos que acaba de inventar; nem com as caretas do escultor a martelar seu cinzel; o que nos interessa é o resultado final das obras por eles deixadas. Por outro lado, enquanto ouvimos um recital, assistimos a um número de dança ou acompanhamos uma peça de teatro, os gestos, os adereços, os movimentos e as expressões dos artistas tornam-se parte integrante da obra. Se a performance falhar, a obra perde o brilho.
Música, dança, canto, teatro, malabarismo, mímica, mágica... Costumávamos nos referir a essas modalidades como artes performáticas – e aos artistas que as executam como performers. Lá pelos anos 1960, porém, inventaram que o momento da criação também pode ser espetaculoso; transformaram pintores, escritores e compositores em performers e chamaram a isso de performance arte. Agora, para ser artista de verdade, é preciso interagir com o público e se expor por inteiro. Além de ser criativo e talentoso, é preciso ser famoso!
O filme Fama, dirigido em 1980 por Alan Parker, repisa esse tema com sensibilidade e expõe os sonhos, as ansiedades e as inquietações daqueles que correm atrás dos holofotes em busca de reconhecimento e realização. Depois de filmar O Expresso da Meia-Noite, o diretor achou por bem retomar sua paixão pelos musicais e foi parar em uma escola de artes performáticas de Nova Iorque, para contar as aventuras, desventuras dos jovens aspirantes ao competitivo mundo do showbizz. Conseguiu um imenso sucesso e marcou toda uma geração; ditou moda, inspirou a abertura de escolas de artes em todo o mundo e emplacou canções inesquecíveis nas paradas de sucesso.
Na verdade, Fama nasceu na cabeça do produtor David De Silva, depois que ele assistiu ao musical A Chorus Line, sobre dançarinos disputando vaga em um espetáculo, durante as audições para seleção do elenco; teve uma ideia inspirada: imaginou contar a história pregressa dos candidatos, desde a formação na escola de artes. Contratou Christopher Gore para escrever o roteiro e viabilizou a produção junto a um grande estúdio. O projeto caiu nas mãos do inglês Alan Parker, diretor consagrado, com sólida experiência no mercado da publicidade.
Alan Parker chegou a Nova Iorque para realizar Fama com sua equipe britânica e descobriu as benesses e as dificuldades de fazer cinema num país altamente sindicalizado como os Estados Unidos. Durante meses acompanhou a vida real de vários jovens que frequentavam a High School for the Performing Arts de Manhattan, na 46th Street. Depois de um exaustivo processo de seleção, o diretor fechou o elenco com atores fortemente identificados com os personagens que representariam.
Para Fama, o diretor trabalhou no roteiro de Christopher Gore e ampliou o alcance dramático dos personagens; acrescentou as incontáveis impressões que colheu durante o seu convívio com os alunos da escola – o que ficou evidente na cena do refeitório, a mais memorável delas, onde conseguiu extrair muita espontaneidade dos jovens, especialmente dos oito personagens principais.
A atmosfera de Fama é envolvente e sedutora. Mostra uma Nova Iorque glamorosa, mas revela seus bolsões de pobreza. Lembra o tempo todo que é possível vencer, mas que o fracasso é estatisticamente mais provável. Mostra personagens densos e nos faz torcer por eles, a partir do momento em que fazem o teste para ingressar na escola e depois, ano a ano, até o momento da formatura.
Além da canção Fame, que venceu o Óscar de melhor canção original, o filme recebeu outra estatueta de melhor trilha sonora, que trouxe canções como I Sing The Body Eletric, Its Okay To Call You Mine?, Never Alone, Hot Lunch Jam e Out Here on My Own. O brilhante trabalho de edição assinado por Gerry Hambling também precisa ser ressaltado, pois além de costurar a obra cinematográfica, ditou os padrões para os videoclipes musicais dos anos 80. Depois disso, Fama ainda virou peça de teatro e ganhou um remake em 2009.
Resenha crítica do filme Fama
Ano de produção: 1980Direção: Alan Parker
Roteiro: Christopher Gore
Elenco: Irene Cara, Lee Curreri, Laura Dean, Antonia Franceschi, Paul McCrane, Maureen Teefy, Gene Anthony Ray e Barry Miller
"Fama" está na minha lista de TOP5. Sou da citada geração de jovens de 1980.
ResponderExcluirÉ um filme inesquecível para os da minha geração.
ExcluirTambém me incluo nesse grupo! Assisti a esse filme diversas vezes na época do seu lançamento e comprei o LP com a trilha sonora. Fama falou muito de perto com a nossa geração!
ResponderExcluirTambém faço parte dessa geração e assisti várias vezes esse filme cheio de glamour. Parabéns pela crônica. Excelente 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirAh, muito obrigado!!
ExcluirParabéns pelo texto! Filme que marcou minha geração e influenciou minha atuação profissional.
ResponderExcluirGrato pelo feedback. Fico animado para seguir escrevendo. Abraço!
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