Extraordinário: enfrentando uma síndrome rara

Cena do filme O Extraordinário
Extraordinário: filme dirigido por Stephen Chbosky

UM FILME LEVE E DELICADO SOBRE UM DRAMA PESADO E SOFRIDO

Ludy e eu já estávamos com sono e prontos para uma noite que prometia ser de absoluto repouso. Mas, como todo cinéfilo que tem nas mãos o controle remoto da situação, decidi zapear, apenas para me certificar de que não havia nada de interessante em exibição. Ledo engano! Num determinado canal, descobri que em questão de minutos começaria Extraordinário, filme dirigido por Stephen Chbosky.
  – De novo? Mas a gente já viu esse filme! – reclamou Ludy, avisando que já estava tarde demais para assistir a qualquer coisa.
– Ah, hoje é sábado – retruquei. – Vai ser bom ver esse filme de novo, dessa vez com mais distanciamento, pra prestar atenção no cinema. Deixo o volume da TV bem baixinho.
Minha mulher não teve alternativa senão concordar. Em poucos minutos estávamos os dois concentrados no filme. Essa produção americana de 2017 conta a história de Auggie, um garoto que veio a esse mundo e encontrou uma família estruturada, com pais amorosos, responsáveis e em condições de criá-lo com conforto. Encontrou também uma irmã adorável e carinhosa, além de um círculo social acolhedor e estimulante. Trouxe consigo muita vivacidade, doses imensas de criatividade e um carisma extraordinário. Mas trouxe também uma doença rara, a tal Síndrone de Treacher Collins, que lhe impôs uma triste deformidade facial.
        Aos dez anos, o garoto finalmente terá que enfrentar a selvageria e a brutalidade do convívio com outras crianças na escola. A feiura do seu rosto provocará todo tipo de reação – algumas previsíveis – que demandarão maturidade por parte dele e de todos os que torcem por ele. Extraordinário, produção de 2017, tem como matéria-prima a emoção. E das fortes, com potencial para arrancar lágrimas em diversas cenas.
        Mas o filme está longe de ser apelativo. Baseado no romance homônimo da escritora Raquel J. Palacio, seu roteiro foi escrito por Jack Thorne, 
Stephen Chbosky e Steven Conrad - esse último é também o roteirista de À Procura da Felicidade. Nas telas, os realizadores adotaram uma abordagem sensível e delicada, onde o preconceito e o bullying não são os únicos motores da trama. Ao contrário, às dificuldades vividas pelo garoto vão se somando as dificuldades de todos os outros personagens – porque apesar de sofrer imensamente, Auggie não é o único que sofre, afinal. Por isso, O Extraordinário também é sobre os desafios de criar um filho para o mundo, sobre o valor da amizade, sobre manter a individualidade e ao mesmo tempo tentar se inserir na comunidade, sobre a fortaleza inexpugnável que encontramos numa base familiar sólida...
        Não se engane: apesar da leveza e da mensagem edificante, o filme nada tem de infantil ou superficial. O espectador atento e interessado em mergulhar nas reflexões sobe a vida encontrará profundidade suficiente. Os realizadores resistiram à tentação de focalizar apenas no drama de Auggie e repisar em temas já abordados em outras produções, como O Homem Elefante e Marcas do Destino. Souberam ampliar a força e o dinamismo do roteiro, criando ótimas oportunidades dramáticas para todos os personagens.
        Aqui, o destaque fica mesmo para a relação entre mãe e filho – ela interpretada por Julia Roberts e ele pelo talentoso ator mirim Jacob Tremblay, cujo talento já havíamos comprovado em O Quarto de Jack. O elenco todo entrega ótimas atuações e nem mesmo a rápida aparição de Sonia Braga passa despercebida.
        Extraordinário tem conteúdo relevante, suficiente para ser visto e revisto mais de uma vez. Minha mulher que o diga: ela que estava com tanto sono, não tirou os olhos da TV. Apesar de já conhecer a história, a acompanhou até o fim. Quanto a mim, consegui manter o distanciamento ao qual me propus, mas em vários momentos esqueci de examinar o cinema. É difícil não se envolver com uma história emocionante e muito bem contada.

Resenha crítica do filme Extraordinário

Ano de produção: 2017
Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Jack Thorne, Steven Conrad e Stephen Chbosky
Elenco: Julia Roberts, Owen Wilson, Jacob Tremblay, Noah Jupe, Izabela Vidovic, Mandy Patinkin e Daveed Diggs

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