La La Land - Cantando Estações: renovação nos musicais

Cena do filme La La Land - Cantando Estações
La La Land - Cantando Estações: filme dirigido por Damien Chazelle

UMA HOMENAGEM AOS GRANDES MUSICAIS 

Dramatize uma história por meio de encenações coreografadas, ao som de composições que misturam canto, música instrumental e diálogos. O resultado é... ópera! Sim, caro cinéfilo, os musicais que nos acostumamos a ver nas salas de cinema não são invenção recente; nasceram em berço nobre! O gênero surgiu na Itália do século XVII e logo conquistou a Europa; tirou proveito do gosto popular pelo grande espetáculo. Já naquela época, os dramas musicais viraram produções dispendiosas, entupidas de figurantes e costuradas com incontáveis subtramas, tudo para agradar um público sempre barulhento e desatento. Com o tempo, surgiram as maquinarias complicadas e as traquitanas que assombravam pelos efeitos cênicos; as cantoras mais virtuosas viravam estrelas internacionais e até os meninos castrados – para ter as propriedades angelicais da voz preservadas – faziam parte do show. Ópera era pop!
        Quando o cinema apareceu, veio sem som. Antes mesmo de ganhar voz, no entanto, a sétima arte já empregava músicos; nas salas de exibição, os pequenos grupos musicais e até mesmo orquestras inteiras emulavam os espetáculos operísticos. Mais tarde, a criação de trilhas sonoras para os filmes abriu um novo mercado de trabalho para os músicos eruditos, que batalhavam duramente para sobreviver. Hoje, sem uma música elaborada não se narra um bom filme; ela vem para enfatizar a imagem, criar ambientação e conduzir nossas emoções. Música e encenação consolidaram uma antiga parceria por meio do cinema.
        As décadas de 50 e 60 testemunharam o auge dos grandes musicais. Aos poucos, eles perderam apelo comercial e também o espaço no circuito de exibição; raríssimos musicais conseguiram bons desempenhos nas bilheterias, até 2016, quando Damien Chazelle – o jovem diretor que atraiu a atenção de Hollywood quando dirigiu Whiplash – fincou o pé e conseguiu realizar La La Land – Cantando Estações. Ele criou uma história sobre um jovem pianista de jazz chamado Sebastian (Ryan Gosling), que vive um romance com a aspirante a atriz chamada Mia (Emma Stone), que também persegue o sonho do estrelato numa Los Angeles feérica. O diretor buscou inspiração nos musicais clássicos, mas procurou trazer uma aura de modernidade, que nos chega irradiada pela atitude contemporânea dos seus personagens.
        La La Land – Cantando Estações conversa muito bem com os jovens que aspiram oportunidades e tentam encontrar seu lugar ao sol nas profissões que escolheram seguir; que procuram uma voz para expressar a própria identidade e suas emoções; que precisam vencer as inseguranças e se mostrar confiantes. O filme nos lembra quais são os custos emocionais – e amorosos – de se perseguir a fama; seus protagonistas estão sempre a um passo da decisão derradeira: abrem mão de um sonho para se render a uma paixão, ou pagam o preço exorbitante da eterna solidão? Bem... Em Hollywood, é tudo tão incerto, afinal!
        A propósito, cabe lembrar que o termo “la la land”, além de servir de apelido para a cidade Los Angeles, é usado pelos americanos para descrever o estado mental de quem vive alienado da realidade; de quem se põe deslumbrado com o mundo dos sonhos. É justamente na onírica meca da sétima arte que os aspirantes a estrelas cantam, dançam e interpretam, enquanto carregam o peso de décadas de cinema! Isso é mostrado logo na abertura, quando o diretor ousa um longo plano sequência executado com grande apuro técnico.
        Damien Chazelle fez um filme sobre um tema que conhece bem. Ele mesmo foi um batalhador – e um vencedor –, que viveu intensamente a atmosfera de Los Angeles enquanto tentava realizar seu sonho de fazer filmes. (Dois anos depois, lá estava ele assinando outro ótimo filme: O Primeiro Homem, uma cinebiografia de Neil Armstrong, o astronauta que conquistou a Lua).
        Em La La Land – Cantando Estações, um ponto de destaque é a trilha sonora envolvente e memorável, assinada por Justin Hurwitz, um antigo colaborador de Chazelle. Ambos criaram uma relação de trabalho muito próxima e estabeleceram um processo criativo ágil e produtivo; enquanto o diretor escrevia as cenas, Hurwitz escrevia as canções, que serviam de inspiração para a escrita das novas cenas, num fluir orgânico e natural.
        Quanto aos astros Emma Stone e Ryan Gosling, eles estão ótimos nos papeis principais. Ainda que atores consagrados, não são reconhecidos como cantores, o que impôs a eles um certo desconforto. Isso acrescentou personalidade na hora de interpretar aspirantes ao estrelato. Na cerimônia do Óscar, o filme arrasou; recebeu 14 indicações e ficou com seis estatuetas: melhor diretor, melhor atriz, melhor trilha sonora, melhor direção de arte, melhor fotografia e melhor canção original (City of Stars).

Resenha crítica do filme La La Land – Cantando Estações

Ano de produção: 2016
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, John Legend, Rosemarie DeWitt, Finn Wittrock, J.K. Simmons, Jessica Rothe, Tom Everett Scott, Meagen Fay, Damon Gupton, Jason Fuchs e Josh Pence

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