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Mostrando postagens com o rótulo Ação

Coração Valente: um patriota clamando por liberdade

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Coração Valente: direção de Mel Gibson A DIFERENÇA ENTRE SER PATRIOTA E SER NACIONALISTA Quando decide escavar a história, para desenterrar enredos com potencial de atrair público pagante, o cinema quase sempre se mete em imprecisões. Os realizadores que escolhem carregar nas tintas e abusar das licenças poéticas, o fazem em nome da preservação do fluxo dramático. Todo cinéfilo se torna caçador desses pequenos deslizes e gosta de examinar os enredos com atenção, para se certificar de que não está sendo enganado. O filme Coração Valente , dirigido em 1995 por Mel Gibson, é uma dessas produções grandiosas, que apresenta personagens e eventos pouco conhecidos – ao menos para nós, brasileiros – e tem potencial de nos deixar intrigados: será que o diretor não exagerou no romance e na narrativa heroica?           Há, porém, um fato inquestionável: nesse segundo filme da carreira como diretor, Mel Gibson esbanjou ousadia e astúcia. Decidiu apostar todas as fichas rodando um épico espetacular,

Covil de Ladrões: thriller de ação com reviravolta no final

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Covil de Ladrões: direção de Christian Gudegast POLICIAIS E BANDIDOS, FICÇÃO E REALIDADE Em termos comerciais, filmes de ação são peças de entretenimento complexas e difíceis. Quando os realizadores celebram a ação pela ação, priorizando a pancadaria pura e simples, o resultado é entediante para o público mais velho e desinteressado por cinema raso. Quando investem num enredo com pano de fundo dramático, para dar densidade à história, afugentam o púbico adolescente – justo a fatia mais lucrativa. A maioria das produções aposta todas as fichas numa determinada faixa etária, na esperança de que ao menos rendam uma pequena franquia, com uma ou duas sequências. Esse é o caso de Covil de Ladrões , filme de 2018 dirigido por Christian Gudegast. O diretor buscou alguma profundidade dramática para os seus personagens, escreveu um roteiro com certa complexidade e investiu numa temática masculina. Alcançou sucesso de bilheteria suficiente para rodar uma sequência.           Covil de Ladrões cont

Entre Facas e Segredos: surpresa no final e ação o tempo todo

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Entre Facas e Segredos: direção de Rian Johnson UM ÓTIMO ROTEIRO, QUE EVITOU AS ARMADILHAS DO GÊNERO Os romances policiais de mistério se tornaram uma febre por décadas, desde que Sir Arthur Conan Doyle emplacou seu Sherlock Holmes. Com o tempo, eles derivaram num tipo muito específico de ficção, onde o autor propõe um quebra-cabeça para estimular o raciocínio do leitor, enquanto o confunde com pistas falsas. Tentar descobrir a identidade do assassino, antes que ela seja revelada nas últimas páginas, tornou-se verdadeiro passatempo para os admiradores desse estilo de romance. Os anglo-saxões chegaram a criar um termo específico para se referir a esse gênero literário: o “whodunnit”, uma corruptela da expressão "Who has done it?" – numa tradução livre, algo como... Quem fez isso?          U m whodunnit que se preze tem que estar confinado a um ambiente restrito – uma mansão, um hotel ou um trem – que represente o microcosmo social composto por ricaços sovinas cercados pela ple

A Salvação: faroeste dinamarquês sobre vingança e o preço que ela cobra

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A Salvação: dirigido por Kristian Levring A NATUREZA HUMANA BARRANDO O PROCESSO CIVILIZATÓRIO Para falar de A Salvação , faroeste dirigido em 2014 por Kristian Levring, talvez seja mais prudente começar mencionando o Dogma95, movimento cinematográfico do qual o diretor foi integrante. Não que haja paralelos estéticos entre os cânones criados pelos cineastas da Dinamarca em 1995 e esse filme sombrio, inspirado em grandes clássicos de um gênero americano por excelência. O que salta aos olhos são justamente as diferenças! Era de se esperar que uma produção dinamarquesa, roteirizada por Anders Thomas Jensen – outro expoente do Dogma95 que dirigiu recentemente o filme Loucos por Justiça – seguisse os “votos de castidade” combinados entre ele, Lars von Trier, Thomas Vinterberg e Kristian Levring: nada de efeitos especiais tecnológicos, nada de se ater a um gênero específico, nada de se desviar dos valores fundamentais da história, nada de menosprezar a importância das atuações, nada de prod

Déjà Vu: thriller policial que mistura romance e viagem no tempo

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Déjà Vu: filme dirigido por Tony Scott UM GRANDE ROTEIRO NAS MÃOS DE REALIZADORES COMPETENTES Todo mundo já experimentou a sensação: um lampejo de memória assume o comando da consciência e nos põe em dúvida acerca da realidade. Ficamos com um duplo registro, onde “já vivi essa situação anteriormente” passa a ocupar o mesmo espaço mental que “nunca vivi essa situação antes”. A impressão é a de que, a qualquer momento, estaremos diante da famigerada tela azul do Windows!           Que experiência instigante é um déjà vu! Enseja especulações em diferentes campos, da psicologia à espiritualidade, passando pela física, química, biologia, até chegar na... ficção científica, quando essa expressão em francês ganha contornos mais divertidos. O filme  Déjà Vu , realizado em 2006 por Tony Scott tem tudo para ser o perfeito exemplo daquilo que já vimos à exaustão no cinema: explosões, tiros, perseguições, vilões desalmados, policiais implacáveis, viagem no tempo... Mas espere! Há vários elementos

O Exterminador do Futuro: viagem no tempo para eliminar o líder da resistência

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O Exterminador do Futuro: direção de James Cameron O EMBATE FINAL ENTRE O HOMEM E A MÁQUINA No início dos anos 1990, estive a trabalho na Coreia do Sul. Recém-aberto para o mundo, o país fervia em otimismo e pujança econômica, mas os coreanos ainda se espantavam ao cruzar na rua com rostos ocidentais. Todos os olhares se desviavam na minha direção, literalmente. Era constrangedor. Certa manhã, numa rua movimentada de Seul, coloquei um par de óculos escuros, para ver se chamava menos atenção. Que nada! Ao dobrar uma esquina, dois garotinhos que brincavam se assustaram ao me ver. Saíram em disparada, aos berros:           – Terminator! Terminator!           Cai na risada. Olhei em volta, para ver se era algum tipo de pegadinha, porque meu porte físico era o oposto exato daquele ostentado por um Schwarzenegger. Além disso, estava usando barbas. E o Exterminado do Futuro não tem barbas! Concluí que bastou um simples par de óculos escuros para me caracterizar como o personagem daquele film

Posto de Combate: crônica de uma batalha real

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HOMENS COMUNS, VIVENDO UMA SITUAÇÃO EXTRAORDINÁRIA Este não é um filme de ação. É um drama de guerra, filmado como uma homenagem a soldados reais, que lutaram de verdade. Alguns morreram, outros saíram feridos e trouxeram sequelas de uma das mais difíceis batalhas no Afeganistão. Posto de Combate , dirigido por Rod Lurie em 2020, é o tipo de filme que causa arrepios nos ideólogos de plantão – aqueles que batem o pé no antiamericanismo, ainda que os inimigos da vez sejam os execráveis talibãs! Já os desavisados, que como eu tropeçam na capa desse filme no serviço de streaming e resolvem conferir, podem se decepcionar com a falta de cenas retumbantes e recheadas de efeitos especiais. Não encontrarão personagens retratados em profundidade, nem subtramas envolventes. Tudo o que acompanharão é uma espécie de crônica, que se apega à cronologia dos fatos para entregar um relato preciso do campo de batalha.           Em Posto de Combate , porém, encontrei muito mais do que dramatizações em lin

Terra Selvagem: uma ficção inspirada em fatos

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Terra Selvagem: direção de Taylor Sheridan ELEMENTOS DE WESTERN, NUM ROTEIRO IMPECÁVEL O diretor Taylor Sheridan realizou uma façanha e tanto. Em questão de três anos teve seu nome envolvido em três ótimos filmes, que alcançaram grande sucesso nas bilheterias e na opinião dos críticos. Primeiro, como roteirista, ele emplacou em 2015 o filme Sicario: Terra de Ninguém , dirigido por Denis Villeneuve. Repetiu a dose em 2016, com A Qualquer Custo , dirigido por David Mackenzie – inclusive indicado ao Oscar de melhor roteiro original. E em 2017 o próprio Sheridan decidiu filmar um de seus roteiros, realizando o ótimo Terra Selvagem . Apesar de contar histórias bem distintas, as três produções guardam um elemento em comum: a temática violenta, que se passa em terras remotas e fora do alcance da lei e da ordem. Os cinéfilos logo identificarão, nessa espécie de trilogia, os elementos herdados do gênero western, mas perceberão que eles aparecem renovados, utilizados com originalidade e sempre e

Última Chance: um policial em constante estado de perseguição

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Última Chance: direção de Steven C. Miller QUAL É MESMO O TÍTULO DAQUELE FILME? Segunda-feira à noite, esparramado no sofá, controle remoto na mão, navegando pelos serviços de streaming à cata de entretenimento... O risco de fazer a escolha errada e terminar decepcionado é imenso. Ainda assim, sou viciado nesse jogo! Mesmo quando aposto em um filme que se releva ruim, tento tirar algum proveito, alguma lição. Última Chance , dirigido em 2019 por Steven C. Miller, tem poucos ensinamentos para oferecer no campo cinematográfico, mas faz refletir sobre o imbróglio no qual estamos nos metendo enquanto sociedade hiperconectada. Mas antes de entrar nesse mérito, vamos pôr à mesa uma sinopse, para deixar claro que se trata de uma produção repleta de cartas marcadas.           Frank Penny (Aaron Eckhart) é outro daqueles policiais duros de matar, sem um passado que lhe dê base psicológica, caráter ou moral. Tudo o que temos para caracterizá-lo é o uniforme azul e a estampa do ator que o interpr

Batman: novo fôlego para o vigilante mascarado

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Batman: filme de Matt Reeves UM PERSONAGEM AFERRADO À SUA CONCEPÇÃO GRÁFICA – Onde fica Gotham City? – perguntei, enquanto mordia meu pão com queijo e mortadela. Meu pai não tirou o olho do jornal. Deu um longo gole na sua xícara de café fumegante e resmungou:           – Gotham City não existe! É uma cidade de mentira.           – Por que não fizeram a história numa cidade de verdade?           – Porque o Batman é de mentira. – E completou, olhando-me nos olhos: – Não existe!           Meu pai terminou de ler o jornal, despediu-se e saiu para o trabalho. Não gostava de histórias em quadrinho. Não perdia tempo com essas bobagens infantis. Diferente dele, eu adorava. Queria saber tudo sobre o Batman. Na minha infância, havia dois deles: o dos quadrinhos, que era mais raivoso e sombrio, e o da TV, mais engraçado e irreal. Mas havia apenas uma Gotham City, imensa e parecida com as cidades americanas. Para o meu pai, ela não existia, mas eu a enxergava como uma personagem. Era habitada por

Sicario: Terra de Ninguém: de que lado está o assassino?

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Sicario: Terra de Ninguém: filme de Denis Villeneuve LUTANDO NA FRONTEIRA DA ÉTICA E DA MORAL Os policiais, no seu esforço para combater o tráfico de drogas, estão do lado dos mocinhos. Os traficantes, aferrados à violência, estão na horda dos bandidos. O embate entre ambos os lados resulta em incontáveis cenas de ação, coreografadas com precisão e capturadas graficamente nos seus detalhes mais sórdidos. É o que temos no cardápio da maioria dos filmes policiais, interessados em oferecer entretenimento ligeiro e despreocupados em matar nossa fome de bom cinema. Em Sicario: Terra de Ninguém , filme de 2015 dirigido por Denis Villeneuve, o prato principal é outro: os realizadores fazem questão de nos servir um punhado de temas filosóficos e questões morais, envoltos por uma atmosfera de tensão e desorientação, temperados com um forte sabor amargo de realidade. No final, saímos empanturrados de tanto cinema de qualidade!           A violência é ingrediente salpicado com generosidade em vár

Avatar: ficção científica com significados espirituais

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Avatar: filme dirigido por James Cameron VAMOS ACABAR FLUENTES NO IDIOMA NA’VI Quando foi lançado em 2009, o filme Avatar , dirigido por James Cameron, extasiou os amantes da ficção científica. A promessa de imagens espetaculares, geradas por meio de tecnologias de ponta na computação gráfica, foi atrativo mais do que suficiente para me arrastar até um cinema IMAX, onde assisti ao filme em 3D. Precisei comprar os ingressos com antecedência – dois, porque fiz questão de levar Ludy comigo. Minha mulher não é exatamente uma entusiasta do gênero, mas entrou no cinema certa de que aproveitaria bons momentos de entretenimento. Saiu satisfeita, mas sem demonstrar um décimo da empolgação que se apoderou de mim. Na volta para casa, já fazia planos para revisitar o filme tantas vezes quanto fossem necessárias, até investigar todos os seus detalhes.           Para os cinéfilos mais concentrados na arte cinematográfica, Avatar é cinema comercial por excelência, rotulado imediatamente como peça de

A Guerra do Amanhã: ação, drama familiar e uma premissa descabida

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A Guerra do Amanhã: dirigido por Chris McKay HAVERÁ FUTURO PARA NOSSOS FILHOS E NETOS? Nesses dias conturbados, temos uma guerra entre russos e ucranianos sendo transmitida ao vivo por todas as plataformas. E uma das incômodas, que produzem cenas tristes, lamentáveis e absurdas de tanta destruição. Quando o conflito eclodiu, o que primeiro chamou a atenção da opinião pública foi a idade dos soldados no campo de batalha. Jovens de 18 ou 19 anos, metidos em uniformes e armados de fuzis, que não conseguem disfarçar a expressão assustada. Entretanto, não há novidade na convocação da juventude para encarar os horrores da guerra. A humanidade faz isso desde sempre. Deixa os donos do poder – eles mesmos os causadores das guerras – na retaguarda, para dar ordens e costurar as narrativas que julgarem apropriadas, enquanto os garotos morrem no front. Essa lógica cruel que rege as guerras de verdade aparece invertida no filme A Guerra do Amanhã , dirigido em 2021 por Chris McKay. Nessa ficção cie

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