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O Céu da Meia-noite: no final, a inevitável catástrofe global

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O Céu da Meia-noite: filme dirigido por George Clooney UM FILME DOIS EM UM: METADE INTIMISTA, METADE AVENTURA ESPACIAL O cinema é uma viagem! A ação que nos prende à tela também leva a divagações; traça uma imprevisível trilha de livre associações. Foi o que aconteceu comigo a certa altura de O Céu da Meia-noite , filme de 2020 dirigido e estrelado por George Clooney. Apesar da sua longa barba grisalha se destacar em cena, lembrei dele vivendo o psiquiatra Chris Kelvin, que investiga bizarrices numa estação espacial em Solaris , filme de 2002 escrito e dirigido por Steven Soderbergh. É importante lembrar que se tratava de um remake do clássico Solaris , de 1972, dirigido por Andrei Tarkovski – um dos melhores filmes de ficção científica já realizados.           Mas, de volta ao objeto desta crônica, quero ressaltar que o clima de confinamento e a esmagadora solidão que preenchem a estação espacial daquele filme de Tarkovski são os mesmos que sufocam o ...

Mussum, Keanu Reeves e os Beatles: uma combinação inusitada

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Submarino Amarelo: filme dirigido por George Dunning SARGENT PEPPER E SUA BANDA ACABAM COM QUALQUER PANDEMIA DE TRISTEZA Alguém aí anotou a placa do ano que furou o sinal, atropelou nossos planos e passou por cima das nossas rotinas? Como diria o Mussum, Keanu Reeves! Começamos 2020, ano em que eclodiu a pandemia do Coronavirus, com a ambição de prosperar, mas tivemos que nos contentar em apenas sobreviver. 2021, 2022, 2023 e 2024 não foram diferentes. O que esperar de 2025?           A politicagem berrou o ano inteiro, desafinada e estridente, com uma insistência de enlouquecer. Falsas dicotomias surgiram a cada dia nos noticiários, para insinuar que o bem comum e os direitos individuais são irreconciliáveis. Escolhemos um dos lados e nos entrincheiramos nas redes sociais. Disparamos sem piedade contra quem vai erradamente contra as nossas certezas. Angustiados, estamos na iminência de explodir.           Enquanto escrevo, ol...

Klaus: até Papai Noel deixou de ser o mesmo

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Klaus: filme dirigido por Sergio Pablos PAPAI NOEL PERDE A AURA ESPIRITUAL QUE ENVOLVE SÃO NICOLAU Ao longo da vida já enxerguei a noite de Natal por diferentes ângulos. Quando criancinha, sonolento dado o avançar das horas,  olhava os adultos de baixo para cima e  só prestava atenção no colorido dos papéis de presente, para tentar adivinhar qual deles seria o meu. Cresci e passei a enxergar o tampo da mesa, só para arregalar os olhos com a fartura da ceia. Comecei a trabalhar e senti o prazer de poder presentear. Casei-me e precisei me desdobrar em dois, um ano lá outro cá. Minha filha nasceu e me flagrei a olhar de cima para baixo, já que agora era responsável por manter as tradições.           Amadureci e entendi que confraternizar era mais do que apenas levantar brindes e tilintar os copos. É claro que a prendi os significados religiosos do Natal, mas influenciado pela mentalidade consumista, continuei concentrado na prática da confraternizaçã...

Fama: o musical de Alan Parker que marcou os anos 80

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Fama; filme dirigido por Alan Parker UM FILME QUE FALOU COM A JUVENTUDE DOS ANOS 80 Desde os tempos em que rodeávamos fogueiras e dividíamos cavernas, nos empenhamos em cultivar as capacidades que nos separam do restante dos animais. Nossos grunhidos viraram canto; nossas excitações, dança; nossas palpitações, batuque; nossas negociações, teatro; nossas memórias, pintura. Nos tornamos consumidores de arte, de tanto procurar por entretenimento para fugir do tédio. Milênios de prática nos levaram à perfeição: hoje mantemos em funcionamento uma indústria cultural diversificada, pródiga e onipresente. Não há uma única goma de mascar que não saia de fábrica rodeada por uma embalagem repleta de ... arte!           Assim que começamos a estabelecer o que é arte, percebemos que algumas das suas modalidades demandam um ingrediente especial: a performance. Não nos importamos com os trajes usados pelo compositor enquanto anota sua melodia na partitura; nem com o tom d...

Top 10 de 2020

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OS FILMES QUE MAIS DERAM O QUE FALAR AQUI NA CRÔNICA DE CINEMA           Crônica de Cinema é praticamente uma recém-nascida: está completando um ano! Nasceu como blog em janeiro de 2020. E olha, devo dizer que demanda tanto cuidado quanto uma filha de verdade. Exige atenção diária com pesquisa, planejamento, busca por imagens, diagramação, redação... Sempre com horário marcado. É um empreendimento gratificante, que me traz a oportunidade de conhecer gente que adora filmes tanto quanto eu – e sempre tem informações e opiniões para acrescentar. Além disso, permite extravasar o impulso urgente de escrever, que trago comigo desde sempre.           Para divulgar a Crônica de Cinema, criei uma página no Facebook e um perfil no Instagram. Minha ideia foi usar estas redes sociais como microblogs, postando textos mais longos do que o normal. Raciocinei da seguinte forma: quero me dirigir às pessoas que gostam de ler, que val...

Poder Absoluto: thriller assinado por Clint Eastwood

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Poder Absoluto: filme dirigido por Clint Eastwood ÓTIMOS ATORES RECITANDO UM TEXTO AFIADO Nos meus ouvidos de leitor jovem e inexperiente, o rótulo best-seller era colado aos livros de sucesso, na medida em que se tornavam os mais vendidos de seu gênero, mas também disparava um alarme intermitente, para avisar que só podia se tratar de leitura medíocre e dispensável. Preconceito? Certamente! Um que foi plantado naquela época pelo progressismo rabugento e antiamericano, cultivado pela minha geração distraída com os perigos da guerra cultural. Era best-seller ? Então era subliteratura ianque (Bom mesmo eram quaisquer outros livros arrancados das veias abertas da América Latina).           Com o tempo percebi que o selo best-seller não estava necessariamente atrelado aos resultados de vendas, mas podia ser empregado com astúcia pelas editoras dedicadas a promover esse ou aquele título. Também concluí que os resultados de vendas apresentados nas listas divulg...

Birdman (Ou a Inesperada Virtude da Ignorância): motivos de sobra para assisir

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Birdman: filme dirigido por Alejandro Iñárritu UMA GRANDE OUSADIA DO CINEMA,  FILMADA EM UM ÚNICO PLANO-SEQUÊNCIA Uma postagem da Crônica de Cinema sobre o filme 1917 , dirigido por Sam Mendes, rendeu comentários provocativos de seguidores da página no Facebook. Ficaram intrigados em relação às técnicas de filmagem que possibilitaram a montagem de apenas dois longos planos-sequência. A sugestão foi a de que escrevesse sobre tal proeza; embora não tenha credenciais para entrar nos meandros técnicos, decidi aceitar a provocação, mas levarei o assunto para um terreno que me é mais familiar: os recursos narrativos.           Para elevar a técnica do plano-sequência ao estado da arte, Sam Mendes contou com um vultoso orçamento, além de profissionais especializados e equipamentos de ponta. Seu filme é um espetáculo visual, mas não foi realizado em “duas tacadas”, como somos levados a crer; na verdade, há diversos planos-sequência colados entre si com tamanha...

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