Poder Absoluto: thriller assinado por Clint Eastwood
Poder Absoluto: filme dirigido por Clint Eastwood
Com o tempo percebi que o selo best-seller não estava necessariamente atrelado aos resultados de vendas, mas podia ser empregado com astúcia pelas editoras dedicadas a promover esse ou aquele título. Também concluí que os resultados de vendas apresentados nas listas divulgadas pelas revistas e cadernos de cultura eram irrelevantes; a preferência da maioria está longe de ser garantia de qualidade; além disso, a popularidade costuma beneficiar o conteúdo raso e fácil. Achei mais prudente guiar meus hábitos de leitura pelas resenhas críticas e pelo garimpo nas livrarias.
Dentre os livros que receberam o rótulo de best-seller, um que se encaixa nas ressalvas do parágrafo anterior é Poder Absoluto, escrito por David Baldacci e lançado em 1996. A maioria dos críticos torceu o nariz; as resenhas o classificavam como “bobo”, “para ler no aeroporto”, “grosseiro”, “pouco recomendável”... Mesmo assim, Hollywood não perdeu a oportunidade de adaptá-lo para as telas. Já no ano seguinte, em 1997, Poder Absoluto ocupou as salas de cinema, trazendo nos créditos o ator Clint Eastwood, que também assumiu a direção do filme.
Podemos dizer que o filme é vagamente baseado no romance. O roteirista William Goldman o reescreveu praticamente do zero e conseguiu a proeza de torná-lo mais palatável. Mas antes de entrar nos detalhes, acho mais prudente lembrar da sinopse: Poder Absoluto conta a história de Luther Whitney (Clint Eastwood) um reincidente ladrão de joias que invade uma mansão; é quando testemunha um assassinato brutal. A vítima é a mulher de um bilionário; o criminoso, ninguém menos que Alan Richmond (Gene Hackman) o jovem e corrupto presidente dos Estados Unidos. Acontece que o ladrão de joias não é um qualquer; é um daqueles personagens durões e infalíveis vividos por Clint Eastwood, que não se intimida nem mesmo quando o policial Seth Frank (Ed Harris) está na sua cola. Agora ele está com a vida em risco e terá que defender também a sua filha, Kate (Laura Linney). E terá que tomar decisões difíceis, que terão profundas implicações políticas.
Willian Goldman, roteirista de filmes como Maratona da Morte, Butch Cassidy e Todos os Homens do Presidente, costura aqui um roteiro preciso, com diálogos afiados e cenas repletas de oportunidades dramáticas; ele captura o clima de lascívia e corrupção da política na era Bill Clinton – quem não se lembra do escândalo sexual envolvendo Monica Lewinsky? O roteiro também oferece ao diretor a oportunidade de lidar com um tema que lhe é caro e recorrente: o relacionamento conturbado entre um pai e sua filha.
Na direção, Clint Eastwood faz um trabalho correto, ainda que protocolar. Em alguns momentos o percebemos ainda apegado aos simbolismos e cacoetes que fizeram sua fama nos filmes de ação; entretanto, aqui ele não depende dos tiroteios e perseguições para entregar um thriller policial ágil e frenético; prefere se agarrar nos diálogos bem escritos. Com personagens bem desenhados, o diretor ganha liberdade para articular uma linguagem visual fluente e cria cenas com forte apelo cinematográfico. Apesar de se estender por mais de duas horas, seu filme parece enxuto e conciso.
Em Poder Absoluto, o personagem interpretado por Clint Eastwood ganha certa profundidade. Apesar do desvio de caráter, que o reduz a um mero ladrão, ele aos poucos revela seus valores e seus códigos de conduta. Perseguido pela polícia e por gente muito poderosa, suas ações são imprevisíveis e surpreendentes. O restante do elenco também entrega boas atuações, com destaque para Ed Harrys e Laura Linney. Gene Hackman, sempre carismático, soa um tanto estereotipado, mas é Judy Davis que se mostra o elo mais fraco.
Não sei explicar o porquê, mas não aprecio filmes protagonizados por ladrões, vigaristas e larápios. Para romper com essa implicância inicial o enredo precisar ser muito bom. Poder Absoluto conseguiu esse feito e capturou minha atenção; não está entre os grandes filmes assinados pelo diretor, mas reúne diversas qualidades que me lavam a recomendá-lo. Depois que você dá o play, mergulha numa trama policial com desdobramentos políticos e só pensa em descobrir como ela vai terminar. É um filme envolvente.Título original: Absolute Power
ÓTIMOS ATORES RECITANDO UM TEXTO AFIADO
Nos meus ouvidos de leitor jovem e inexperiente, o rótulo best-seller era colado aos livros de sucesso, na medida em que se tornavam os mais vendidos de seu gênero, mas também disparava um alarme intermitente, para avisar que só podia se tratar de leitura medíocre e dispensável. Preconceito? Certamente! Um que foi plantado naquela época pelo progressismo rabugento e antiamericano, cultivado pela minha geração distraída com os perigos da guerra cultural. Era best-seller? Então era subliteratura ianque (Bom mesmo eram quaisquer outros livros arrancados das veias abertas da América Latina).Com o tempo percebi que o selo best-seller não estava necessariamente atrelado aos resultados de vendas, mas podia ser empregado com astúcia pelas editoras dedicadas a promover esse ou aquele título. Também concluí que os resultados de vendas apresentados nas listas divulgadas pelas revistas e cadernos de cultura eram irrelevantes; a preferência da maioria está longe de ser garantia de qualidade; além disso, a popularidade costuma beneficiar o conteúdo raso e fácil. Achei mais prudente guiar meus hábitos de leitura pelas resenhas críticas e pelo garimpo nas livrarias.
Dentre os livros que receberam o rótulo de best-seller, um que se encaixa nas ressalvas do parágrafo anterior é Poder Absoluto, escrito por David Baldacci e lançado em 1996. A maioria dos críticos torceu o nariz; as resenhas o classificavam como “bobo”, “para ler no aeroporto”, “grosseiro”, “pouco recomendável”... Mesmo assim, Hollywood não perdeu a oportunidade de adaptá-lo para as telas. Já no ano seguinte, em 1997, Poder Absoluto ocupou as salas de cinema, trazendo nos créditos o ator Clint Eastwood, que também assumiu a direção do filme.
Podemos dizer que o filme é vagamente baseado no romance. O roteirista William Goldman o reescreveu praticamente do zero e conseguiu a proeza de torná-lo mais palatável. Mas antes de entrar nos detalhes, acho mais prudente lembrar da sinopse: Poder Absoluto conta a história de Luther Whitney (Clint Eastwood) um reincidente ladrão de joias que invade uma mansão; é quando testemunha um assassinato brutal. A vítima é a mulher de um bilionário; o criminoso, ninguém menos que Alan Richmond (Gene Hackman) o jovem e corrupto presidente dos Estados Unidos. Acontece que o ladrão de joias não é um qualquer; é um daqueles personagens durões e infalíveis vividos por Clint Eastwood, que não se intimida nem mesmo quando o policial Seth Frank (Ed Harris) está na sua cola. Agora ele está com a vida em risco e terá que defender também a sua filha, Kate (Laura Linney). E terá que tomar decisões difíceis, que terão profundas implicações políticas.
Willian Goldman, roteirista de filmes como Maratona da Morte, Butch Cassidy e Todos os Homens do Presidente, costura aqui um roteiro preciso, com diálogos afiados e cenas repletas de oportunidades dramáticas; ele captura o clima de lascívia e corrupção da política na era Bill Clinton – quem não se lembra do escândalo sexual envolvendo Monica Lewinsky? O roteiro também oferece ao diretor a oportunidade de lidar com um tema que lhe é caro e recorrente: o relacionamento conturbado entre um pai e sua filha.
Na direção, Clint Eastwood faz um trabalho correto, ainda que protocolar. Em alguns momentos o percebemos ainda apegado aos simbolismos e cacoetes que fizeram sua fama nos filmes de ação; entretanto, aqui ele não depende dos tiroteios e perseguições para entregar um thriller policial ágil e frenético; prefere se agarrar nos diálogos bem escritos. Com personagens bem desenhados, o diretor ganha liberdade para articular uma linguagem visual fluente e cria cenas com forte apelo cinematográfico. Apesar de se estender por mais de duas horas, seu filme parece enxuto e conciso.
Em Poder Absoluto, o personagem interpretado por Clint Eastwood ganha certa profundidade. Apesar do desvio de caráter, que o reduz a um mero ladrão, ele aos poucos revela seus valores e seus códigos de conduta. Perseguido pela polícia e por gente muito poderosa, suas ações são imprevisíveis e surpreendentes. O restante do elenco também entrega boas atuações, com destaque para Ed Harrys e Laura Linney. Gene Hackman, sempre carismático, soa um tanto estereotipado, mas é Judy Davis que se mostra o elo mais fraco.
Não sei explicar o porquê, mas não aprecio filmes protagonizados por ladrões, vigaristas e larápios. Para romper com essa implicância inicial o enredo precisar ser muito bom. Poder Absoluto conseguiu esse feito e capturou minha atenção; não está entre os grandes filmes assinados pelo diretor, mas reúne diversas qualidades que me lavam a recomendá-lo. Depois que você dá o play, mergulha numa trama policial com desdobramentos políticos e só pensa em descobrir como ela vai terminar. É um filme envolvente.
Resenha crítica do filme Poder Absoluto
Ano de produção: 1997
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: William Goldman
Elenco: Clint Eastwood, Gene Hackman, Ed Harris, Laura Linney, Scott Glenn, Dennis Haysbert, Judy Davis, EG Marshall, Melora Hardin, Kenneth Welsh, Penny Johnson, Richard Jenkins, Mark Margolis e Alison Eastwood
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: William Goldman
Elenco: Clint Eastwood, Gene Hackman, Ed Harris, Laura Linney, Scott Glenn, Dennis Haysbert, Judy Davis, EG Marshall, Melora Hardin, Kenneth Welsh, Penny Johnson, Richard Jenkins, Mark Margolis e Alison Eastwood
Olá, Fabio!! Tem um filme o qual acredito que com certeza vai fazer você romper com essa implicância de não apreciar filmes que têm ladrões, vigaristas e larápios como protagonistas. Estou falando de Golpe de Mestre, com Paul Newman e do Robert Redford, você já assistiu? Se sim, gostaria muito de ler um comentário seu sobre ele, se não, lhe indico e tenho certeza que você não vai se decepcionar, pois percebo em suas crônicas que você gosta muito de um bom roteiro extremamente rocambolesco e inteligente, isso o filme tem de sobra. Grande abraço!!
ResponderExcluirAh, Bido Monteiro, Golpe de Mestre é um grande filme. Vi e revi, mas foi há anos. Sua dica é ótima. Vou acrescentá-lo na minha lista para revisitá-lo e escrever um comentário. Mas minha implicância é apenas porque já assisti a filmes onde acabam abrindo concessões morais, ou insinuam que a "ética" entre bandidos é suficiente. Quando a histórias é boa e vale a pena ser contada, não me importo com a temática. Veja, por exemplo, Pulp Fictiom, que é basicamente sobre larápios e bandidos, mas Tarantino não os torna heróis.
ExcluirRecomendo também uma passagem pelo poderoso cinema noir americana dos anos 40, 50... De uma relíquia que tem bandido como personagem mas sem o clichê que menciona se. OU THE PAST/FUGA AO PASSADO de 1947 com Robert Mitchum e Kirk Douglas (este ainda não laureado mas incrivelmente sociopatico) vale a conferida como sua análise, apresentando aos que não conhecem essa pequena obra prima com um final sui generis.
ExcluirAh, Alexander, essa é mesmo uma boa dica. Ainda não assisti a esse filme. Vou procurar e tentar conferir! Valeu!
ExcluirCinismo a toda prova
ResponderExcluirÓtima película
Cinismo a toda prova
ResponderExcluirÓtima película
Cinismo a toda prova
ResponderExcluirÓtima película
Assisti recentemente um filme deste diretor, As pontes de Madson. Recomendo.
ResponderExcluirAh, muito bem lembrado! As Pontes de Madison é um ótimo filme, que precisa ser comentado aqui no blog. Vou Providenciar!
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