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O Leitor: verdade ou ficção?

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O Leitor: direção de Stephen Daldry COMO VIVER À SOMBRA DOS CRIMES DO NAZISMO? É empolgante esbarrar em grandes títulos escondidos nos serviços de streaming. Outro dia, Ludy e eu já estávamos desanimados – quase prontos para nos render a um filminho qualquer – quando nos surge a capa de O Leitor , filme dirigido em 2008 por Stephen Daldry. As estampas de Kate Winslet e Ralph Fiennes apareceram como um alento. Pronto! Não precisávamos mais nos conformar com a mediocridade! Foi dar o play e fruir cinema de verdade.           De imediato me ocorrem três pontos que precisam ser destacados sobre O Leitor : primeiro, Kate Winslet venceu o Óscar por sua atuação nesse filme, com justiça. Que interpretação! Segundo, o filme remete ao Holocausto, mexendo com a culpa que remoeu a consciência dos alemães nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra. E terceiro, as pitadas de erotismo, espalhadas com pertinência e sensibilidade por todo o primeiro ato do filme, elevaram ainda mais a qualidade do dr

Star Trek: um rebbot criativo e empolgante

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Star Trek: direção de J. J. Abrams NÃO PRECISA SER FÃ INVETERADO PARA SE DELICIAR Por que Star Trek , a série de TV criada em 1966 por Gene Roddenberry, funcionou tão bem no imaginário popular, a ponto de se tornar um latifúndio na cultura pop? Os star trekkers já devem ter se apoderado de um significativo percentual de todos os megabytes da internet, tamanha a vastidão de informações disponíveis sobre as séries, filmes, games, quadrinhos, livros, brinquedos e outras bugigangas derivadas da série original. Geração após geração, o número de fãs incondicionais só aumenta. Os anos passam e o sucesso de Star Trek segue em velocidade de dobra, rumo ao infinito e além – para usar aqui um tom de propositada heresia!           Aposto que nem mesmo os marqueteiros detentores dos direitos da franquia conhecem a resposta para a pergunta lá do começo. Talvez colecionem um punhado de respostas, cada uma delas ensejando dezenas de novas perguntas. Vejo esse estrondoso sucesso como um daqueles fenô

Direto ao Conto - 4

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AdvocacIA São Paulo, 7 de novembro de 2048 – 19h12 . João entrou ofegante na sala de embarque e encontrou todas as poltronas ocupadas. Muitos aguardavam de pé. Por sorte, um idoso sentado a poucos metros dele se levantou, pegou a bagagem de mão e saiu apressado. Que sincronia providencial! João não precisou demonstrar afobação nem ser deselegante. Apenas se sentou. Ajeitou a gravata, tirou o celular do bolso e retomou a leitura do seu livro, tentando parecer despreocupado e entediado, como cabe a todo passageiro calejado de viagens aéreas. Mas logo perdeu a pose: uma mensagem da Estatal de Correios veio para o primeiro plano, como um alerta inoportuno:           “João Hermes de Araújo. Cruzamos seus dados de origem e destino e identificamos uma oportunidade de otimização logística. Trata-se de um pacote remetido para o seu endereço, a ser entregue para seu vizinho do apartamento 1612. A remessa chegará às suas mãos por meio de um de nossos drones. O pacote já foi inspecionado pelas aut

The Chosen / Os Escolhidos: é impossível não maratonar!

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The Chosen / Os Escolhidos: série criada por Dallas Jenkins COMO NA BÍBLIA, MAS NUMA LINGUAGEM MAIS... ATUAL! Não sou espectador habitual de filmes, séries ou novelas religiosas. Meus vínculos com o catolicismo se desfizeram na minha juventude – preferi vagar por aí sem uma religião para seguir. Embora tenha me apresentado desde então como um descrente, aviso que não atirei pela janela os valores cristãos que minha família fez questão de me incutir. Se me pus contrário às distorções corporativas que enxergava na Igreja e me atrevi a discutir os dogmas que não conseguia engolir, continuei agarrado à moral e aos valores éticos que aprendi. Os considero essenciais para que a humanidade possa seguir com o processo civilizatório.           Essa longa introdução tem uma finalidade: deixar claro que se decidi conferir a série The Chosen / Os Escolhidos , criada em 2017 por Dallas Jenkins, foi por pura curiosidade de cinéfilo inveterado, interessado mais na sétima arte do que nos temas religio

Oppenheimer: a verdadeira história do pai da bomba atômica

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Oppenheimer: direção de Christopher Nolan ANTES DE TUDO, UM FEITO NARRATIVO Há filmes que nos chegam rotulados como cinemão, embalados em papel de presente, esbanjando imponência e prometendo grandiosidade. São vendidos pela indústria como eventos especiais, marcantes e indispensáveis. É o caso de Oppenheimer , filme de 2023 dirigido por Christopher Nolan, um cineasta superlativo, que nos fez correr aos cinemas para ver na tela grande títulos como Dunkirk e A Origem . Ele agora repete a dose, contando uma história épica!           Sim, Oppenheimer é o cinemão que os marqueteiros anunciaram. Uma produção endinheirada e cuidadosa, realizada como um espetáculo audiovisual para ser apreciado nas minúcias, com um roteiro sólido, um elenco engajado e uma narrativa envolvente. Christopher Nolan nos entregou um filme primoroso e abordou o tema com inteligência. Concentrou-se em investigar um personagem complexo – ninguém menos do que o “pai da bomba atômica” – e nos transportou para dentro d

A Sociedade da Neve: história real contada de forma mais verdadeira

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A Sociedade da Neve: direção de J. A. Bayona PARA ALÉM DA AÇÃO, FICAMOS COM O EMOCIONAL E O ESPIRITUAL Quando li no serviço de streaming a sinopse de A Sociedade da Neve , dirigido em 2023 por Juan Antonio Bayona, de imediato fui açoitado por uma pergunta incômoda: por que raios alguém se atreveria a recontar essa história tão penosa dos sobreviventes dos Andes? Mas em se tratando do cineasta Juan Antonio Bayona, diretor do excelente O Impossível , deduzi que a justificativa deveria ser das boas! É de fato é!           O cinéfilo atento já percebeu que se trata de um remake do filme Vivos , de 1993, que por sua vez é um remake de Os Sobreviventes do Andes , de 1976. Conta a história do fatídico voo 571 da Força Aérea Uruguaia que em 1972 transportava 45 passageiros – entre eles 18 jovens jogadores de um time de rugby de Montevideo – quando acabou se espatifando nas montanhas geladas dos Andes. Sobreviveram apenas 16 passageiros, depois de amargarem 72 dias de sofrimento e precisarem s

Amnésia: sem memória recente, não há realidade

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Amnésia: direção de Christopher Nolan DELÍRIOS SOBRE FOTOS, ANOTAÇÕES E TATUAGENS Sabe quem está enfrentando problemas para lidar com memórias recentes? O mundo! Quando deixamos embolorar as páginas da história, só conseguimos ler aquelas escritas há pouco. Ontém, enxergávamos as de uma década. Antes disso, as de 50 anos, um século, duzentos anos... Atualmente, parece que só as dos últimos cinco anos são legíveis. Quer um exemplo? Vou dar um muito bobo, mas simbólico. Quando era rapaz, adorava ouvir rock e fingir que estava tocando a guitarra na hora do solo. Fazia caras e bocas e me divertia. Chamava isso de... fingir que estava tocando guitarra. Os jovens que me sucederam batizaram a prática de Air Guitar – chegaram a criar concursos e campeonatos mundiais da modalidade! Os jovens que sucederam a esses jovens, se esqueceram desse nome criativo. Outro dia tropecei num post na rede social, onde um deles dizia gostar de... fingir que está tocando guitarra na hora do solo! O que foi que

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