Amadeus
COM ESSE FILME APRENDEMOS A AMAR WOLFGANG AMADEUS MOZART E A
REPUDIAR ANTONIO SALIERI

Amadeus: filme dirigido por Milus Forman
Quando me
interessei por escrever histórias – um dos meus hobbies – comecei a investigar em
detalhes os filmes que me impactaram, para aprender com eles. Pus no papel
alguns títulos de vários gêneros, todos assinados por grandes diretores. Kubrick,
Fellini, Polanski, Truffaut... Quando conferi a lista, um nome me saltou aos
olhos: Amadeus, do Milus Formam. Fiquei
intrigado. Por que raios esse filme estava lá no topo da minha lista?
– Ah, é um filme
maravilhoso – disse Ludy, quando mostrei a ela a relação dos filmes que
pretendia “maratonar”. E continuou elogiando: – a música, a recriação da época,
os atores incríveis... É emocionante!
– É, mas tem
uma história simples. E são quase três horas de duração!
– Jura? A
gente nem percebe – disse minha mulher, sem dar a mínima para os meus argumentos.
Ela estava
certa. Na primeira vez que assisti ao filme Amadeus, à época do seu lançamento em 1984, nem vi o tempo passar. Sabia
muito pouco sobre Mozart e sua música, apenas o que se aprende nos bancos
escolares. Mas saí do cinema enfurecido com o tal Salieri. Que vilão asqueroso
e repugnante! Torci para que ele, no final, pagasse caro por tanta inveja e
arrogância. Fiquei tão envolvido com a história contada que esqueci de examinar
os aspectos cinematográficos.
Esse era o
talento do Milus Forman! Fez isso em Um
Estranho no Ninho e Hair, para
ficar nos seus filmes mais famosos. Parece que nas suas mãos o cinema ficava
transparente, como se não fôssemos espectadores, mas “mosquinhas”
capazes de compartilhar o mesmo ambiente dos personagens, sem ser notados. O
sujeito sabia como contar uma história!
E que
história! Se cometi o sacrilégio de carimbá-la como simples, agora mordo a língua.
Apesar de não exigir idas e vindas no tempo e não precisar de pontos de virada
arrebatadores, ela possui todos os ingredientes para prender a atenção. Os
personagens que entram em saem cumprem funções dramáticas bem definidas, há
momentos para rir, para se emocionar, para ser tomado pela apreensão e para se entregar
ao puro deleite estético, musical e plástico.
Por óbvio
não podemos tirar os méritos de Peter Shaffer, que inclusive ganhou o Óscar de
melhor roteiro adaptado por seu trabalho em Amadeus, mas é preciso lembrar que ele se baseou na peça com o
mesmo título que escreveu em 1979, inspirada por sua vez na peça Mozart &
Salieri, do russo Alexander Pushkin. Ou seja, essa história já tem muita
história!
Para contá-la,
o recurso utilizado é brilhante: o protagonista não é o imortal Mozart, ainda
idolatrado há mais de trezentos anos pela sua genialidade musical, mas sim um
invejoso Salieri sem antecedentes dignos de nota junto ao grande público. Vamos
sendo apresentados a ele, conhecendo seu caráter e seus pecados, enquanto faz
confissão ao padre que veio lhe conceder a extrema unção. A narrativa segue
linear, mas volta à confissão de Salieri sempre que há necessidade de retomar
o fôlego narrativo.
A inveja,
esse sentimento perturbador e abominado, mas facilmente reconhecido e compreendido
de tão universal, é o fio condutor que nos leva da infância prodigiosa de
Mozart até sua morte em circunstâncias lamentáveis. É a inveja que Milus Forman
ressalta o tempo todo, assim como os motivos de sobra que o genial compositor dá
àqueles que se deixam contaminar por ela. E apesar dela, Wolfgang Amadeus Mozart segue
invencível e adorado. Mas o ardil de Antonio Salieri vai se tornando mais perigoso e
derradeiro. E quando percebemos, já se passam quase três horas de filme!
Sim, os momentos musicais são primorosos – as gravações
foram executadas especialmente para o filme, mantendo fidelidade com as
partituras originais do compositor. As locações e objetos de cena são
deslumbrantes, os figurinos impecáveis, a fotografia esmerada e a direção de
arte não poderia ser melhor. Lidando com tudo isso, temos um diretor
concentrado em contar sua história, sem se desviar por futilidades, preocupar-se em demonstrar virtuosismo ou assumir atitudes “estilosas”.
A lição que
tiro disso tudo é simples: uma boa história é contada por si mesma, pelas falas e ações dos seus personagens. Depois que estruturou a narrativa, o contador de
histórias só precisa criar a atmosfera certa e dar vazão aos seus anseios
estéticos. Muitos filmes terminam capengas porque os realizadores se preocupam
mais com os devaneios estéticos. Por sorte Milus Forman era esse sujeito
concentrado!
O impacto
que o filme Amadeus causou na cultura
pop dos anos 80 foi imenso. Salieri, injustamente, virou a personificação da
inveja – sua disputa com Mozart jamais existiu fora do mundo das lendas e das
especulações. Apesar de não ser uma cinebiografia, mas sim uma ficção com
elementos históricos dramatizados, a música do genial compositor voltou a ser
cultuada e seu legado artístico alcançou de novo o grande público.
Amadeus venceu o Óscar em oito
categorias: melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor direção de arte,
melhor figurino, melhor maquiagem, melhor som e melhor roteiro adaptado. Melhor
não deixar de assistir a esse filme!
Um romance com sotaque de cinema. Em 278 páginas narra a história de Daniel, um garoto de 9 anos que em 1969 se vê às voltas com o abandono, vivendo momentos de amadurecimento e superação. À venda no Clube de Autores.
Filme: Amadeus
Direção: Milos Forman
Roteiro: Peter Shaffer
Elenco: F. Murray Abraham, Tom Hulce e Elizabeth Berridge
Excelente e emocionante texto. Uma crítica informativa, bem como uma crônica de impressões subjetivas muito bonita. Parabéns! Vou acompanhar.
ResponderExcluirOlá, Carlos Gabriel, muito obrigado pelo seu comentário. Tenho procurado escrever semanalmente um texto mais longo. enquanto faço posts diários no Facebook, sempre usando o cinema como pretexto. Minha intenção é expandir o conteúdo aos poucos, na medida em que receber o feedback dos leitores. Um grande abraço!
ExcluirAdorei
ResponderExcluirValeu! Muito obrigado!
ExcluirClaro que amei seu texto, descreveu plenamente meus sentimentos quando assisti. Não poderia fazer melhor e mais interessante. Poucas leituras me seguram como as suas. Parabéns.
ResponderExcluirPuxa! Muito obrigado! Fico feliz!
ExcluirParabéns e obrigado.
ResponderExcluirObrigado, Ruy Maclen! Mas sou eu quem agradece pelo seu comentário. Um abraço!
ExcluirOlha esse filme me deixou fora desse mundo. FOi o filme que mais me marcou.
ResponderExcluirEstava com 20 anos quando assisti e fiquei deslumbrado com ele. Nao so me remeteu a lugares
que nunca estive antes, mas a um tempo que nao era o meu. Me tornei mais admirador da
musica classica e me apaixonei pela obra e pelo compositor Mozart. Nao tenho certeza se foi
um dos influenciadores na minha carreira de professor de musica, mas foi com certeza um
dos influenciadores a ir ate Salzburg na Austria para visitar a cidade e casa de Mozart. Ja o que voce
descreve aqui deve ter sido com certeza o que eu senti e nunca pude colocar em palavras. Por isso o
que voce nos faz lembrar, entender, desvendar e recordar, eh exatamente o que voce nos conta a respeito do contador de historias. O seu modo que com palavras nos remete ao filme, ele o autor do filme nos remete em imagens. Parabens aos artistas das palavras, eles sao o alimento de nossas imaginacoes. Obrigado por me lembrar denovo desse grande filme.
Olá Joceli, sou muito grato por suas palavras. É muito bom poder interagir com aqueles que compartilham dos mesmos interesses, com sensibilidade e conhecimento. Gosto de escrever e quando recebo incentivos como esse, é realizador! Quanto ao filme Amadeus, percebo que ele o transportou para o mundo da música, enquanto o meu destino foi o mundo das histórias. Mas também adoro música e certamente você se interessa por boas histórias. Então, viva o cinema!!!!! Abração!
ResponderExcluirValeu, Fábio! Fiquei até inspirado para melhorar a minha escrita ficcional.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo comentário, Abdul Karin Taha. Espero que possamos trocar mais ideias sobre escrita e sobre filmes. Um forte abraço!
ExcluirMuito bom o seu texto! Me deu vontade de rever o filme! Estou gostando muito das crônicas que publica aqui!
ResponderExcluirLegal, fico agradecido! É um grande incentivo para continuar publicando!
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