Horizonte Profundo: Desastre no Golfo: foi assim que tudo aconteceu!

Cena do filme Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo: direção de Peter Berg

HÁ MUITA EMOÇÃO POR TRÁS DE TODA A PIROTECNIA

Sou um cinéfilo convicto, mas sigo uma dieta rica em outros produtos audiovisuais: séries, reality shows, documentários, programas de variedades... Quando meu lado nerd vem à tona, gosto de assistir às séries educativas do Discovery Chanel, como Mundo Gigante com Richard Hammond. Num dos episódios, lembro que o jornalista inglês visitou a maior plataforma de petróleo do mundo, em operação no Golfo do México. Hammond é carismático e sabe capturar o interesse dos espectadores. Além de nos pôr surpresos com o gigantismo da plataforma e suas complexidades operacionais, desceu ao nível dos detalhes mais banais, mostrando o dia-a-dia dos trabalhadores que lá passam confinados de quinze em quinze dias. Mais que isso, Hammond conseguiu passar uma noção espacial de toda a plataforma, dando uma compreensão das distâncias e da localização dos seus diferentes recintos. Ao final do programa, o que me veio foi uma ideia fixa: preciso assistir novamente ao filme Horizonte Profundo: Desastre no Golfo, dirigido em 2016 por Peter Berg.
        Já havia assistido a esse filme, mas não me recordava dos detalhes. Lembrava da narrativa ágil, da abordagem realista e da intensidade emocional alcançada pelo roteiro. Ainda assim, não me deixei empolgar. Fui vítima da inevitável confusão espacial que toma conta de todos os que não conhecem a vida no interior de uma plataforma de petróleo. O triste evento, que resultou no maior desastre ambiental provocado pelo homem, terminou retratado como uma sucessão enfadonha de explosões luminosas e fumegantes.
        Assim que o programa de Richard Hammond chegou ao fim, fucei as plataformas de streaming e apertei o play em Horizonte Profundo: Desastre no Golfo. Dessa vez, o resultado foi bem diferente! O drama dos que sobreviveram ficou muito mais claro, assim como o respeito pelos que perderam a vida e a raiva pela omissão dos gananciosos. Agora que compreendia o leiaute da plataforma, consegui acompanhar a ação com mais desenvoltura. A sucessão de explosões, suas causas e consequências, ganharam encadeamento lógico e deixaram de ser mera pirotecnia. Não me deixei hipnotizar por elas e passei a acompanhar o drama dos personagens, que viveram essa triste história real.
        A Deepwater Horizon era uma plataforma plantada na costa da Louisiana, com 126 tripulantes, empregados da BP Oil. Em dezembro de 2010 ela explodiu, matando 11 deles e derramando 50 mil barris de petróleo por dia no Golfo do México, numa agonia ambiental que se estendeu por 87 dias. O filme de Peter Berg é fiel aos fatos e nos põe na cola de alguns personagens que viveram aquele inferno. Começamos pelo eletricista chefe Mike Williams (Mark Wahlberg), pelo gerente da plataforma, Mr. Jimmy Harrell (Kurt Russell) e pela operadora Andrea Fleytas (Gina Rodriguez). Eles chegam à plataforma para sua jornada de quinze dias e descobrem que, por ordem de Donald Vidrine (John Malkovich), um dos executivos da BP Oil, não foram realizados testes de pressão que garantem a integridade do cimento usado para selar o poço do reservatório. Depois de longas discussões, com argumentos de segurança pelo lado dos operários e pressões financeiras pelo lado dos engravatados, o teste é realizado, mas o inevitável acontece: uma cadeia de falhas leva à explosão do poço e tudo acaba em chamas. A partir daí passamos a acompanhar a luta dos tripulantes para sobreviver, ao custo de muito sofrimento e de atos heroicos surpreendentes.
        A base para Horizonte Profundo: Desastre no Golfo foi o artigo intitulado Deepwater Horizon's Final Hours, publicado no jornal The New York Times e assinado por David Barstow, David S. Rohde e Stephanie Saul. Os produtores do filme compraram os direitos de adaptação e contrataram o roteirista Matthew Sand para produzir um primeiro rascunho. Mais tarde, o roteirista Matthew Michael Carnahan – ele já escreveu ótimos filmes de ação, como Guerra Mundial Z, O Reino e Crime Sem Saída – foi encarregado de produzir o tratamento final.
        Carnahan teve que lidar com um tema complexo e repleto de controvérsias, que só pode ser explicado por meio de um jargão técnico e inacessível ao grande público. Preferiu então se concentrar no drama de vida e morte dos personagens, colocando as emoções em primeiro plano. Entrevistou sobreviventes e conversou com as famílias das 11 vítimas fatais, para costurar uma narrativa envolvente e verossímil. Ele conta que encontrou o fio da meada quando conheceu a história de Mike Williams. A partir daí, encontrou material para falar sobre os atos de heroísmo que as pessoas comuns são capazes de realizar em situações limite.
        Horizonte Profundo: Desastre no Golfo é exatamente isso: um filme de desastre! Tenta colocar o espectador no centro de um evento gigantesco e catastrófico, assim como fez Titanic, o arrasa-quarteirão de James Cameron. Mas aqui, o diretor Peter Berg abriu mão de uma ferramenta valiosa, que Cameron usou com maestria naquele seu filme: uma cena expositiva mostrando a maquete do navio, seus compartimentos, como bateu no iceberg, como o naufrágio se deu, onde ficava a primeira classe, onde estavam os botes salva-vidas... Pronto! O espectador está devidamente orientado acerca da distribuição espacial da ação.
        Peter Berg é um diretor experiente. Transita com desenvoltura entre o documental e a dramatização, sempre mantendo os fundamentos da realidade para envolver o espectador. Ele fez isso com maestria em O Dia do Atentado e repetiu a proeza em Horizonte Profundo: Desastre no Golfo, mas infelizmente não foi suficiente. Quem desconhece as intimidades de uma plataforma de petróleo – ou ainda não assistiu ao programa de Richard Hammond! – vai ficar boiando. Talvez chegue aos créditos finais um tanto desorientado e entediado.

Resenha crítica do filme Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

Título original: Deepwater Horizon
Ano de produção: 2016
Direção: Peter Berg
Roteiro: Matthew Sand e Matthew Michael Carnahan
Elenco: Mark Wahlberg, Gina Rodriguez, Kurt Russell, John Malkovich, Ethan Suplee, Kate Hudson, Dylan O'Brien, Jason Kirkpatrick, Henry Frost, Brad Leland, Johnathan Angel, J. D. Evermore, Jeremy Sande, Jason Pine, Trace Adkins, Joe Chrest, James DuMont, Dave Maldonado, Douglas M. Griffin e Juston Street

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