Postagens

Os Gritos do Silêncio: fugindo do extermínio no Camboja

Imagem
Os Gritos do Silêncio: filme dirigido por , Roland Joffé O JORNALISMO REGISTRA OS FATOS, O CINEMA REVOLVE O DRAMA Imagino Karl Marx e Friedrich Engels fumando seus charutos e bebendo ao lado da lareira, enquanto escolhem as palavras certas para rechear seus manifestos contra o sistema capitalista. Um impõe como prioridade acabar com a propriedade privada, o outro, primeiro quer desestruturar a família. Um deseja acabar com a interferência da religião, o outro, garante que é a liberdade individual que precisa ser limitada. Espiritualidade? Moral tradicional? O que importa são os bens materiais. Os meios de produção têm que passar para as mãos do estado!           Estou certo de que a dupla não se julgava inofensiva. Eram revolucionários dispostos a quebrar todos os ovos para fazer suas omeletes; ainda assim, dou a eles o benefício da dúvida: talvez não atinassem para as atrocidades que seriam cometidas pelos seus futuros seguidores. Com algumas variações, a ...

Fratura: filme fraco, com um roteiro... trincado!

Imagem
Fratura: filme dirigido por Brad Anderson AQUI, O ROTEIRISTA SÓ QUER MANIPULAR O ESPECTADOR Antes de mais nada, é preciso que se diga: estamos diante de um filme fraco – decepcionante até mesmo para aqueles que não se interessam pelas minúcias do cinema e buscam apenas por distração rasa. Fratura , dirigido em 2019 por Brad Anderson, é um suspense psicológico sem profundidade, aferrado aos clichês e... esquecível! Escolheu como tema a insanidade e nos traz um protagonista que se vê confrontado com ela, cena após cena, enquanto consome suas energias apenas para tentar mostrar a todos que não é louco.           – Ah, mas esse tema é instigante e complexo! – diriam os cinéfilos acostumados a colecionar títulos relevantes sobre a loucura, como Taxi Driver , Ilha do Medo , Se7en - Os Sete Crimes Capitais , Fragmentado , O Inquilino e tantos outros.  Também fui fisgado pelo mesmo raciocínio.   Por pura curiosidade, decidi dar o play nessa produção da N...

O Homem nas Trevas: suspense e terror num filme autoral

Imagem
O Homem nas Trevas: Fede Alvarez TENSÃO, SUSPENSE E EXCELÊNCIA NARRATIVA Filmes de terror não são meus favoritos. Prefiro investir meu tempo em outros gêneros, que não me tiram o sono, não me deixam apreensivo ao entrar em quartos escuros e não me causam asco a ponto de querer vomitar. Às vezes, porém, resolvo dar uma espiada em alguns títulos, por razões puramente cinematográficas. Quando o faço, jamais confio nas sinopses publicadas nos serviços de streaming; corro atrás de referências e recomendações, geralmente com amigos ou junto a resenhas em sites especializados. Foi assim com O Homem nas Trevas , filme de 2016 escrito e dirigido por Fede Alvarez. Apertei o play e não me arrependi!           Tamanha cautela com os filmes de terror é justificável; o gênero abraça os mais variados temas, que costumam ser classificados em três subgêneros: há os filmes de mistério, onde o pavor é resultado de forças perfeitamente explicáveis, a partir de abordagens racio...

Perfume de Mulher: um remake que encanta pelas cenas memoráveis

Imagem
Perfume de Mulher: filme dirigido por Martin Brest Q UANDO UM CEGO CONSEGUE ENXERGAR A SI MESMO O que há para ser dito sobre  o filme  Perfume de Mulher , que o leitor ainda não saiba? Detalhes dos bastidores? Curiosidades sobre o roteiro? Fofocas a respeito dos atores? Tal conteúdo está disponível com fartura na internet, ao alcance de poucos cliques. Volto a mencioná-lo aqui na Crônica de Cinema – há tempos postei um vídeo com a memorável cena do tango, onde Gabrielle Anwar e Al Pacino dançam ao som de Por Una Cabeza – e o motivo é na verdade bem simples: lembrei desse filme depois de divagar sobre a busca pelo autoconhecimento.           Essa palavra tem sido pronunciada com frequência na mídia e nas redes sociais, como instrumento eficiente para alcançar uma tão almejada evolução pessoal e moral. Mas de que maneira alguém pode verdadeiramente se autoconhecer? Ao se encarar no espelho? Ao examinar o próprio umbigo?  Ao escavar a própria a...

A Testemunha: filme de 1985 continua emocionante

Imagem
A Testemunha: filme dirigido por Peter Weir DNA DE FAROESTE E UM ARSENAL DE CENAS MEMORÁVEIS Ao entrar no cinema para assistir ao filme A Testemunha , dirigido em 1985 por Peter Weir, trouxe comigo a vontade de consumir entretenimento de qualidade; a estampa do astro Harrison Ford, moldada em ótimos filmes como Blade Runner e Os Caçadores da Arca Perdida , era todo o aval que precisava. Entretanto, logo nos primeiros minutos de projeção, percebi que trouxe também uma outra companhia: minha total ignorância sobre a existência, nos Estados Unidos, de uma comunidade religiosa exótica, conhecida como os Amish da Velha Ordem, que vive estagnada no século XIX, amarrada em tradições e preceitos rigorosos.           A trama do filme gira em torno de um policial – um gentio, agarrado ao paganismo – que se vê obrigado ao convívio dessas pessoas tão excêntricas, enquanto foge de perigos que só existem no mundo dos gentios, agarrados ao paganismo! É esse choque cultur...

A Onda: baseado em fatos que um dia podem acontecer!

Imagem
A Onda: filme dirigido por Roar Uthaug CINEMA NORUEGUÊS MANIPULA CLICHÊS E ACABA NUMA GRANDE CATÁSTROFE Cineastas costumam ser fisgados pela sétima arte logo na infância. A possibilidade de criar realidades alternativas, iludir com efeitos especiais e dar asas à imaginação, confere um tom lúdico à criação cinematográfica; sugere que tudo não passa de pura diversão. Aqueles com habilidades narrativas logo encontram o caminho da profissão, o que não os impede de se divertir bastante ao longo do processo. Esse parece ser o caso do diretor norueguês Roar Uthaug. Seu filme A Onda , realizado em 2015, é um autêntico exemplar do cinema catástrofe; mistura ação, tensão e destruição, numa fórmula que esperamos encontrar nos melhores parques de diversões. Tem efeitos visuais dignos de Hollywood, mas também uma forte personalidade nórdica.           Fã declarado dos filmes de terror e de catástrofe, Roar Uthaug embarca aqui num gênero consagrado, que lida com conceito...

Cidadão Kane: por que ele é tão importante, afinal?

Imagem
Cidadão Kane: filme dirigido por Orson Welles COMO HOLLYWOOD CONSOLIDOU SEU PROCESSO DE FAZER FILMES Hoje em dia, ser um cinéfilo é fácil; há 50 anos, nem tanto. Este cronista apaixonado por cinema ainda se recorda das dificuldades para cultivar relacionamentos mais íntimos com os filmes. O lugar mais indicado para isso era... a livraria! Era mais fácil ler sobre os filmes do que assistir a eles. Colecionei revistas e formei uma pequena biblioteca temática, mas tinha que espaná-la periodicamente, para sacudir a frustração de não poder assistir a todos os filmes que gostaria. Ficava de olho na grade de programação dos cinemas, que era publicada pelos jornais, enquanto garimpava os poucos filmes exibidos tarde da noite na televisão – uma telinha estreita, que nem conseguia exibir a totalidade de uma película cinematográfica.           Não estou reclamando! Na verdade, agradeço por ter passado minha adolescência em Curitiba, uma cidade com cerca de uma dúzia d...

Siga a Crônica de Cinema