Fratura: um fraco, com um roteiro... trincado!

Cena do filme FraturaFratura: filme dirigido por Brad Anderson

AQUI, O ROTEIRISTA SÓ QUER MANIPULAR O ESPECTADOR

Antes de tudo, é preciso que se diga: estamos diante de um filme fraco – decepcionante até mesmo para aqueles que não se interessam pelas minúcias do cinema e buscam apenas por distração rasa. Fratura, dirigido em 2019 por Brad Anderson, é um suspense psicológico sem profundidade, aferrado aos clichês e... esquecível! Escolheu como tema a insanidade e nos traz um protagonista que se vê confrontado com ela, cena após cena, enquanto consome suas energias tentando mostrar a todos que não é louco.
        – Ah, mas esse tema é instigante e complexo! – diriam os cinéfilos acostumados a colecionar títulos relevantes sobre a loucura, como Taxi Driver, Ilha do Medo, Se7en - Os Sete Crimes Capitais, Fragmentado e tantos outros. Sim, fui fisgado pelo mesmo raciocínio e, por curiosidade, decidi dar o play nessa produção da Netflix. Terminei irritado, mas encontrei consolo no fato de ter acompanhado um punhado de exemplos sobre o que não fazer quando estiver dirigindo um thriller de suspense psicológico – o que jamais acontecerá com este cinéfilo inveterado!
        No meu modo de ver, o grande gancho dramático envolvendo o tema da loucura é justamente descobrir-se tomado por ela, durante um lampejo de consciência! Reconhecer-se louco ao observar a sanidade acenando da estação, enquanto o trem da sua existência parte acelerando. É esse o momento crucial que esperamos ver em algum trecho do filme. Se não esse, pelos menos o instante crítico quando uma vítima, um amigo, uma esposa, um filho – ou alguém que se importe com o protagonista – finalmente percebe os sinais perturbadores da loucura. Infelizmente, em Fratura, o protagonista não vive tal experiência. Perde-se no meio do caminho.
        A premissa do filme é muito boa: Ray Monroe (Sam Worthington) faz uma viagem de carro com a esposa, Joanne ( Lily Rabe) e a filhinha, Pery (Lucy Capri). Eles fazem uma parada num restaurante de beira de estrada, quando a garotinha sofre uma queda e quebra o braço. O clima, que já era tenso entre o casal, fica insuportável. Eles correm para o hospital mais próximo, onde mãe e filha entram na sala de exames e Ray precisa ficar esperando na recepção. O sujeito adormece e quando acorda, não há sinal delas. Médicos e atendentes tentam convencê-lo de que jamais puseram os pés por lá. Ray tentará provar que não está louco!
        Brad Anderson é um diretor oriundo da TV, que se consagrou entre os fãs dos thrillers de suspense depois de assumir a direção de filmes como O Operário, Chamada de Emergência e Sessão 9. Tem experiência em lidar com os elementos de ação e tensão e aprendeu a construir cenas de impacto, valendo-se de uma boa fluência da linguagem audiovisual. Em Fratura, no entanto, ele ficou refém de um script tosco.
        É uma pena que o roteiro precário, assinado por Alan B. McElroy, busque apenas distrair o espectador. Tudo o que ele faz é lançar pistas sobre a demência do protagonista, para logo em seguida desdizer tudo, insinuando que não é nada disso – como se uma história fosse tão boa quanto a quantidade de pontos de virada que um roteirista consegue enfiar nela ao contá-la. Sam Worthington, com seu porte esculpido nos filmes de ação, traz certa imponência ao personagem, mas é em vão. Não encontra nenhum texto decente para interpretar, que acrescente camadas psicológicas ao que vemos na tela.
        Como já concluímos ao assistir a grandes suspenses psicológicos, uma coisa é encontrar a verdade junto com o personagem, depois de acompanhar sua saga. Outra, bem diferente, é ser manipulado por um roteiro que só quer... fazer suspense! Apesar do ritmo bem conduzido e de ser muito bem fotografado, Fratura é apenas isso: um filme do gênero “me engana que eu gosto” – ou do tipo “façam suas apostas” – onde tudo o que conta é saber se, no final, a teoria do espectador é a correta. Ou não!

Resenha crítica do filme Fratura

Data de produção: 2019
Direção: Brad Anderson
Roteiro: Alan B. McElroy
Elenco: 
Sam Worthington, Lily Rabe, Lucy Capri, Adjoa Andoh, Stephen Tobolowsky, Lauren Cochrane, Shane Dean, Chris Sigurdson, Chad Bruce, Stephanie Sy, Dorothy Carroll eErik Athavale

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