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O Quarto de Jack: o amor indestrutível de uma mãe por seu filho

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O Quarto de Jack: filme dirigido por Lenny Abrahamson UMA HISTÓRIA FICTÍCIA, ESCRITA COM IMAGINAÇÃO A escritora irlandesa-canadense Emma Donoghue é autora de best-sellers, premiada internacionalmente e festejada por uma legião de leitores. Talentosa e dona de uma grande capacidade imaginativa, ela produz romances, contos e peças de teatro. E produz também roteiros de filmes! Antes mesmo de publicar seu romance Quarto , de 2010, ela tratou de escrever uma adaptação paras as telas, que se materializou no filme O Quarto de Jack , dirigido por Lenny Abrahamson em 2015. E, de quebra, obteve uma indicação para o Óscar de melhor roteiro adaptado.           Seu romance alcançou um estrondoso sucesso, ao contar uma história fictícia, mas tão perturbadora e envolvente que irradia verossimilhança. O tema é o amor de uma mãe corajosa para com seu filho indefeso, sua capacidade de superação e sua compreensão da maternidade, que a tornam invencível e indestrutível diante das circunstâncias trágicas

Yesterday: filme com ótima ideia, mas roteiro fraco

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Yesterday: filme dirigido por Danny Boyle COMO DESPERDIÇAR UMA ÓTIMA IDEIA Já pensou acordar e descobrir que você é o único no planeta que se lembra das canções dos Beatles? Vasculha a internet e não encontra uma única vírgula sobre o quarteto de Liverpool. Mas você sabe de cor as letras, os acordes, os arranjos... Em certo momento você pensará que as canções são criações da sua mente. Num arroubo pretencioso, chegará a posar de compositor diante do espelho. Mas terminará consciente de que é proprietário de um acervo tão valioso, que não poderá ficar enfurnado nos confins da sua memória. Terá que assumir a responsabilidade de divulgá-lo para o mundo.           Pena que essa grande ideia tenha sido desperdiçada num filme... medíocre, por assim dizer. Dirigido por Danny Boyle, escrito por Richard Curtis e estrelado por Himesh Patel, o longa carece de personagens carismáticos, segue uma narrativa apática e é escasso de sensibilidade artística. Uma tal sentença pode parecer exagero, consid

Ella e John: um drama ao qual vale a pena assistir

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Ella e John: filme dirigido por Paolo Virzì NESSE ROAD MOVIE, OS VIAJANTES CARREGAM MUITA BAGAGEM Atenção! O filme Ella e John , de 2017, contém cenas de velhice explicita! Nele, o casal Donald Sutherland e Helen Mirren esbanja charme, bom humor e a deliciosa inconsequência dos que estão no fim de uma vida bem vivida. Ele tem na cabeça tantas lembranças que já não sobra espaço para a memória recente. Ela tem senso prático, devoção e muita coragem para assumir o comando. Esse road movie de 2017 dirigido pelo italiano Paolo Virzì é agradável, sensível e tocante.           Baseado num romance escrito por Michael Zadoorian, o filme encontra o casal Ella e John às portas de suas bodas de ouro. Viveram uma vida confortável, repleta de conquistas e realizações. Cultivaram muito amor e companheirismo. Ele é um especialista em literatura assolado pelo mal de Alzheimer. Ela, apesar de vívida e lúcida, amarga um câncer implacável. Mas ainda sobra ousadia para que o casal se meta em uma travessur

A Casa do Lago: atmosfera romântica com toque poético

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A Casa do Lago: filme dirigido por Alejandro Agresti PRODUÇÃO AMERICANA, DIRETOR ARGENTINO E ENREDO ORIENTAL – Como é que ainda não tinha visto esse filme? – perguntei em voz alta, enquanto inspecionava os créd itos finais co m o controle remoto na mão.          – Pois eu é que te pergunto! – ironizou Ludy. – Com essa, é a terceira vez que assisto!         – É que eu pensei que era só mais um romancezinho enjoado...         Para minha surpresa, A Casa do Lago , filme de 2006 dirigido pelo argentino Alejandro Agresti, está longe de ser uma daquelas produções românticas feitas para agradar apenas ao público ávido por histórias açucaradas, com apelos fáceis e clichês em série. Tem conteúdo narrativo, personagens expostos em profundidade, senso de ritmo, uma atmosfera envolvente e muito charme. Ou seja: é cinema de qualidade.         Na minha mente, o par Keanu Reeves e Sandra Bullock ainda estava associado aos filmes de ação rasos, repletos de tiros, bombas e ônibus fora de controle. Para

Alien: o Oitavo Passageiro: mistura poderosa de terror com ficção científica

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Alien, o Oitavo Passageiro: direção de Ridley Scott CINEMA EM ESCALA INDUSTRIAL COM RELEVÂNCIA ARTÍSTICA Vamos voltar no tempo, até 1979. Às portas da década de 80 o mundo ainda era assombrado pela guerra fria. Nos cinemas, títulos como O Franco Atirador , O Expresso da Meia-Noite e Apocalypse Now disputavam espaço nas salas de cinema com O Show Deve Continuar , Kramer vs. Kramer e O Céu Pode Esperar . Filmes considerados relevantes eram aqueles sérios, contundentes, densos e repletos de conteúdo artístico e dramático. Já um filme que ousasse misturar ficção científica com terror, tinha poucas chances de ser discutido nas rodas de cinéfilos – pelo menos daqueles mais exigentes, que torciam o nariz para as produções comerciais e menosprezavam a função de entretenimento do cinema.           Acontece que Alien, o Oitavo Passageiro , dirigido por Ridley Scott, correu por fora e se impôs como novidade, criando um novo padrão para o cinema de entretenimento em escala industrial. Ganhou im

Fragmentado: atmosfera perturbadora dos grandes thrillers psicológicos

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Fragmentado: filme dirigido por M. Night Shyamalan SHYAMALAN ESCALOU UM ATOR QUE VALE POR UMA MULTIDÃO Em termos comerciais, os filmes de M. Night Shyamalan funcionam muito bem. Muitos espectadores não se importam de ser ludibriados, apenas para que no final levem um susto ou sejam surpreendidos pelo inusitado. Mas em Fragmentado , seu filme de 2016, o diretor não se vale de truques sujos para alimentar um suspense intenso e perturbador. Seu trunfo é James McAvoy, que sabe conversar com a câmera e se fazer convincente. Esse triller psicológico é, portanto, um impressionante trabalho de ator!         Fragmentado conta a história de Kevin Wendell Crumb (James McAvoy), um sujeito habitado por 23 personalidades, tratado pela Dra. Karen Fletcher (Betty Buckley) como um curioso caso clínico. Ocorre que uma dessas personalidades sequestra três garotas adolescentes e as coloca em um cativeiro subterrâneo e impenetrável. Elas lutam para escapar, mas nunca sabem com quem estão lidando. A narrat

Milagre da Cela 7: personagens fofos submetidos a muita injustiça

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O Milagre da Cela 7: filme dirigido por Mehmet Ada Öztekin NÃO HÁ MILAGRE QUE CONSIGA CONSERTAR ESSE FILME Se o filme Milagre da Cela 7 fosse mexicano, seria fácil. Bastaria classificá-lo como mais um daqueles dramalhões piegas que já fazem parte do anedotário popular. Como se trata de um filme turco – remake de um filme coreano com o mesmo nome – prefiro enquadrá-lo como uma obra de qualidades escassas. Esse cuidado é porque não conheço a cultura local em detalhes e, eventualmente, pode ter me escapado algum elemento estético que justifique tamanha pieguice.         Descer a lenha em um filme desses é complicado. Muitos espectadores compram de imediato o apelo fácil de colocar em cena dois personagens fofos e submetê-los às mais violentas injustiças. Como as lágrimas vêm fartas, classificam o filme como emocionante. Mas em Milagre da Cela 7 a emoção é circunstancial e rasa. Não emerge das profundezas dos personagens como resultado das experiências e transformações impostas pelo cont

Marjorie Prime: um drama intimista falando da vida e da morte

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Marjorie Prime: filme dirigido por Michael Almereyda PROJEÇÕES HOLOGRÁFICAS INTELIGENTES A SERVIÇO DO BOM CINEMA Na juventude, a quantos filmes nossos avós tinham a oportunidade de assistir ao longo de um mês? Um? Dois? A quantas peças de teatro por ano? Uma? Duas? Hoje, um adolescente está exposto a mais de cinco ou seis horas diárias de vídeos, cinema e TV, com acesso rápido e fácil a incontáveis opções, catalogadas e classificadas por gêneros, estilos, atores, diretores... Porém, com a fartura veio também a saturação!         Nunca se produziu tanto cinema como agora. As boas histórias e as novidades com alguma relevância começaram a escassear. As produções em escala industrial miram o público mais lucrativo – adolescentes e jovens em busca de divertimento e de imersão na cultura pop – oferecendo cada vez mais do mesmo.         Quem aprecia cinema de qualidade e exige mais do conteúdo que consome, não se contenta com a infantilidade dos super-heróis, comédias adolescente ou dramas r

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