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Barry Lyndon: a trajetória de um anti-herói que beira o abjeto

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Barry Lyndon: direção de Stanley Kubrick UM FILME PARA SER VISTO E OUVIDO Depois de Laranja Mecânica , Stanley Kubrick trouxe ao mundo Barry Lyndon , filme que ele escreveu e dirigiu em 1975. Muitos cinéfilos costumam lembrar dessa obra por seu visual deslumbrante, criado a partir de um notável esforço técnico, que mobilizou fotógrafos, iluminadores e alguns dos maiores especialistas e equipamentos óticos, para capturar tão somente a luz natural e a obtida com a ajuda de velas e candelabros. Assistir a esse filme, porém, é um exercício que ultrapassa as fronteiras do campo visual; fortalece a nossa musculatura narrativa e a nossa compreensão da linguagem cinematográfica.           Barry Lyndon é, certamente, um dos mais belos filmes já realizados, mas também se abre para as feiuras de um protagonista que beira o abjeto; ambicioso, ingênuo e determinado a cultivar sua ignorância, ele se põe em movimento apenas para alcançar a riqueza e ascender de posição s...

O Dorminhoco: descongelaram o judeu novaiorquino neurótico politicamente incorreto!

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O Dorminhoco: direção de Woody Allen UM OLHAR NOSTÁLGICO PARA O FUTURO Como foi que deixamos o mundo ficar tão aborrecido? Reduzimos o espaço reservado ao humor e permitimos que a rabugice politicamente correta se esparramasse pelos vasos comunicantes da cultura popular; sobrou apenas a sisudez dos conteúdos que se levam a sério demais e não admitem críticas nem julgamentos. A mídia mainstream se esqueceu como se faz sátira, blague, paródia, humor negro, pastelão, stand-up... Quando queremos dar boas risadas, tudo o que nos resta são as comédias infantilizadas, com tiradas picantes, bordões manjados e escatologias apelativas...           Hoje em dia, fazer humor é perigoso: no Brasil, dá até cadeia! Quem se atreve a ser humorista precisa, antes de tudo, acertar-se com um bom advogado – ou mais eficientemente, com algum juiz poderoso! E se antes de pisar no palco, o pretencioso espiar a plateia pela fresta da cortina, ouvirá ameaças taxativas:    ...

O Óleo de Lorenzo: um emocionante drama real

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O Óleo de Lorenzo: direção de George Miller QUE SE DANEM OS ESPECIALISTAS! – Se o especialista falou, tá falado! Quem sou eu pra contestar? – Eis aqui uma noção que foi maliciosamente incutida em nossas mentes ao longo dos séculos. A disseminação do pensamento racionalista, somada ao aumento de produtividade possibilitado pela divisão de trabalho, estimulou uma confiança cega no método científico. Isso criou uma espécie de idolatria aos especialistas, que por saberem mais sobre alguns temas específicos, julgam-se aptos a decidir sobre todos os aspectos da nossa vida. Já nos acostumamos a ver os burocratas e tecnocratas – autoproclamados iluminados – agarrados às franjas do poder para tentar avançar sobre nossas liberdades individuais; tudo em nome do “bem geral” e de outras abstrações igualmente cínicas.           A tirania dos especialistas não tem limites. Engana-se quem pensa que ela brota apenas nos campos das ciências exatas e naturais, onde o rigor ci...

Gattaca: A Experiência Genética

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Gattaca: A Experiência Genética TECNOCRATAS EUGENISTAS ROBOTIZANDO CIDADÃOS Ah, lá vamos nós, conversar novamente sobre distopias! Já escrevi uma crônica sobre o tema, onde listei alguns filmes provocativos – para ler, basta clicar aqui ! Dessa vez, porém, vou me deter em Gattaca: A Experiência Genética , filme escrito e dirigido em 1997 pelo cineasta neozelandês Andrew Niccol. Trata-se de uma obra de ficção científica instigante e inteligente, que nos embriaga os sentidos com qualidades cinematográficas inquestionáveis, mas traz uma mensagem subliminar perturbadora. Para articular uma conversa proveitosa, entretanto, terei primeiro que esmiuçar a sua sinopse:           O filme se passa num futuro próximo, quando a sociedade decide estratificar-se a partir de uma política eugenista, sustentada por uma avançada tecnologia de manipulação do DNA humano. São criadas duas categorias de cidadãos: os válidos, geneticamente modificados e por isso dotados de qualida...

O Brutalista: será essa uma história real?

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O Brutalista: direção de Brady Corbet UM ARQUITETO QUE SE FAZ DE VÍTIMA E UM MECENAS ESTEREOTIPADO Não gostei de O Brutalista , filme de 2024 dirigido por Brady Corbet. É frio, distante, infectado de ideologia woke e aborrecido; tem três horas e meia de duração e não consegue nem mesmo arranhar a superfície do tema que propõe investigar. Seu protagonista, se tem algum conteúdo artístico e intelectual, não mostrou a que veio; aliás, veio para se lamentar, fazer-se de vítima, meter-se em excessos hedonistas e devolver ao mundo a raiva que cultivou em sua alma confusa. Os demais personagens que o orbitam não passam de bonecos inanimados, sem vontade própria; obedientes apenas aos devaneios do diretor e da roteirista, Mona Fastvold (mulher de Corbet), que fazem questão de projetar em cada um deles as próprias crenças progressistas. Ainda assim, o filme se deu bem no Óscar: levou as estatuetas de melhor ator, para Adrien Brody, melhor trilha sonora e melhor fotografia.      ...

7 filmes que falam de fé

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PARA FALAR DE FÉ, PRECISAMOS FALAR TAMBÉM DE RAZÃO! No filme Monty Python ao Vivo no Hollywood Bowl , dirigido em 1982 por Terry Hughes, a trupe de humoristas ingleses nos diverte com uma infinidade de esquetes hilários, emblemáticos do seu estilo anárquico e inteligente. Um dos que volta e meia gosto de relembrar é o que narra a partida de futebol filosófico entre Alemanha e Grécia; de um lado, Kant, Hegel, Heidegger, Nietzsche... De outro, Platão, Aristóteles, Sócrates, Arquimedes... O juiz é Confúcio e os bandeirinhas, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Partindo de uma grande jogada de Arquimedes, Sócrates faz um belo gol de cabeça – só podia ser de cabeça! – e marca o único da partida. Vitória dos gregos! Ah, deixe-me rir mais um pouco, antes de continuar esta crônica!           Pronto! Agora já posso justificar essa introdução disparatada para abordar um tema tão sério e importante como a fé! É que na história do pensamento ocidental, um embate fil...

Roubando Vidas: um thriller de suspense... interessante

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Roubando Vidas: direção de D. J. Caruso QUASE MEMORÁVEL Thrillers de suspense sobre policiais empenhados em capturar um assassino em série têm potencial para atrair multidões de espectadores, todos ávidos por experimentar momentos de tensão, acompanhar conflitos psicológicos em profundidade e respirar uma atmosfera de mistério. O gênero costuma nos apresentar a personagens densos e complexos, envolvidos em tramas intrincadas, que demandam astúcia, inteligência e sangue frio para serem desvendadas. Se7en: Os Sete Crimes Capitais e O Silêncio dos Inocentes são dois dos exemplares mais lembrados pelos cinéfilos que apreciam esse tipo de história policial. Infelizmente, Roubando Vidas , filme de 2004 dirigido por D. J. Caruso, não está à altura de figurar entre tais títulos; ainda assim, é um filme que merece ser visitado. Tem boas atuações, um ritmo bem conduzido e surpreende com reviravoltas inesperadas. Não decepciona, mas... poderia ser melhor!           ...

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