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O Refém - Atentado em Madri

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O Refém - Atentado em Madri: direção de Daniel Calparsoro UM HOMEM COMUM GOLPEDO PELO DESTINO Com tantas opções nos serviços de streaming, como escolher o filme certo? Enquanto dedilho o controle remoto com gestos apressados, sigo um método criterioso, que desenvolvi ao longo de décadas no exercício da cinefilia: tomo decisões emocionais! É claro que ao me deixar guiar pelo estado de espírito, corro o risco de tropeçar nos preconceitos e ignorar títulos proveitosos; quantos ótimos filmes fui conferir com anos de atraso, só porque impliquei com algum detalhe da sinopse ou da ficha técnica? Muitos! Mas é do jogo. O Refém - Atentado em Madri , filme de 2023 dirigido por Daniel Calparsoro, é um desses casos: quando percebi que esse thriller policial foi produzido na Espanha, torci o nariz, afinal, o gênero é dominado pelos anglo-saxões, que moldaram seus elementos e seus clichês; os espanhóis, por outro lado, têm maior tendência ao melodrama e costumam derrapar nas cenas de ação.  ...

Cassino: uma incrível história real

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Cassino: direção de Martin Scorsese UM ÉPICO SOBRE O SUBMUNDO DO CRIME Eis que flagramos Martin Scorsese e Nicholas Pileggi, novamente, a ponto de ultrapassar a fronteira da apologia ao crime. O filme Cassino , dirigido em 1995 pelo primeiro, numa adaptação do romance escrito pelo segundo, é uma retomada da fórmula bem-sucedida que a dupla desenvolveu em seu filme anterior, Os Bons Companheiros . Mais uma vez somos apresentados a personagens sem caráter, ávidos por dinheiro e poder, embriagados de hedonismo e guiados pela violência; são mafiosos que não merecem menos do que a cadeia, mas aqui desfilam de protagonistas, para satisfazer a nossa mórbida curiosidade sobre o que nos esperaria se tivéssemos optado por ingressar no mundo do crime. Será mesmo que não há compensações? Há algo que valha a pena?           O tema, recorrente na filmografia de Scorsese, vem tratado com a costumeira competência. O cineasta disseca seus personagens, enquanto os expõe às c...

O Conde de Monte Cristo: mais uma versão

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O Conde de Monte Cristo: direção de Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière UM UNIVERSO DRAMÁTICO... REPAGINADO! O clássico da literatura O Conde de Monte Cristo é um dos romances mais populares do escritor francês Alexandre Dumas; foi publicado pela primeira vez como folhetim em 1844. Já inspirou diversas adaptações para o teatro e para o cinema – desde que o cinema foi inventado, a cada década uma nova versão é lançada, para deleite dos cinéfilos mais exigentes. Não é para menos: a trama minuciosa e envolvente traz elementos de ação, suspense, drama, romance e aventura; além disso, a história poderosa tem um protagonista multifacetado e nos apresenta a uma variedade de personagens odiosos, além de outros que conquistam a nossa simpatia.           Todos nós já conhecemos a sinopse de O Conde de Monte Cristo , já que o livro está na grade curricular do ensino médio – ao menos estava quando frequentei os bancos escolares, mas como isso já tem pratic...

Kill Bill: o poder narrativo de um diretor inovador

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Kill Bill: direção de Quentin Tarantino UM SÓLIDO CASTELO DE REFERÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS Tinha doze para treze anos quando entrei pela primeira vez no Cine Arlequim, um pulgueiro no centro de Curitiba, que mantinha uma promoção imperdível: pelo preço de um único ingresso, era possível assistir a três filmes, exibidos em sequência. Esse não era, entretanto, o maior atrativo; o que me animava era o fato de que um dos três filmes era sempre uma pornochanchada, proibida para menores de 18 anos. Se chegasse no começo da sessão e comprasse uma entrada inteira, o bilheteiro fazia vista grossa. Uma vez na plateia, teria que esperar uma eternidade para finalmente ver o que de fato interessava; teria que passar por dois filmes de kung fu, daqueles produzidos na China, com legendas em português.           Nos primeiros anos da década de 1970, as pornochanchadas que alvoroçavam meus hormônios eram produções ingênuas e leves, se comparadas às de hoje – no máximo exibia...

Sobre Meninos e Lobos: o perturbador Mystic River

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Sobre Meninos e Lobos: direção de Clint Eastwood PROFUNDIDADE DRAMÁTICA E CINEMA MINUCIOSO Sobre Meninos e Lobos , dirigido em 2003 por Clint Eastwood, não é um filme fácil. É doloroso, incômodo e provocador; obriga o espectador a encarar uma gama de emoções fortes, experimentadas por personagens introspectivos, com os quais é difícil estabelecer empatia – não desejaria de estar no lugar de nenhum deles! Ainda assim, é um grande filme, que merece ser visto e revisitado; oferece cinema de qualidade e tem lugar de destaque na filmografia de um diretor ousado o suficiente para transitar na contramão do cinema comercial – ao invés de impor um ritmo vertiginoso, pontuado com cenas rápidas, editadas em frenesi, prefere os planos longos, que capturam as minúcias do que seus atores têm para oferecer.           Antes de falar do filme, porém, gostaria de lembrar do material original, que foi adaptado para as telas: o livro Sobre Meninos e Lobos – Mystic River , escr...

O Talentoso Ripley: um remake imprescindível

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O Talentoso Ripley: direção de Anthony Minghella UMA ILHA DE GÉLIDA PSICOPATIA, CERCADA DE BELEZAS Tempos atrás, escrevi uma crônica sobre a minissérie Ripley , dirigida em 2024 por Steven Zailian. Lembro que Ludy e eu maratonamos os oito episódios com avidez, hipnotizados por aquela produção envolvente; minha mulher, inclusive, ficou interessada em rever o filme O Talentoso Ripley , dirigido em 1999 por Anthony Minghella – o que fizemos dias depois. Num primeiro momento, considerei desnecessário escrever sobre essa adaptação do romance de Patricia Highsmith; seria cair em redundância, já que o personagem e a trama de assassinatos que ele protagoniza estão descritos no meu texto anterior. Acontece que a qualidade do cinema realizado por Minghella é tão notável que mudei de ideia; decidi revisitar o mundo do psicopata gélido que consegue se safar da punição por seus crimes, graças a uma combinação de sorte com uma gélida meticulosidade.           O romance d...

Os Vigaristas: uma comédia dramática envolvente

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Os Vigaristas: filme de Ridley Scott UM FILME REPLETO DE VIGARICES Para iniciar minha crônica sobre o filme Os Vigarista s, dirigido em 2003 por Ridley Scott, pensei em duas abordagens distintas. A primeira tem relação com seu título original, Matchstick Men – numa tradução livre, algo como “homens palito de fósforo” –, que inglês é uma gíria para vigaristas ou amigos do alheio; há, porém, uma sutileza: a sonoridade é bastante próxima à expressão Majestic Men – numa tradução livre, algo como “homens majestosos”. Um anglófono, portanto, entende que a estampa majestosa de um vigarista é parte integrante do seu ser, e que ela se desmanchará depois que a vítima tomar consciência de que foi tapeada; será apenas um inútil palito de fósforo carbonizado e deformado. Ou seja: só esse título original já fez rodar um filme inteiro na minha cabeça de cinéfilo ansioso.           A segunda abordagem está relacionada com episódios reais que vivenciei. Lembro que minha mã...

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