Se7en - Os Sete Crimes Capitais: um filme forte com final surpreendente

Cena do filme Se7en - Os Sete Crimes Capitais
Seven- Os Sete Crimes Capitais: filme de David Fincher

UM THRILLER ONDE AS VÍTIMAS SÃO PECADORES E OS POLICIAIS, ATORMENTADOS

Quando um velho à beira da aposentadoria reclama da decadência moral que se abateu sobre a sociedade, os mais jovens tendem a pensar que se trata apenas disso mesmo: da velhice que se abraça com a rabugice, para implicar com os novos comportamentos que a modernidade vai moldando. O erro de quem acusa é a generalização – a decadência moral é real, mas desde sempre acontece em nichos. O erro dos que se defendem é o desdém – abrem mão de certas regras de conduta para tolerar um novo comportamento, só porque ele é... novo.
        Agora, quando um jovem reclama da decadência moral, aí já é outra história! O jovem a quem me refiro é Andrew Kevin Walker, o roteirista que escreveu Se7en: Os Sete Crimes Capitais, filme de 1995 dirigido por David Fincher. Trata-se de um dos melhores thrillers policiais dos anos 90, que chegou aos cinemas trazendo um clima de mistério nauseante e surpreendente. O roteirista, que já tem passagem por outros títulos de peso, como 8 mm e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, conta que se sentia angustiado morando em Nova Iorque, tendo que presenciar nas equinas por onde circulava as incômodas aberrações que lhe serviram de inspiração. Imaginou um assassino em série escolhendo suas vítimas pelos pecados capitais que cometem. Escreveu seu roteiro original e conseguiu vendê-lo.
        O enredo gira em torno do detetive William Somerset (Morgan Freeman), um velho à beira da aposentadoria, cansado e desiludido com a decadência que foi obrigado a testemunhar ao longo dos anos. Ele tem que trabalhar com o jovem detetive David Mills (Brad Pitt), seu novo parceiro recém-chegado à cidade juntamente com a esposa Tracy (Gwyneth Paltrow). A dupla de detetives passa a investigar assassinatos bizarros, relacionados com os sete pecados capitais. Enquanto tentam descobrir o autor, procuram antecipar seus próximos movimentos para interromper a série de crimes. Na medida em que a tensão, o horror e a crueldade do misterioso assassino vão aumentando os níveis de estresse, os vínculos emocionais entre Somerset, Mills e Tracy vão se fortalecendo. Mas o criminoso está sempre um passo à frente e ninguém, nem mesmo o espectador, está preparado para as reviravoltas que virão.
        É no surpreendente final de Se7en: Os Sete Crimes Capitais que reside a grande força dramática do roteiro, mas o incrível é que por pouco o filme não saiu desse jeito que o roteirista imaginou. A produtora que comprou os direitos do filme entregou a direção a Jeremiah Chechik, que exigiu a reescrita da parte final, para torná-lo mais otimista e menos impactante. Andrew Kevin Walker obedeceu e gerou um novo rascunho. Mais tarde os direitos mudaram de mão para uma nova produtora e a direção foi entregue a David Fincher, que acidentalmente recebeu uma cópia do primeiro roteiro, que trazia o final impactante imaginado por Walker. O diretor o leu, adorou e só concordou em realizar o filme se o final fosse aquele concebido originalmente. Sorte nossa!
        David Fincher só havia realizado até então o longa Alien 3, filme sobre o qual não conseguiu ter completo poder criativo. Em Se7en: Os Sete Crimes Capitais ele não cometeu o mesmo erro. Diretor talentoso, com grande sensibilidade artística e pleno domínio da linguagem do cinema, percebeu que tinha em mãos um roteiro bem costurado e decidiu filmá-lo de forma ousada e criativa. Os protagonistas – um detetive velho e desiludido e outro jovem e temperamental – faziam parte dos estereótipos reproduzidos em incontáveis filmes de ação, mas Fincher soube focalizar seus aspectos psicológicos e envolvê-los com uma atmosfera tensa e sombria. E entregou os papéis a grandes atores – com destaque para Kevin Spacey, numa de suas melhores atuações – seu nome foi estrategicamente omitido dos créditos iniciais, para que o espectador não ficasse aguardando ansioso pelo momento em que ele finalmente entraria em cena.
        Logo na abertura de Se7en: Os Sete Crimes Capitais, enchemos os olhos com imagens de um tratamento gráfico primoroso, com enorme relevância artística. O que vemos a seguir é uma história forte, passada em uma metrópole sem nome, mas imersa em sombras e ensopada por uma garoa insistente, que só fazem intensificar a sensação de desolação e decadência moral. A fotografia de Darius Khondji, que recebeu tratamento técnico para ressaltar o contraste e destacar os tons escuros, é essencial para manter o clima de suspense e mistério nauseante.
        É preciso disposição para acompanhar essa história pesada e triste, mas quando ela é contada num filme com tamanha qualidade artística e dramática, torna-se fácil apreciá-la.

Resenha crítica do filme Se7en - Os Sete Crimes Capitais

Data de produção: 1995
Direção: David Fincher
Roteiro: Andrew Kevin Walker
Elenco: Brad Pitt, Morgan Freeman, Gwyneth Paltrow, Kevin Spacey, R. Lee Ermey, Richard Roundtree, Richard Schiff, Mark Boone Junior, Michael Massee, Leland Orser, Julie Araskog, John C. McGinley, Hawthorne James, Bob Mack, Gene Borkan, Michael Reid MacKay, Cat Mueller e Heidi Schanz

Leia também as crônicas sobre outros filmes dirigidos por David Fincher

Comentários

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: nada importa, nem o cinema!

Siga a Crônica de Cinema