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Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer

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Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer: dirigido por Alfonso Gomez-Rejon UM FILME CRIATIVO E SENSÍVEL – Já passou da hora de cancelar a TV por assinatura – sentenciou Ludy, esbanjando convicção. Estávamos só no início da nossa caminhada matinal, mas já havíamos encontrado um motivo de discussão.        – Vamos dar mais um mês, pelo menos – retruquei, sem a mesma confiança. Minha tentativa era para formar uma opinião sensata, mas minha mulher insistiu:        – Hoje em dia tá tudo no streaming! Quem é que ainda vê TV?        – Eu, ora!        A minha geração tem um caso sério com a televisão. Fomos criados na frente dela. Por meio dela fomos alfabetizados na linguagem do cinema. Há uma ligação afetiva... uma espécie de cordão umbilical, que liga nossa poltrona ao aparelho de TV. Romper com ele significa nascer para uma outra forma de consumir entretenimento.        – Pra que tanta celeu...

Viver Duas Vezes: sobram razões emocionais para assistir a esse drama

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Viver Duas Vezes: filme dirigido por Maria Ripoll COMO NÃO SE EMOCIONAR COM UM FILME QUE FALA DE ALZHEIMER?         Viver Duas Vezes , filme dirigido pela espanhola Maria Ripoll em 2019, tirou do pedestal este cronista dedicado a escrever críticas e resenhas de filmes. Apertei o play disposto a fazer uma análise compenetrada, para depois desfiar minhas impressões num texto objetivo. Pensei que me manteria frio, concentrado nas técnicas cinematográficas e nos recursos narrativos. Avaliaria as atuações e as linhas de diálogo, a fotografia, a trilha sonora... Se assim tivesse feito, passaria pelo filme sem viver a imensa variedade de emoções que o enredo suscita. Mas não! Envolvi-me emocionalmente. Fiquei cego para o cinema que acontecia diante dos seus olhos!           – Ora, se é para ignorar o cinema, vá ler um romance sobre o tema – diriam com razão os cinéfilos tecnicamente engajados. Tenho que concordar. Então, só me resta emiti...

Coringa: a trilha sonora reforça a mensagem do filme

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Coringa: filme dirigido por Todd Phillips AQUI, A TRILHA SONORA VIROU O GRANDE DESTAQUE Quando foi lançado em 2019, o filme Coringa , dirigido por Todd Phillips, veio na esteira de um considerável esforço promocional. Tal badalação capturou minha atenção. Há tempos não me entregava às infantilidades das histórias de super-heróis, mas a indicação para onze Óscares e a conquista das duas estatuetas  –  melhor ator para Joaquin Phoenix e trilha sonora para Hildur Gudnadottir  –  vieram como uma intimação para conferir a produção.           Batman era  meu super-herói favorito desde a tenra infância  e o Coringa, um vilão insano e assustador, já era meu velho conhecido. A promessa de ser apresentado a novas camadas da sua personalidade confusa, ainda não exploradas no cinema, trouxe uma empolgação adicional. Paguei para ver e saí satisfeito. O filme contém cinema de verdade!         Nesse  Coringa , o ...

À Beira-Mar: filme sobre um casal em crise

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À Beira-Mar: filme dirigido por Angelina Jolie ANGELINA JOLIE ROUBA A CENA FINAL, LITERALMENTE – Ela pisou no tomate – reclamei com uma frase feita, para deixar claro minha irritação. Ludy foi bem mais incisiva:           – Não gostei! Estiloso demais e nada envolvente.         Começamos nossa caminhada matinal falando sobre a promessa de bom entretenimento à qual assistimos na noite anterior, mas que não se cumpriu: o filme  À Beira-Mar , escrito, dirigido e estrelado por Angelina Jolie. Ela atua aqui ao lado do então marido Brad Pitt. De início, achei que se tratava  de uma obra romântica. Mais adiante, rezei para que ganhasse densidade e feições intimistas, na medida em que revelasse o mundo interno de personagens cada vez mais enigmáticos. Isso não aconteceu. Lá pelas tantas, comecei a bocejar.           Eis aqui o caso interessante de um filme construído a partir de elementos sólidos, mas que ...

Dois Papas: realidade dramatizada e ficção plausível

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Dois Papas: filme dirigido por Fernando Meirelles PERSONAGENS MIDIÁTICOS E GENTE DE CARNE E OSSO O filme Dois Papas , dirigido em 2019 por Fernando Meirelles, traz uma cena que se tornou, para mim, inesquecível: é quando os dois protagonistas dividem, em pé, numa salinha do Vaticano, uma deliciosa pizza marguerita! Provavelmente veio direto de alguma pizzaria no entorno da Praça São Pedro. Veio acondicionada numa caixa quadrada. Certamente foi preparada com massa de fermentação lenta, com aquele saboroso molho pomodoro, folhas de basílico fresco...           É claro que exagero! Há muito cinema de qualidade  em Dois Papas . Devo dizer que Fernando Meirelles nos brindou com um filme envolvente, salpicado por cenas que aparentam banalidade, mas que só fizeram ressaltar o quão extraordinários são seus personagens: dois homens à frente do catolicismo, que reinam no centro do mundo, mas se esforçam para comunicar simplicidade. Um prefere Fanta Laranj...

Estamos virando ouvintes desatentos

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QUEM NUNCA ERROU A LETRA DE UMA CANÇÃO, OU ARRISCOU UM INGLÊS FAKE? O rapaz esparramado no assento do ônibus, bocejando de sono a caminho da primeira aula, ajeita os fones de ouvido que o conectam ao celular. Os sons que ele escuta nenhum outro ser humano na face da terra compartilha. Outros podem ter escolhido a mesma canção, mas somente ele decidiu iniciá-la naquele dado instante. Não há sincronismo nem simultaneidade. Não há a necessidade de sintonizar transmissões públicas. Não há razão para se submeter à ditadura do gosto coletivo.           Acostumado a ouvir apenas o que gosta, no momento em que bem entende, o rapaz não se dá conta de que desfruta um privilégio. Houve um tempo em que as oportunidades de ouvir uma canção – qualquer canção – eram raras. Antes das técnicas de gravação, só mesmo nas performances ao vivo, executadas na igreja, nas festas, no teatro ou em salas de concerto. Quantas vezes, ao longo da vida, um sujeito conseguia ouvir uma de...

No Mundo de 2020: nos anos 70 a previsão era o caos total!

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No Mundo de 2020: filme dirigido por Richard Fleischer COMO NUM FILME, VIAJEI NO TEMPO! Decidido a me tornar engenheiro, conforme era desejo do meu pai, entrei na então Escola Técnica Federal do Paraná, para estudar eletrônica. Era 1976, ano em que completaria 16 anos. Logo nas primeiras semanas de aula, o cineclube da escola exibiu o filme No Mundo de 2020   (Soylent Green, no original), uma produção de 1973 dirigida por Richard Fleischer, que mistura ficção científica e trama policial numa realidade distópica, mas apresentada como uma previsão factível.           Inspirado num romance escrito por Harry Harrison, intitulado Make Room! Make Room! , o filme na verdade se passa em 2022, numa Nova Iorque entulhada com 40 milhões de habitantes – cinco vezes mais do que de fato tem hoje. Para alimentar tanta gente, num cenário caótico, o estado totalitário se vale dos tais Soylent Greens, tabletes de algas processadas, que se tornam a única refeição dispon...

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