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Zabriskie Point

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Zabriskie Point: filme dirigido por Michelangelo Antonioni Há 50 anos Michelangelo Antonioni realizou Zabriskie Point, um filme que retrata a juventude empenhada em destruir os valores culturais da época e pregar a contracultura. Embora não consiga ir além do mero escapismo, o filme vem com uma estética sedutora. Ao som de Pink Floyd, oferece um final deliciosamente catártico. ------------------------------ A popularização das supercâmeras digitais, que conseguem capturar imagens a mais de 2 mil frames por segundo, deflagrou na internet uma febre de vídeos em câmera lenta. Quando vejo um desses me lembro do impacto de assistir ao filme Zabriskie Point no cinema. O que poderia haver de mais moderno?

E La Nave Va: a expressão de um cinema superlativo

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E La Nave Va: filme dirigido por Federico Fellini CINEMA SINGRANDO OS MARES DA ÓPERA E La Nave Va é um filme... musical! Não apenas no sentido que empregamos para evocar o gênero consagrado em Hollywood, onde as canções ocupam a fala dos personagens e conduzem toda a narrativa. Esse é musical porque foi feito da mesma substância com a qual os músicos materializam suas criações. É ópera, é circo, é uma invenção surreal, é uma comédia, é abordagem histórica... É Federico Fellini. Foi realizado em 1983 e está entre os seus grandes filmes. Aqui o cineasta empenhou considerável esforço criativo e nos brindou com sua inconfundível sensibilidade artística. É cinema superlativo, costurado com metáforas, provocações metalinguísticas, rompantes de humor e momentos de um delicioso regozijo estético.           E La Nave Va é sobre o vapor Glória N, que parte de algum porto italiano. O ano é 1914 e o objetivo é seguir num cruzeiro fúnebre até a ilha de Erimo, terra natal da falecida cantora Edmea

A Noite Americana: um filme sobre a paixão de fazer cinema

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A Noite Americana: filme de François Truffaut A AVENTURA DE RODAR UM FILME, NA VISÃO DE UM APAIXONADO PELA SÉTIMA ARTE Realizar um filme sobre o drama de realizar um filme é como sonhar que se está sonhando. Assistir ao filme A Noite Americana , realizado em 1973 por François Truffaut, é como passar quase duas horas enxergando com os olhos do diretor. É como ter o prazer de ser aquela mosquinha que zanza despercebida por todos os cenários, testemunhando segredos e fatos omitidos. Enfim, é um deleite para qualquer cinéfilo! Mas não se trata de mero exercício acadêmico de metalinguagem, ou de uma obra com caráter documental. É cinema em estado puro.           A Noite Americana narra a saga do cineasta Ferrand, álter ego do próprio Truffaut, que roda um filme intitulado “Je Vous Présente Pamela”, um drama como tantos outros gestados pela indústria do cinema e destinado ao circuito comercial. Os percalços e as complicações são incontáveis: atores em pé de guerra, casos amorosos interferi

O Primeiro Homem: a história real da conquista da Lua

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O Primeiro Homem: filme dirigido por Damien Chazelle SIM, ELE VENCE NO FINAL. MAS COMO FOI DIFÍCIL!  Para começar essa crônica, vou direto ao final do filme: depois de anos de trabalho árduo, Neil Armstrong se torna o primeiro homem a pôr os pés na Lua e volta para a Terra, onde desfila em carro aberto sob os aplausos da multidão entusiasmada. Bem, isso não é nenhum spoiler. Todo mundo já sabe que a saga espacial da NASA nos anos 60 terminou em estrondoso sucesso. Mesmo contando essa história conhecida, O Primeiro Homem , filme de 2018 dirigido por Damien Chazelle, consegue capturar a atenção do espectador, pois o personagem que vai revelando é bem mais complexo do que aquele descrito nos resumos das apostilas de história do ensino médio. Além disso, ainda que o espectador já saiba como o filme vai terminar, aos poucos vai descobrindo que sabe pouco sobre seu começo e quase nada sobre a parte do meio!           O Primeiro Homem abordou um tema caro para os americanos. A opinião públic

Escola do Rock: aprendendo com as crianças

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Escola do Rock: filme de Richard Linklater MANDANDO A VEROSSIMILHANÇA ÀS FAVAS EM NOME DA DIVERSÃO Cinema é para ser levado a sério. Isso não impede que todos se divirtam exageradamente durante o processo de realização. É o que vemos em Escola do Rock , filme de 2003 dirigido por Richard Linklater. Os atores estão tão à vontade e parecem se divertir tanto que conseguem contagiar o espectador, a ponto de deixar um gostinho de quero mais no final. É um dos poucos filmes que conseguiram me manter hipnotizado durante toda a rolagem dos créditos finais – fiquei concentrado, como quem tenta “espremer” a garrafa de um bom vinho, na esperança de que ainda caiam algumas gotas na taça!           O filme Escola do Rock é uma espécie de Sociedade dos Roqueiros Vivos. Fico tranquilo para citá-la facilmente como uma das melhores comédias desse começo de século. O diretor Richard Linklater foi além do humor escrachado e conseguiu um certo refinamento em todas as cenas. O roteirista Mike White escrev

Perdidos na Noite: o Midnight Cowboy ao qual todo cinéfilo precisa assistir

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Perdidos na Noite: filme dirigido por John Schlesinger MÚSICA INESQUECÍVEL, PERSONAGENS MEMORÁVEIS E UMA CIDADE INTEIRA COMO PANO DE FUNDO Há filmes que espelham uma época e se tornam marco na história do cinema. Já aqueles que refletem a alma humana, resistem ao tempo e se eternizam na mente do espectador. Perdidos na Noite , filme de 1969 dirigido pelo inglês John Schlesinger conseguiu ambas as proezas. Contando uma história envolvente e carregada de sentimentos profundos e verdadeiros, permanece assombrosamente atual passados mais de meio século do seu lançamento.           É inegável que Perdidos na Noite ganhou força quando registrou as atuações espetaculares de Jon Voight e Dustin Hoffman. O primeiro encarnou Joe Buck, um jovem interiorano do Texas que se fantasia de cowboy e chega a Nova Iorque para ganhar a vida servindo madames ricas como garoto de programa. O segundo vive Ratso – apelido para Enrico Rizzo – um ladrão vigarista em petição de miséria, que vive num prédio cond

Pequena Miss Sunshine: uma família, uma Konbi e um objetivo em comum

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Pequena Miss Sunshine: filme dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris UMA COMÉDIA DELICIOSA, RECHEADA DE DRAMA AUTÊNTICO Uma velha Kombi amarela e branca, empurrada por uma família inteira. Uma família com problemas, mas inteira! Que se reconhece como família, depois que seus membros perturbados exercitam um pouco do bom e velho... convívio. Seguem para um futuro desconhecido, empanturrados de presente e preparados para encarar seus dramas com bom humor. O que é preciso para realizar um filme assim? Criatividade? Persistência? Coragem? Bem... todos esses ingredientes são essenciais, mas de nada servem sem um bom roteiro. E o filme Pequena Miss Sunshine , dirigido em 2006 pelo casal Jonathan Dayton e Valerie Faris tem um dos bons! Essa produção encantadora nos mostra que o cinema, mesmo quando não é feito em escala industrial, é resultado da soma dos talentos que se reúnem ao redor de uma ótima ideia.           Tudo começou com o roteirista iniciante Michael Arndt. Certo de que havi

Rumble Fish

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Rumble Fish: filme dirigido por Francis Ford Coppola Imagine-se explorando uma imensa biblioteca, quando se depara com a placa “Preciosidades” colada numa das prateleiras. É lá que você encontra obras como essa! ------------------------------ No Brasil, Rumble Fish virou O Selvagem da Motocicleta – o título decepcionou os desavisados que entraram no cinema esperando ver uma espécie de Velozes & Furiosos da época. Para os amantes do cinema, esse autêntico Francis Ford Coppola continua brilhando até hoje, sem perder a intensidade. Leia também as crônicas sobre outros filmes dirigidos por Francis Ford Coppola: Apocalypse Now O Poderoso Chefão

Ilha do Medo: revisitar esse filme pode ser ainda melhor!

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Ilha do medo: filme dirigido por Martin Scorsese AQUI, A MATÉRIA-PRIMA É SURPRESA Um bom escritor não usa truques sujos para distrair o leitor. Não omite informações para criar suspense, nem espalha pistas falsas para pegá-lo de surpresa, em alguma virada de página lá pelo segundo terço do livro. Ao invés disso, um autor competente prefere levar o leitor a descobrir a verdade junto com o personagem. Procura colocar o leitor no exato ponto de vista do protagonista, para que montem juntos o quebra-cabeça da trama e descubram a verdade. Sintam o seu impacto. Dividam as emoções. Esse é o talento de Dennis Lehane, que assina o romance Ilha do Medo , adaptado para o cinema em 2010 por Martin Scorsese.           Lehane é um escritor muito bem aproveitado pela indústria do cinema. Em 2003 já teve seu romance Sobre Meninos e Lobos filmado por Clint Eastwood e depois, em 2007, foi a vez de seu romance Medo da Verdade ser adaptado por Bem Affleck. Agora, com esse thriller psicológico sombrio e

A.I. Inteligência Artificial: com final idealizado por Stanley Kubrick

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A.I. - Inteligência Artificial: direção: Steven Spielberg SINERGIA DE DUAS INTELIGÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS Stanley Kubrick era um caçador de histórias. Quando encontrava uma que o surpreendia, apropriava-se dela com a voracidade de um felino compenetrado e não sossegava enquanto não conseguisse adaptá-la para as telas. Em 1969 ele leu um conto publicado na revista de moda Harper’s Bazaar, escrito por Brian Aldiss e intitulado Super-Toys Last All Summer Long . Pronto! Encontrou uma história pela qual valeria a pena mover montanhas para filmar. E moveu, mas não viveu para vê-lo concretizado.           O conto era sobre máquinas inteligentes convivendo com seres humanos solitários, num futuro sombrio onde apenas poucos recebem permissão para ter filhos. Monica Swinton e seu marido Henry vivem com o filho David, mas não conseguem ser plenamente felizes. Ela não consegue se relacionar com o garoto e tenta de tudo para desenvolver alguma afetividade por ele. Compra um brinquedo robô, Teddy, n

Os 12 Macacos: viagem no tempo e o significado de salvar a raça humana

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Os 12 Macacos: filme dirigido por: Terry Gillian FICÇÃO CIENTÍFICA COM A ENTONAÇÃO DE UM DIRETOR INOVADOR Em 1895, Albert Einstein contava apenas 16 anos e ainda estava longe de publicar suas teorias sobre a Relatividade. O grande público não fazia ideia sobre os conceitos de gravidade, espaço-tempo e outras bizarrices da física moderna, mas naquele ano deliciou-se com o romance de H.G. Wells intitulado A Máquina do Tempo . Foi o primeiro livro desse autor genial e também a primeira história contada sobre as viagens no tempo. Abriu a porteira! De lá para cá, passou uma boiada inteira de ótimas ideias envolvendo viajantes ao passado e ao futuro, fazendo a festa dos amantes da ficção científica. E quando pensávamos que o assunto já estava esgotado, vem o filme Os 12 Macacos , dirigido em 1995 por Terry Gilliam e recupera um brilho de criatividade para esse gênero.           Contada do ponto de vista de Terry Gillian, uma história sobre viagens no tempo vai além do que já se tornou clich

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