Postagens

Meu Malvado Favorito

Imagem
UM DIVERTIMENTO ONDE A LINGUAGEM DO CINEMA É TRATADA COM SERIEDADE   Meu Malvado Favorito: animação dirigida por Chris Renaud e Pierre Coffinos Em que tipo de produção um diretor poderia abusar dos estereótipos e clichês, indo além do razoável, sem acabar crucificado? Numa comédia de animação para crianças, é claro. Em Meu Malvado Favorito, Chris Renaud e Pierre Coffinnos nos apresentam a personagens encantadores e hilários, que vivem aventuras deliciosamente absurdas num universo criado com coerência narrativa e refinamento estético. Só adultos incuráveis resistem a tanta criatividade! ------------------------------ Um vilão do bem, garotinhas órfãs e encantadoras e um bando de... Minions, todos envolvidos em uma trama digna dos melhores espiões do cinema e usando traquitanas tecnológicas improváveis. Chamaria essa mistura de minha animação favorita, mas o nome correto é Meu Malvado Favorito, filme de 2010. Os roteiristas Cinco Paul, Ken Daurio e Sergio Pablos capricharam nas referên

Ford vs Ferrari: nessa corrida quem vence é o espectador

Imagem
Ford vs Ferrari: filme dirigido por James Mangold UM DESIGNER VISIONÁRIO E UM MECÂNICO TALENTOSO LEVAM ESSE FILME AO PÓDIO Paixão por automóveis é inclinação que trazemos de menino. Peço perdão às meninas por começar o texto nesse tom machista, mas é assim mesmo que o tema é tratado em Ford vs Ferrari , filme que se passa nos anos 60, numa época em que as mulheres não encontravam lugar nas oficinas. Empolgado, preparei o balde de pipoca e me acomodei no sofá da sala, esperando pelas tradicionais cenas de carros em alta velocidade com seus motores roncando. Ludy foi logo anunciando:         – Se ficar muito chato, vou pro quarto ler meu livro.         Minha mulher não arredou do sofá. Ficou concentrada na tela por duas horas e meia, acompanhando a guerra entre as duas marcas que dão título ao filme. Um filme surpreendente, diga-se de passagem! Primeiro, porque mostra Henry Ford II, Enzo Ferrari, Lee Iacoca e Carroll Shelby, nomes lendários da indústria automobilística, circulando co

Náufrago: numa ilha deserta, na companhia de Wilson

Imagem
Náufrago: filme dirigido por Robert Zemeckis A QUINTESSÊNCIA DO MERCHANDISING NO CINEMA Náufrago é um filme de sucesso. Estrondoso, aliás! Dirigido em 2000 por Robert Zemeckis, ele primeiro fez barulho nos cinemas, enfileirando espectadores na frente das bilheterias. Depois, continuou brilhando no videocassete. Depois, no DVD, na TV por assinatura, na TV aberta, nos serviços de streaming... Náufrago é cercado de sucesso por todos os lados e às vezes me pergunto: há algum vivente nesse planeta que ainda não tenha assistido a esse filme? Só se for algum sujeito isolado, sobrevivendo em algum lugar remoto e inacessível – com o perdão do trocadilho!           Mas se ao invés disso resolvermos perguntar por que motivos esse filme chegou ao topo, as respostas virão certeiras: por causa do carisma de Tom Hanks, do marketing milionário, do merchandising das bolas de vôlei e empresas de entrega expressa, da simplicidade do roteiro, da temática rasa e popular, das velhas fórmulas consagradas e

O Curioso Caso de Benjamin Button: Brad Pitt em todas as idades

Imagem
O Curioso Caso de Benjamin Button: filme dirigido por David Fincher MÁGICA DIGITAL PARA TRANSFORMAR UM CONTO EM CINEMA Escrito na década de 1920 por F. Scott Fitzgerald, um dos mais renomados escritores americanos, o conto O Curioso Caso de Benjamin Button virou filme nas mãos do diretor David Fincher em 2008. O projeto circulava há décadas pelos estúdios de Hollywood, tendo passado pelas mãos de diretores como Steven Spielberg e Spike Jonze. Pelas lentes de Fincher – que traz no currículo filmes como Se7en – Os Sete Crimes Capitais , Clube da Luta e o recente Mank – a história ganhou um tratamento visual refinado, subordinando a computação gráfica ao contexto dramático, sem usar a tecnologia como mera pirotecnia.           Ainda assim, foram as mágicas digitais que tornaram possível contar a fascinante história do sujeito que nasce velho e rejuvenesce a cada dia, na contramão de todos nós. Benjamin Button nasceu octogenário, numa Nova Orleans à época da Primeira Guerra Mund

A Pé Ele Não Vai Longe

Imagem
SEM VITIMAR SEU PERSONAGEM, ESSE FILME TEM MUITO DO ESPÍRITO BEATNIK A Pé Ele Não Vai Longe: filme dirigido por Gus Van Sant De novo, Gus Van Sant está às voltas com personagens desajustados! Em A Pé ele Não Vai Longe, de 2018, conta a história de John Callahan, que ficou tetraplégico aos 21 anos depois de um acidente causado pela bebedeira e virou um cartunista famoso nos Estados Unidos, ácido, irreverente e controverso. Encontrar a vocação, vencer o alcoolismo, vencer os demônios internos... Sua trajetória de superação é edificante. Joaquim Phoenix dá um show de atuação! ------------------------------ Joaquim Phoenix encara a câmera, mostrando que seu personagem jamais sente pena de si mesmo. Sente raiva, culpa, medo... E um sem número de emoções que vão se desenhando ao longo do filme. Por meio do seu roteiro bem costurado, Gus Van Sant soube conter os impulsos transgressores e nos conta uma história edificante – que não deixa de ser incômoda, afinal, o personagem não veio ao mundo

Glória Feita de Sangue: um ótimo drama de guerra

Imagem
Glória Feita de Sangue: filme dirigido por Stanley Kubrick QUANDO OS CANALHAS SE REFUGIAM NAS FILEIRAS DO PATRIOTISMO           Na primeira vez em que assisti ao filme Glória Feita de Sangue , realizado em 1957 por Stanley Kubrick, devia ter uns 20 anos. Era de madrugada, estava com insônia e liguei a TV. Por coincidência o filme começou a ser exibido naquele instante. Me acomodei no sofá e pensei:           – É um filme velho, de 1957 e ainda por cima em preto-e-branco... Em pouco tempo vou estar dormindo.           Como me enganei! Não só acompanhei com entusiasmo como decidi que aquele seria, dalí em diante, um dos dez filmes que levaria comigo se tivesse que passar um tempo em uma ilha deserta. Uma obra incrível, que Kubrick dirigiu antes de completar seus 30 anos!           Glória Feita de Sangue baseou-se no romance escrito em 1935 por Humphrey Cobb, inspirado num artigo que leu no New York Times, sobre cinco soldados franceses na Primeira Guerra Mundial, que foram executados po

Green Book: O Guia: viajantes discriminados pela cor da pele

Imagem
Green Book: O Guia: filme dirigido por Peter Farrelly UM FILME SOBRE O RACISMO QUE EMBAÇA A VISÃO DE ALGUNS Muitos consideram o racismo um tema delicado, dada sua elevada octanagem quando misturado a componentes ideológicos. Não vejo assim. Na verdade, a questão é simples: raça e cor da pele não são determinantes dos fatores mentais, morais e espirituais que definem o ser humano. Caráter, talento, inteligência, dignidade, honra... Quem enxerga correlação entre esses valores e as características raciais de um indivíduo o faz por puro preconceito. O faz por algum tipo de conveniência. E ponto final.           Em Green Book: O Guia , filme de 2018 dirigido por Peter Farrelly, esse é apenas o ponto de partida. É de racismo que ele nos fala o tempo todo, mas não de forma panfletária. Faz isso usando o que o cinema tem de melhor: põe diante dos nossos olhos personagens verdadeiros e os deixa interagir em profundidade a partir de suas próprias atitudes e decisões. Dramatiza acontecimentos qu

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: fantasia, horror e compromisso com o belo

Imagem
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: dirigido por Tim Burton TERROR CLÁSSICO E MODERNO NUMA MISTURA EQUILIBRADA   Histórias de fantasia e suspense, quando contadas por um diretor que domina a linguagem visual e é dono de uma estética original, preenchem a tela com cenas inusitadas, surpreendentes e marcantes. A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça , de 1999, é um dos filmes mais bonitos de Tim Burton – sem deixar de ser bastante assustador! É um filme de terror e suspense onde o que mais salta aos olhos é a sensibilidade artística com a qual foi realizado.           Estamos diante de uma obra claramente inspirada nos clássicos filmes realizados pela produtora inglesa Hammer Films, que se especializou em produções góticas de terror e fantasia. Por meio delas, personagens memoráveis, como o Barão Victor Frankenstein, Conde Drácula e a Múmia, ganharam vida para além da literatura e ressuscitaram nas salas de cinema dos anos 50, 60 e 70, fazendo a festa dos cinéfilos apreciadores do gênero. É verdade

Siga a Crônica de Cinema