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Mare of Easttown: uma personagem em sua comunidade

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Mare of Easttown: minissérie dirigida por Craig Zobel EM PRIMEIRO PLANO, OS PERSONAGENS. O MISTÉRIO FICA COMO PANO DE FUNDO Em Easttown, município do condado de Chester, na Pensilvânia, há muita qualidade de vida, que podemos intuir só de olhar as ruas pavimentadas, o paisagismo cuidadoso, o trânsito pacato e as residências belas e confortáveis. Há também uma investigadora de polícia chamada Mare Sheehan, de quem imediatamente desejamos nos tornar íntimos, só de olhar o semblante maduro, grave e atormentado que assume por estar vestida com a pele da atriz Kate Winslet. A força de Mare of Easttwon , a minissérie da HBO que se tornou sucesso imediato e arrebatador, talvez esteja ancorada nesses três elementos: uma personagem, uma atriz e uma comunidade!           Desenvolvida em sete episódios, Mare of Easttown nos traz um drama policial, que gira ao redor de um misterioso assassinato. Sabemos que ele será resolvido, mas não sabemos a que custo emocional para os incontáveis personagens

O Último Grande Herói: sátira inteligente dos filmes de ação, com toques de metalinguagem

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O Último Grande Herói: filme de John McTiernan UM COMPLETO E INESPERADO EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM Minhas postagens na Crônica de Cinema são sempre aleatórias, resultado do meu humor e estado de espírito. É assim que garanto o caráter autoral do blog. Mas, de vez em quando, na hora de escolher um filme para comentar, esbarro numa boa sugestão dos amigos. Dessa vez, quando li o comentário da Jane Chiesse Zandonadi sobre o filme O Último Grande Herói , pensei: – Boa ideia! Eis aqui um filme que pode render uma boa conversa com os cinéfilos!           Para quem ainda não associou o nome à figura, o filme em questão é aquela comédia de ação de 1993 estrelada por Arnold Schwarzenegger e dirigida por John McTiernan, sobre o garoto que, de repente, se vê transportado para a realidade paralela dos filmes de ação. Tornou-se um estrondoso fracasso de bilheteria, causado por uma série de decisões equivocadas tomadas pelos marqueteiros do estúdio – foi lançado praticamente junto com Jurassic Park

Amarcord: as lembranças de Fellini e seus significados

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Amarcord: filme dirigido por Federico Fellini HUMOR, LIRISMO, NOSTALGIA E UMA ATMOSFERA ONÍRICA Só consegui assistir ao filme Amarcord , realizado em 1973 por Federico Fellini, no começo dos anos 1980. Foi pela televisão. Na época, apesar de já ser apresentado como um grande clássico, com relevância na história da sétima arte, o título ainda evocava um certo clima de safadeza, dada a sua temática sexual – eram tempos bem mais puritanos!           Amarcord é uma comédia dramática costurada a partir de um amontado de cenas e esquetes, que não estão presos a uma linha de tempo ou a uma trama estruturada. Não há uma história a ser seguida. Tudo o que temos são situações que lampejam como recordações da infância e da adolescência de Fellini, vividas em Rimini, sua cidade natal. Amor, sexualidade, vida familiar, religião, política, educação, cinema, causos... Tudo é contado com doses generosas de humor, lirismo, nostalgia e emoções verdadeiras.           O significado do título desperta c

Planeta dos Macacos: A Origem: feito a partir de um grande roteiro

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Planeta dos Macacos: A Origem: filme dirigido por Rupert Wyatt FICÇÃO CIENTÍFICA ANCORADA EM ÓTIMOS PERSONAGENS Em 1963 o francês Pierre Boulle escreveu um romance de ficção científica onde narrava o autoextermínio da raça humana pelo uso descontrolado das tecnologias que criou, abrindo caminho para que os símios dominassem o planeta. Deu ao seu romance o título de La Planète Des Singes . Pronto! Cinco anos depois surgiu nas telas O Planeta dos Macacos , filme estrelado por Charlton Heston, que amealhou fãs no mundo todo, ditou novas possibilidades para a ficção científica e originou uma franquia que nunca mais saiu de cartaz. Uma das etapas mais vistosas dessa trajetória aconteceu com o lançamento de Planeta dos Macacos: A Origem , produção realizada dez anos atrás. É sobre ela que gostaria de me deter.           As incríveis técnicas de captura de imagens digitais conseguiram a proeza de se tornar, elas próprias, transparentes para o espectador. Nada de maquiagem ou truques cosmético

A Dama Dourada: a história real do retrato de Adele Bloch-Bauer

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A Dama Dourada: filme dirigido por Simon Curtis UM FILME ELEGANTE E SENSÍVEL, COM DOSES EXATAS DE DRAMATIZAÇÃO Gustav Klimt conquistou um lugar especial como expoente da Art Nouveau. Seus quadros são facilmente reconhecidos pela beleza extravagante, pela originalidade e pela exuberância do estilo dourado, uma fase do seu trabalho que acabou perdendo a força com a ascensão do expressionismo. Tornou-se um orgulho do povo austríaco e conquistou seu lugar de destaque na história da arte. Quando pintou o retrato de Adele Bloch-Bauer, em 1907, por encomenda de Ferdinand, marido da socialite, o artista estava no seu auge. Quando os nazistas tomaram o poder na Áustria, a obra foi pura e simplesmente confiscada – junto com todo o valioso acervo da família!           Depois da guerra, o quadro foi parar na Austrian State Gallery, virou patrimônio cultural do país e ficou por isso mesmo. Até que a descendente de Adele, sua sobrinha Maria Altman, conseguiu recuperar o quadro depois de uma árdua

Mad Max 1: aqui, a matéria-prima é a insanidade

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Mad Max: filme dirigido por George Miller O PONTO MÁXIMO DA LOUCURA PÓS-APOCALIPTICA No final dos anos 70 costumava sair das aulas e ir direto aos sebos no centro da cidade, para vasculhar as estantes à procura de livros baratos e histórias em quadrinhos. Era frequente encontrar exemplares em inglês da revista Heavy Metal e em francês da Metal Hurlant , os quais colecionava. O universo gráfico que vislumbrava no folhear de cada página era feito de pura modernidade. Não havia estética mais ousada e imaginativa chegando por meio da mídia convencional. Então me deparei com o filme Mad Max , realizado em 1979 por George Miller.           Na tela, reconheci imediatamente o visual pós-apocalíptico e a abordagem distópica dos quadrinhos que tanto apreciava. O filme  Mad Max veio como um sopro de novidade, impondo um tratamento diferente para os elementos de ação e perseguição comuns nos filmes do gênero. As doses de violência eram mais intensas, as velocidades maiores, as destruições eram m

Os Bons Companheiros: um dos melhores filmes de gangsters

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Os Bons Companheiros: filme dirigido por Martin Scorsese LINGUAGEM INOVADORA E AUTENTICIDADE Quando Martin Scorsese filmou Os Bons Companheiros , em 1990, o retrato da máfia já estava nítido no imaginário popular, pintado em detalhes por Francis Ford Coppola nos seus filmes O Poderoso Chefão , de 1972 e O Poderoso Chefão II , de 1974. No entanto, a linguagem crua e autêntica trazida pelo diretor nova-iorquino soou como um sopro de renovação no gênero. O público teve a sensação de, agora sim, estar bisbilhotando o verdadeiro mundo do crime organizado em sua intimidade.           O mérito de tal proeza vai, em primeiro lugar, para Nicholas Pileggi, autor do livro Wiseguy , no qual o filme  Os Bons Companheiros se baseou. O livro foi um verdadeiro achado para Scorsese, pois forneceu o material inédito e original que precisava para dar início à sua reputação de “cineasta especializado em filmes de gângsteres”. O outro grande achado do diretor foi o próprio Nicholas Pileggi, o tipo de escr

A Vida é Bela: um humorista colhido pelo holocausto

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Direção: Roberto Benigni UM COMEDIANTE VIVENDO OS HORRORES DO HOLOCAUSTO Para uns, belo e poético, para outros, esquizofrênico e desrespeitoso. O fato é que o filme  A Vida é Bela , comédia dramática de 1997 dirigida por Roberto Benigni, brincou com um assunto sério e navegou num mar de polêmicas, mas terminou atracando nas docas do sucesso. Venceu o Grand Prix do Festival de Cannes em 1998 e faturou três Óscares: melhor filme estrangeiro, melhor ator e melhor trilha sonora – composta por Nicola Piovani. Escrito pelo próprio Benigni em parceria com o roteirista Vincenzo Cerami, o filme ainda suscita discussões acaloradas entre os cinéfilos.          O filme  A Vida é Bela se passa durante a Segunda Guerra Mundial, na cidade de Arezzo na região da Toscana. Guido Orefice, interpretado pelo próprio Benigni, é um judeu destrambelhado, que tenta ganhar a vida como garçom, mas sonha em abrir uma livraria. Conhece Dora, interpretada por Nicoletta Braschi – mulher de Benigni – com quem vive u

Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres

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Gainsbourg: Filme dirigido por Joann Sfar O ÍCONE DA CULTURA POP FRANCESA RETRATADO POR UM DOS MAIORES NOMES DOS QUADRINHOS Dentro de todo autor de histórias em quadrinhos vibra uma alma de cineasta e todo cineasta é aficionado por histórias em quadrinhos. É claro que uma afirmação tão categórica soa arrogante e generalista, mas é a impressão que se tem depois de assistir ao filme Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres . Realizado por Joann Sfar em 2010, o filme é uma cinebiografia de Serge Gainsbourg, o ícone da cultura pop francesa, que fez sucesso como compositor, poeta, músico e pintor, além de ter transitado pelo cinema. Polêmico, para dizer o mínimo, foi profícuo em provocar e escandalizar os franceses ao longo de décadas.           Já o diretor Joann Sfar, também francês, tornou-se um dos mais consagrados artistas do mundo dos quadrinhos e é autor de inúmeros títulos que se tornaram best-sellers. É um contador de histórias inveterado, e desenvolveu um estilo inconfundível, q

Sully - O Herói do Rio Hudson: tinha que virar filme!

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Sully: filme dirigido por Clint Eastwood O NOTICIÁRIO MOSTROU A HISTÓRIA, MAS QUEM DESVENDOU O PERSONAGEM FOI O CINEMA O ano é 2009, durante o mês de janeiro. Você está sentado diante da TV, provavelmente com uma cerveja ou uma bebida refrescante nas mãos, quando arregala os olhos diante de uma notícia incrível: um avião da US Airways com 155 passageiros a bordo faz um pouso de emergência em pleno rio Hudson – o emblemático rio que corta Nova Iorque e banha Manhattan. Por milagre todos se salvam, graças à perícia do piloto e o rápido atendimento das equipes de resgate – e apesar do frio polar que faz lá no hemisfério norte.           Diante desse fato impressionante, não sei qual seria seu primeiro pensamento, entre tantas possibilidades. Porem, sabendo que você é um cinéfilo, aposto que o segundo poderia ser:           – Uau! Isso daria um ótimo filme!           A grande pergunta é: como você contaria essa história? O evento todo, desde a decolagem até o resgate dos passageiros não du

Platoon: as duas faces angustiantes da Guerra do Vietnã

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Platton: filme dirigido por Oliver Stone A EXPERIÊNCIA REALISTA DE SER UM JOVEM COMBATENTE Platoon foi um ponto de virada nos dramas de guerra. Realizado em 1986 pelo cineasta Oliver Stone, o filme impôs um novo padrão para o gênero, que passou a incorporar elementos de realismo e permitir que a câmera opere infiltrada entre os personagens, para inserir o espectador no meio do fogo cruzado. E diferente do grande filme sobre a guerra do Vietnã que o antecedeu – Apocalipse Now  – esse não veio com uma abordagem política: trazia tão somente o ponto de vista do guerreiro que revida os tiros do inimigo, cuja ideologia não tem importância diante da letalidade da sua munição.           Talvez esse tenha sido o segredo do enorme sucesso de Platoon . Os americanos, ainda preocupados em soprar a ferida política causada pela Guerra do Vietnã, encontraram no filme um drama sobre a guerra – qualquer guerra – mostrando seus impactos nos corações e mentes dos seus soldados. É claro que o único cinea

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