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Mostrando postagens de novembro, 2020

Corações de Ferro: a fúria da guerra sem sentido

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Corações de Ferro: filme dirigido por David Ayer DENTRO DE UM TANQUE DE GUERRA É TÃO APERTADO QUE SÓ HÁ ESPAÇO PARA A FÚRIA Nos últimos dias da Segunda Guerra, cinco homens exauridos, confinados em um tanque Sherman, participam da invasão da Europa. A blindagem que os protege é a mesma que os torna expostos e vulneráveis. Seguem mesmo assim, munidos com a coragem de quem já não tem nada a perder, para se meter em algumas das batalhas mais ferozes já filmadas. Filme de 2014, dirigido por David Ayer, Corações de Ferro é um drama de guerra realista, com ótimos personagens.          Depois de assistir a esse filme, fiquei curioso para saber q uem inventou o tanque de guerra. Quem teve a cruel ideia de enlatar guerreiros junto com suas bombas? Seja quem for, talvez só quisesse proteger seus soldados. Torná-los mais eficientes. Mais letais. Bobagem! Em Corações de Ferro o diretor David Ayer, fluente na linguagem dos filmes de ação, mostra que não é nada disso! Um tanque é tão mortal para q

Rosa e Momo: um drama sobre amadurecimento com emoções verdadeiras

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Rosa e Momo: Edoardo Ponti CINEMA ITALIANO INTENSO, MADURO E CONDUZIDO COM OBJETIVIDADE Vez ou outra, enquanto estou concentrado escrevendo sobre filmes para alimentar a Crônica de Cinema, Ludy se dedica a uma atividade que me faz contorcer de inveja: ela assiste aos filmes! Aqui em casa, foi minha mulher quem primeiro degustou Rosa e Momo , produção de 2020 lançada pela Netflix. Depois, durante nossa caminhada, ela fez um saboroso relato, que me despertou a fome de cinema.           – Ela está ótima! Tem quase noventa anos e olha... Dá conta do recado – empolgou-se Ludy, descrevendo como a presença magnética da lendária Sophia Loren enriqueceu o filme.           – Como é mesmo o título?           – É Rosá e Momô – respondeu Ludy. Caprichou na acentuação para me ensinar a pronúncia correta dos nomes dos personagens.           Antes de assistir ao filme, fui fazer a lição de casa. Uma rápida pesquisa na internet revelou se tratar de uma produção dirigida pelo italiano Edoard

O Fabuloso Destino de Amélie Poulin: é uma comédia divertida, mas o tema é a solidão

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O Fabuloso Destino de Amélie Poulin: filme dirigido por  Jean-Pierre Jeunet É FABULOSO O QUE UMA GAROTA SOLITÁRIA E INVENTIVA É CAPAZ DE VIVER EM PARIS Perguntei à minha mulher qual era, afinal, o tema do filme  O Fabuloso Destino de Amélie Poulin . Surpresa com o meu interesse, ela foi logo avisando:           – É comédia, mas tem romance, um pouco de drama... Assisto de novo com você!           Ludy detesta repetir filmes. Para se dispor a ver novamente, é porque gostou muito. E se ela gostou... Tratei de conferir.   Esse filme francês é de 2001, mas de tão conservado, poderia ser deste ano. Nas mãos do diretor Jean-Pierre Jeunet, o roteiro de Guillaume Laurant ganhou uma atmosfera mágica e algo fantasiosa, com pitadas generosas de bom humor. É leve, envolvente, ágil e divertido, mas o que primeiro salta aos olhos é a direção de arte. Já no início percebemos nele a sensibilidade artística que o cinema francês tanto valoriza. Mérito do diretor e da designer de produção Aline Bonetto.

Crash: No Limite: histórias cruzadas, temas espinhosos

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Crash: No Limite: filme dirigido por Paul Haggis HISTÓRIAS CRUZADAS, DE PERSONAGENS QUE IRRADIAM EMOÇÕES INTENSAS Preconceito racial, xenofobia, tensão social, sexismo, machismo... Os temas mais espinhosos borbulham num caldeirão chamado Los Angeles, onde os aglomerados de gentes diversas se afastam e se isolam. Em Crash: No Limite , filme de 2005 escrito e dirigido por Paul Haggis, os personagens estão preocupados com seus dramas pessoais e não percebem que suas vidas se cruzam, num emaranhado de coincidências. Um grande filme, que até hoje suscita discussões.          O filme nos lembra que  na vida real as histórias se cruzam, embaralhando causas e efeitos numa teia incompreensível para quem segue eternamente concentrado nos próprios problemas. Paul Haggis colheu um punhado de histórias distintas e as costurou num roteiro primoroso, onde desenhou um retrato nítido de algumas das muitas tensões que pairam sobre os habitantes de Los Angeles.           – Ah, mas é forçar demais a barra

O Caso de Richard Jewell: uma história real de injustiça

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O Caso de Richard Jewell: filme dirigido por Clint Eastwood QUEM É ESSE SUJEITO? O VILÃO RETRATADO PELA MÍDIA, OU O HERÓI ADORADO PELA MÃE? Diretor: Clint Eastwood. Assim que li essas três palavras, apertei o play. Não deixaria passar a oportunidade de assistir ao filme O Caso de Richard Jewell , de 2019, que acabara de entrar num dos serviços de streaming que costumo acessar. Já tinha lido comentários em alguns sites de cinema, que vieram com ressalvas ao filme, acusando-o de ser raso e recheado de clichês. Precisava ver isso com meus próprios olhos e agora posso afirmar: não é nada disso!         Antes de assumir a defesa do filme, deixe-me situar o leitor: Richard Jewell foi o agente de segurança que encontrou uma bomba no Centennial Park de Atlanta, sede dos jogos olímpicos de 1996. Ela explodiu e matou duas pessoas, ferindo outras 100. Graças à ação de Jewell, um incontável número de vítimas foi salvo e o sujeito virou herói nacional. Porém, uma reviravolta o converteu em vilão. I

O Escafandro e a Borboleta: uma história real de superação

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O Escafandro e a Borboleta: filme dirigido por Julian Schnabel SÓ O CINEMA, COM SEU PODER DE COMUNICAÇÃO, PARA FALAR DA... FALTA DE COMUNICAÇAO! Num momento, Jean-Dominique Bauby estava no topo da carreira, vivendo intensamente o glamouroso mundo da moda. No outro, viu-se confinado consigo mesmo num corpo fulminado pelo AVC. Para contar essa história verídica, o diretor Julian Schnabel encontrou uma estética criativa e poética, seguindo um roteiro primoroso de Sir Ronald Harwood. O Escafandro e a Borboleta , de 2007, é um drama de superação, onde o ator Mathieu Amalric faz mágica.          A história se passa e m 1995. Um acidente vascular cerebral vitimou Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) e o fez experimentar a rara síndrome do encarceramento. Consciente, confrontado primeiro com seus medos e raivas e depois com suas culpas e arrependimentos, descobriu que jamais poderia se comunicar novamente com o mundo. Justo ele que era editor chefe da revista Elle, que experimentara a fama e

O Gambito da Rainha: a jogada é deixar o xadrez apenas como pano de fundo

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O Gambito da Rainha: série dirigida por Scott Frank COMO NAS PÁGINAS DE UM ROMANCE, SETE CAPÍTULOS ENVOLVENTES Disponível na Netflix, a minissérie O Gambito da Rainha  tem sete episódios e é uma joia preciosa para quem gosta de uma boa história bem contada. Baseada no romance escrito em 1983 por Walter Tevis, narra a trajetória de Beth Harmon, uma fictícia enxadrista americana que  ficou órfã aos nove anos, mas  chegou ao topo no circuito dos campeonatos E  conquistou fama e fortuna . Acompanhamos sua chegada ao orfanato, seus primeiros contatos com o xadrez, suas primeiras vitórias, sua imersão no mundo dos campeonatos, seu desenvolvimento incrível e suas conquistas espetaculares, sempre respirando a inconfundível atmosfera dos anos 1960.         Não, em  O Gambito da Rainha,  o xadrez – esporte minucioso, enfadonho e incompreensível para a maioria dos espectadores – não é o foco. É tratado apenas como pano de fundo. Carência afetiva, controle emocional, tenacidade, atitude competitiv

Os Irmãos Sisters: dois pistoleiros numa história diferente

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Os Irmãos Sisters: filme dirigido por Jacques Audiard NÃO É NENHUMA RENOVAÇÃO DO WESTERN, MAS É CINEMA PROVOCANTE E INTELIGENTE O título é uma piada sem graça. O filme, pesado demais para uma comédia, não alcança densidade para ser um verdadeiro drama. É um western porque se passa no Oregon em 1851, mas a história pode se encaixar em qualquer época e lugar. E o diretor é um francês, que faz a adaptação de um romance escrito por um canadense. Tudo isso faz de Os Irmãos Sisters , de 2018, um filme inusitado, que merece ser visto. John C. Reilly e Joaquin Phoenix estão ótimos!           Para preservar o efeito disparatado do título original em inglês, talvez em português pudéssemos ter ficado com... Os Irmãos Irmãs – mas não soaria nada bem. O fato é que Eli Sisters e Charlie Sisters são dois assassinos de aluguel que exalam masculinidade por todos os poros – como, aliás, é praxe em todos os filmes de bangue-bangue. Trabalham para o poderoso Comodoro, que os contrata para perseguir, captu

O Mestre dos Gênios: personagens reais da literatura americana

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O Mestre dos Gênios: Michael Grandage OS MITOS QUE ESCREVEM E EDITAM, SÃO GENTE DE CARNE E OSSO O editor Max Perkins publicou Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald e Thomas Wolfe, numa época em que ninguém queria saber deles e os levou ao sucesso editorial. Mas este não é o tipo de filme pedante, que fica só no verniz intelectual e esnoba o espectador com hermetismos literários. O Mestre dos Gênios , de 2016, dirigido por Michael Grandage, é um drama sensível e envolvente. Revela ótimos personagens e traz os magnéticos Colin Firth e Jude Law à frente do elenco.           Assistindo a esse filme somos confrontados com o fato de que  Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald e Thomas Wolfe são expoentes da literatura americana, mas não precisamos ser especialista neles para assistir a Mestre dos Gênios . Não precisamos sequer ter lido seus livros – embora certamente fiquemos interessados em fazê-lo depois de acompanhar esse belo drama.           Seu protagonista é o compenetrado editor Max Perkins

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