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Mostrando postagens com o rótulo Ação

A Salvação: faroeste dinamarquês sobre vingança e o preço que ela cobra

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A Salvação: dirigido por Kristian Levring A NATUREZA HUMANA BARRANDO O PROCESSO CIVILIZATÓRIO Para falar de A Salvação , faroeste dirigido em 2014 por Kristian Levring, talvez seja mais prudente começar mencionando o Dogma95, movimento cinematográfico do qual o diretor foi integrante. Não que haja paralelos estéticos entre os cânones criados pelos cineastas da Dinamarca em 1995 e esse filme sombrio, inspirado em grandes clássicos de um gênero americano por excelência. O que salta aos olhos são justamente as diferenças! Era de se esperar que uma produção dinamarquesa, roteirizada por Anders Thomas Jensen – outro expoente do Dogma95 que dirigiu recentemente o filme Loucos por Justiça – seguisse os “votos de castidade” combinados entre ele, Lars von Trier, Thomas Vinterberg e Kristian Levring: nada de efeitos especiais tecnológicos, nada de se ater a um gênero específico, nada de se desviar dos valores fundamentais da história, nada de menosprezar a importância das atuações, nada de prod

Déjà Vu: thriller policial que mistura romance e viagem no tempo

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Déjà Vu: filme dirigido por Tony Scott UM GRANDE ROTEIRO NAS MÃOS DE REALIZADORES COMPETENTES Todo mundo já experimentou a sensação: um lampejo de memória assume o comando da consciência e nos põe em dúvida acerca da realidade. Ficamos com um duplo registro, onde “já vivi essa situação anteriormente” passa a ocupar o mesmo espaço mental que “nunca vivi essa situação antes”. A impressão é a de que, a qualquer momento, estaremos diante da famigerada tela azul do Windows!           Que experiência instigante é um déjà vu! Enseja especulações em diferentes campos, da psicologia à espiritualidade, passando pela física, química, biologia, até chegar na... ficção científica, quando essa expressão em francês ganha contornos mais divertidos. O filme  Déjà Vu , realizado em 2006 por Tony Scott tem tudo para ser o perfeito exemplo daquilo que já vimos à exaustão no cinema: explosões, tiros, perseguições, vilões desalmados, policiais implacáveis, viagem no tempo... Mas espere! Há vários elementos

O Exterminador do Futuro: viagem no tempo para eliminar o líder da resistência

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O Exterminador do Futuro: direção de James Cameron O EMBATE FINAL ENTRE O HOMEM E A MÁQUINA No início dos anos 1990, estive a trabalho na Coreia do Sul. Recém-aberto para o mundo, o país fervia em otimismo e pujança econômica, mas os coreanos ainda se espantavam ao cruzar na rua com rostos ocidentais. Todos os olhares se desviavam na minha direção, literalmente. Era constrangedor. Certa manhã, numa rua movimentada de Seul, coloquei um par de óculos escuros, para ver se chamava menos atenção. Que nada! Ao dobrar uma esquina, dois garotinhos que brincavam se assustaram ao me ver. Saíram em disparada, aos berros:           – Terminator! Terminator!           Cai na risada. Olhei em volta, para ver se era algum tipo de pegadinha, porque meu porte físico era o oposto exato daquele ostentado por um Schwarzenegger. Além disso, estava usando barbas. E o Exterminado do Futuro não tem barbas! Concluí que bastou um simples par de óculos escuros para me caracterizar como o personagem daquele film

Posto de Combate: crônica de uma batalha real

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HOMENS COMUNS, VIVENDO UMA SITUAÇÃO EXTRAORDINÁRIA Este não é um filme de ação. É um drama de guerra, filmado como uma homenagem a soldados reais, que lutaram de verdade. Alguns morreram, outros saíram feridos e trouxeram sequelas de uma das mais difíceis batalhas no Afeganistão. Posto de Combate , dirigido por Rod Lurie em 2020, é o tipo de filme que causa arrepios nos ideólogos de plantão – aqueles que batem o pé no antiamericanismo, ainda que os inimigos da vez sejam os execráveis talibãs! Já os desavisados, que como eu tropeçam na capa desse filme no serviço de streaming e resolvem conferir, podem se decepcionar com a falta de cenas retumbantes e recheadas de efeitos especiais. Não encontrarão personagens retratados em profundidade, nem subtramas envolventes. Tudo o que acompanharão é uma espécie de crônica, que se apega à cronologia dos fatos para entregar um relato preciso do campo de batalha.           Em Posto de Combate , porém, encontrei muito mais do que dramatizações em lin

Terra Selvagem: uma ficção inspirada em fatos

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Terra Selvagem: direção de Taylor Sheridan ELEMENTOS DE WESTERN, NUM ROTEIRO IMPECÁVEL O diretor Taylor Sheridan realizou uma façanha e tanto. Em questão de três anos teve seu nome envolvido em três ótimos filmes, que alcançaram grande sucesso nas bilheterias e na opinião dos críticos. Primeiro, como roteirista, ele emplacou em 2015 o filme Sicario: Terra de Ninguém , dirigido por Denis Villeneuve. Repetiu a dose em 2016, com A Qualquer Custo , dirigido por David Mackenzie – inclusive indicado ao Oscar de melhor roteiro original. E em 2017 o próprio Sheridan decidiu filmar um de seus roteiros, realizando o ótimo Terra Selvagem .           Apesar de contar histórias bem distintas, as três produções guardam um elemento em comum: a temática violenta, que se passa em terras remotas e fora do alcance da lei e da ordem. Os cinéfilos logo identificarão, nessa espécie de trilogia, os elementos herdados do gênero western, mas perceberão que eles aparecem renovados, utilizados com originalidade

Última Chance: um policial em constante estado de perseguição

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Última Chance: direção de Steven C. Miller QUAL É MESMO O TÍTULO DAQUELE FILME? Segunda-feira à noite, esparramado no sofá, controle remoto na mão, navegando pelos serviços de streaming à cata de entretenimento... O risco de fazer a escolha errada e terminar decepcionado é imenso. Ainda assim, sou viciado nesse jogo! Mesmo quando aposto em um filme que se releva ruim, tento tirar algum proveito, alguma lição. Última Chance , dirigido em 2019 por Steven C. Miller, tem poucos ensinamentos para oferecer no campo cinematográfico, mas faz refletir sobre o imbróglio no qual estamos nos metendo enquanto sociedade hiperconectada. Mas antes de entrar nesse mérito, vamos pôr à mesa uma sinopse, para deixar claro que se trata de uma produção repleta de cartas marcadas.           Frank Penny (Aaron Eckhart) é outro daqueles policiais duros de matar, sem um passado que lhe dê base psicológica, caráter ou moral. Tudo o que temos para caracterizá-lo é o uniforme azul e a estampa do ator que o interpr

Batman: novo fôlego para o vigilante mascarado

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Batman: filme de Matt Reeves UM PERSONAGEM AFERRADO À SUA CONCEPÇÃO GRÁFICA – Onde fica Gotham City? – perguntei, enquanto mordia meu pão com queijo e mortadela. Meu pai não tirou o olho do jornal. Deu um longo gole na sua xícara de café fumegante e resmungou:           – Gotham City não existe! É uma cidade de mentira.           – Por que não fizeram a história numa cidade de verdade?           – Porque o Batman é de mentira. – E completou, olhando-me nos olhos: – Não existe!           Meu pai terminou de ler o jornal, despediu-se e saiu para o trabalho. Não gostava de histórias em quadrinho. Não perdia tempo com essas bobagens infantis. Diferente dele, eu adorava. Queria saber tudo sobre o Batman. Na minha infância, havia dois deles: o dos quadrinhos, que era mais raivoso e sombrio, e o da TV, mais engraçado e irreal. Mas havia apenas uma Gotham City, imensa e parecida com as cidades americanas. Para o meu pai, ela não existia, mas eu a enxergava como uma personagem. Era habitada por

Sicario: Terra de Ninguém: de que lado está o assassino?

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Sicario: Terra de Ninguém: filme de Denis Villeneuve LUTANDO NA FRONTEIRA DA ÉTICA E DA MORAL Os policiais, no seu esforço para combater o tráfico de drogas, estão do lado dos mocinhos. Os traficantes, aferrados à violência, estão na horda dos bandidos. O embate entre ambos os lados resulta em incontáveis cenas de ação, coreografadas com precisão e capturadas graficamente nos seus detalhes mais sórdidos. É o que temos no cardápio da maioria dos filmes policiais, interessados em oferecer entretenimento ligeiro e despreocupados em matar nossa fome de bom cinema. Em Sicario: Terra de Ninguém , filme de 2015 dirigido por Denis Villeneuve, o prato principal é outro: os realizadores fazem questão de nos servir um punhado de temas filosóficos e questões morais, envoltos por uma atmosfera de tensão e desorientação, temperados com um forte sabor amargo de realidade. No final, saímos empanturrados de tanto cinema de qualidade!           A violência é ingrediente salpicado com generosidade em vár

Avatar: ficção científica com significados espirituais

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Avatar: filme dirigido por James Cameron VAMOS ACABAR FLUENTES NO IDIOMA NA’VI Quando foi lançado em 2009, o filme Avatar , dirigido por James Cameron, extasiou os amantes da ficção científica. A promessa de imagens espetaculares, geradas por meio de tecnologias de ponta na computação gráfica, foi atrativo mais do que suficiente para me arrastar até um cinema IMAX, onde assisti ao filme em 3D. Precisei comprar os ingressos com antecedência – dois, porque fiz questão de levar Ludy comigo. Minha mulher não é exatamente uma entusiasta do gênero, mas entrou no cinema certa de que aproveitaria bons momentos de entretenimento. Saiu satisfeita, mas sem demonstrar um décimo da empolgação que se apoderou de mim. Na volta para casa, já fazia planos para revisitar o filme tantas vezes quanto fossem necessárias, até investigar todos os seus detalhes.           Para os cinéfilos mais concentrados na arte cinematográfica, Avatar é cinema comercial por excelência, rotulado imediatamente como peça de

A Guerra do Amanhã: ação, drama familiar e uma premissa descabida

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A Guerra do Amanhã: dirigido por Chris McKay HAVERÁ FUTURO PARA NOSSOS FILHOS E NETOS? Nesses dias conturbados, temos uma guerra entre russos e ucranianos sendo transmitida ao vivo por todas as plataformas. E uma das incômodas, que produzem cenas tristes, lamentáveis e absurdas de tanta destruição. Quando o conflito eclodiu, o que primeiro chamou a atenção da opinião pública foi a idade dos soldados no campo de batalha. Jovens de 18 ou 19 anos, metidos em uniformes e armados de fuzis, que não conseguem disfarçar a expressão assustada. Entretanto, não há novidade na convocação da juventude para encarar os horrores da guerra. A humanidade faz isso desde sempre. Deixa os donos do poder – eles mesmos os causadores das guerras – na retaguarda, para dar ordens e costurar as narrativas que julgarem apropriadas, enquanto os garotos morrem no front. Essa lógica cruel que rege as guerras de verdade aparece invertida no filme A Guerra do Amanhã , dirigido em 2021 por Chris McKay. Nessa ficção cie

O Homem da Máfia: adaptado do livro escrito por um virtuoso dos diálogos

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O Homem da Máfia: dirigido por Andrew Dominik PERSONAGENS QUE FALAM, FALAM... E SE REVELAM! Tom de voz, microexpressões, figurinos, o jeito de andar, o gestual... Um ator se vale de diferentes recursos para melhor caracterizar seu personagem, buscando transmitir verossimilhança e profundidade dramática. O diretor também faz a sua parte: mantém a câmera a uma distância adequada, imprime o ritmo certo para a cena, escolhe enquadramentos expressivos, uma música incidental pertinente, a luminosidade apropriada... Quando esse conjunto toca afinado o resultado é... cinema! Mas acontece que uma boa história não pode ser contada apenas com elementos cosméticos. É preciso revelar a verdade do personagem. É preciso explicitar suas intenções, escancarar seus segredos, radiografar o que se passa no seu inconsciente... Quem faz isso é o roteirista! E o faz por meio de um poderoso recurso narrativo: o diálogo. O Homem da Máfia , filme de 2012 dirigido por Andrew Dominik, é um filme que valoriza as f

Moonfall - Ameaça Lunar: um filme de catástrofe que é... catastrófico!

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Moonfall - Ameaça Lunar: direção de Roland Emmrich O DESASTRE COMEÇA PELO ROTEIRO! Para contar uma história da melhor maneira possível, é legítimo que um cineasta subverta as leis da física, ignore as forças da natureza e chute para o espaço os princípios da lógica. Só não pode abrir mão da verossimilhança. É preciso manter coerência entre as situações extraordinárias que inventa e o universo interno dos seus personagens. Enquanto o espectador seguir reconhecendo a verdade no fluxo emocional que chega irradiado da tela, pouco importa se a história parece irreal e improvável. Pelo menos ela é verossímil! No filme Moonfall – Ameaça Lunar , dirigido em 2022 por Roland Emmerich, todos os baldes foram chutados, respingando absurdos por todos os lados. Foi tudo em nome do entretenimento, é verdade, mas quem gosta de cinema não se contenta com passatempos. Para ficar no trocadilho, o filme é um desastre.           Quem entra na sala de cinema para assistir a um filme sobre a destruição catast

Distrito 9: ação e suspense numa ficção científica provocativa

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Distrito 9: filme dirigido por Neill Blomkamp UMA DISTOPIA INTELIGENTE FILMADA COM REALISMO PERTURBADOR Em 2005, o cineasta Neill Blomkamp pôs em prática o que aprendeu na Vancouver Film School e realizou um curta-metragem de seis minutos, intitulado Alive in Joburg . Era ficção científica na veia, filmado em Joanesburgo, na África do Sul, cidade natal de Blomkamp. Explorava temas ao redor do regime de apartheid, combinando uma linguagem documental com efeitos visuais realistas. Mostrava como refugiados alienígenas, vindos do espaço, estavam disputando território e recursos com a população empobrecida da cidade, despertando medo, ódio e fúria xenófoba. Uma metáfora provocativa que ganhou a internet e alavancou a carreira do cineasta.           Por uma conjunção de fatores comerciais, Neill Blomkamp se viu novamente diante do tema em 2009, dessa vez para rodar o filme Distrito 9 , uma adaptação daquele seu curta. Juntou-se à sua colega Terri Tatchell e escreveram o roteiro, expandindo a

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