Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Policial

Terra Selvagem: uma ficção inspirada em fatos

Imagem
Terra Selvagem: direção de Taylor Sheridan ELEMENTOS DE WESTERN, NUM ROTEIRO IMPECÁVEL O diretor Taylor Sheridan realizou uma façanha e tanto. Em questão de três anos teve seu nome envolvido em três ótimos filmes, que alcançaram grande sucesso nas bilheterias e na opinião dos críticos. Primeiro, como roteirista, ele emplacou em 2015 o filme Sicario: Terra de Ninguém , dirigido por Denis Villeneuve. Repetiu a dose em 2016, com A Qualquer Custo , dirigido por David Mackenzie – inclusive indicado ao Oscar de melhor roteiro original. E em 2017 o próprio Sheridan decidiu filmar um de seus roteiros, realizando o ótimo Terra Selvagem . Apesar de contar histórias bem distintas, as três produções guardam um elemento em comum: a temática violenta, que se passa em terras remotas e fora do alcance da lei e da ordem. Os cinéfilos logo identificarão, nessa espécie de trilogia, os elementos herdados do gênero western, mas perceberão que eles aparecem renovados, utilizados com originalidade e sempre e

Última Chance: um policial em constante estado de perseguição

Imagem
Última Chance: direção de Steven C. Miller QUAL É MESMO O TÍTULO DAQUELE FILME? Segunda-feira à noite, esparramado no sofá, controle remoto na mão, navegando pelos serviços de streaming à cata de entretenimento... O risco de fazer a escolha errada e terminar decepcionado é imenso. Ainda assim, sou viciado nesse jogo! Mesmo quando aposto em um filme que se releva ruim, tento tirar algum proveito, alguma lição. Última Chance , dirigido em 2019 por Steven C. Miller, tem poucos ensinamentos para oferecer no campo cinematográfico, mas faz refletir sobre o imbróglio no qual estamos nos metendo enquanto sociedade hiperconectada. Mas antes de entrar nesse mérito, vamos pôr à mesa uma sinopse, para deixar claro que se trata de uma produção repleta de cartas marcadas.           Frank Penny (Aaron Eckhart) é outro daqueles policiais duros de matar, sem um passado que lhe dê base psicológica, caráter ou moral. Tudo o que temos para caracterizá-lo é o uniforme azul e a estampa do ator que o interpr

Batman: novo fôlego para o vigilante mascarado

Imagem
Batman: filme de Matt Reeves UM PERSONAGEM AFERRADO À SUA CONCEPÇÃO GRÁFICA – Onde fica Gotham City? – perguntei, enquanto mordia meu pão com queijo e mortadela. Meu pai não tirou o olho do jornal. Deu um longo gole na sua xícara de café fumegante e resmungou:           – Gotham City não existe! É uma cidade de mentira.           – Por que não fizeram a história numa cidade de verdade?           – Porque o Batman é de mentira. – E completou, olhando-me nos olhos: – Não existe!           Meu pai terminou de ler o jornal, despediu-se e saiu para o trabalho. Não gostava de histórias em quadrinho. Não perdia tempo com essas bobagens infantis. Diferente dele, eu adorava. Queria saber tudo sobre o Batman. Na minha infância, havia dois deles: o dos quadrinhos, que era mais raivoso e sombrio, e o da TV, mais engraçado e irreal. Mas havia apenas uma Gotham City, imensa e parecida com as cidades americanas. Para o meu pai, ela não existia, mas eu a enxergava como uma personagem. Era habitada por

Sicario: Terra de Ninguém: de que lado está o assassino?

Imagem
Sicario: Terra de Ninguém: filme de Denis Villeneuve LUTANDO NA FRONTEIRA DA ÉTICA E DA MORAL Os policiais, no seu esforço para combater o tráfico de drogas, estão do lado dos mocinhos. Os traficantes, aferrados à violência, estão na horda dos bandidos. O embate entre ambos os lados resulta em incontáveis cenas de ação, coreografadas com precisão e capturadas graficamente nos seus detalhes mais sórdidos. É o que temos no cardápio da maioria dos filmes policiais, interessados em oferecer entretenimento ligeiro e despreocupados em matar nossa fome de bom cinema. Em Sicario: Terra de Ninguém , filme de 2015 dirigido por Denis Villeneuve, o prato principal é outro: os realizadores fazem questão de nos servir um punhado de temas filosóficos e questões morais, envoltos por uma atmosfera de tensão e desorientação, temperados com um forte sabor amargo de realidade. No final, saímos empanturrados de tanto cinema de qualidade!           A violência é ingrediente salpicado com generosidade em vár

O Homem da Máfia: adaptado do livro escrito por um virtuoso dos diálogos

Imagem
O Homem da Máfia: dirigido por Andrew Dominik PERSONAGENS QUE FALAM, FALAM... E SE REVELAM! Tom de voz, microexpressões, figurinos, o jeito de andar, o gestual... Um ator se vale de diferentes recursos para melhor caracterizar seu personagem, buscando transmitir verossimilhança e profundidade dramática. O diretor também faz a sua parte: mantém a câmera a uma distância adequada, imprime o ritmo certo para a cena, escolhe enquadramentos expressivos, uma música incidental pertinente, a luminosidade apropriada... Quando esse conjunto toca afinado o resultado é... cinema! Mas acontece que uma boa história não pode ser contada apenas com elementos cosméticos. É preciso revelar a verdade do personagem. É preciso explicitar suas intenções, escancarar seus segredos, radiografar o que se passa no seu inconsciente... Quem faz isso é o roteirista! E o faz por meio de um poderoso recurso narrativo: o diálogo. O Homem da Máfia , filme de 2012 dirigido por Andrew Dominik, é um filme que valoriza as f

Um Crime de Mestre: um honesto suspense de tribunal

Imagem
Um Crime de Mestre: dirigido por Gregory Hoblit TIRANDO PROVEITO DO EMARANHADO JURÍDICO Lá pelos doze anos, o que me estimulou para a leitura foi Sherlock Holmes. As histórias do famoso detetive e seu assistente, Doutor Watson, mantinham-me ocupado por horas nas tardes de férias. Foi nas páginas de Sir Arthur Conan Doyle que encontrei a comprovação: o crime não compensa, mentira tem perna curta e não existe crime perfeito! O arrogante criminoso sempre deixará pistas na cena do crime, que estarão gritando na direção da verdade. Basta usar as ferramentas da dedução para montar o quebra-cabeça e fechar o circuito lógico.           Quando virava a última página do livro e encontrava a palavra “fim”, começava uma nova aventura: a de tentar imaginar como o autor havia construído tão intrincada história. A única possibilidade, conforme minhas próprias deduções lógicas, era seguir o caminho reverso: começar bolando a trama e depois criar os detalhes do crime, imaginando as pistas que seriam de

Imperdoável: Sandra Bullock merecia um roteiro melhor

Imagem
Imperdoável: filme dirigido por Nora Fingscheidt QUEM NÃO MERECE PERDÃO SÃO OS ROTEIRISTAS! Já vou logo avisando: esta crônica será diferente daquelas que você costuma ler aqui na Crônica de Cinema. O motivo é que detestei esse filme! Ele é irritantemente fraco e mal construído. Para explicar meu ponto de vista, precisarei apelar para spoilers – o que evito ao máximo, mas aqui serão necessários. Assim, fica o alerta: caso não tenha assistido ao filme  Imperdoável , dirigido em 2021 por Nora Fingscheidt, talvez prefira fazê-lo antes de ler esse texto. Depois de ver com os próprios olhos, poderá voltar e conferir se as nossas opiniões convergem ou divergem.           Antes de mais nada, quero lembrar que o filme  Imperdoável é a adaptação para o cinema da minissérie em três episódios intitulada Unforgiven , escrita por Sally Wainwright e exibida na TV britânica em 2009. Vejo aqui o primeiro ponto fraco! O fluxo narrativo numa minissérie é diferente daquele apropriado para um filme. Lá h

Breaking Bad: a série de maior sucesso

Imagem
Breaking Bad: série criada por Vince Gilligan PERSONAGENS VEROSSÍMEIS EM REAÇÕES SURPREENDENTES Os serviços de streaming revolucionaram as séries de televisão, fornecendo a elas uma plataforma poderosa para saltar diretamente no colo de um público ávido por diversão. Breaking Bad revolucionou as séries de televisão, impondo um padrão de qualidade em intensidade dramática e fluxo narrativo. Sucesso absoluto, rendeu cinco temporadas com 62 episódios de quase uma hora, exibidos entre 2008 e 2013. Depois dela, os contadores de história tiveram que se adaptar a uma nova realidade: os espectadores ficaram mais exigentes! E passaram a aceitar a abordagem de temas violentos e polêmicos com a intensidade que antes só podia ser exibida no cinema.           Devo confessar que Ludy e eu não caímos de imediato nas redes de Breaking Bad . O bom e velho formato dos filmes, onde tudo se resolve em praticamente duas horas, sempre foi mais confortável. Além disso, minha mulher detesta ter que se progra

O Gângster: thriller com atmosfera dos grandes clássicos sobre a máfia

Imagem
O Gângster: filme dirigido por Ridley Scott UM FILME DE GÂNGSTERES QUE MERECE ESTAR ENTRE OS CLÁSSICOS DO GÊNERO O filme O Gângster , dirigido em 2007 por Ridley Scott, tem um atrativo poderoso: é baseado em fatos. Narra a história de Frank Lucas (Deenzel Washington), um bandido do Harlem que, em 1968, herdou os negócios do mafioso Ellsworth Johnson. Ele teve a ideia ousada de eliminar os intermediários no circuito da droga e passou a importar heroína diretamente do Vietnã, usando a logística de militares corruptos. Em questão de meses desbancou a máfia italiana e acumulou uma fortuna descomunal. Porém, como levava uma vida discreta e sem ostentação, as autoridades nem sequer tinham conhecimento da sua existência. Vivia no melhor dos mundos.           Na outra ponta dessa história real, está Richie Roberts (Russel Crowe), um policial tão honesto que certa vez devolveu aos cofres públicos 1 milhão de dólares em dinheiro de suborno, que havia encontrado numa batida. Só tinha um objetivo

Mare of Easttown: uma personagem em sua comunidade

Imagem
Mare of Easttown: minissérie dirigida por Craig Zobel EM PRIMEIRO PLANO, OS PERSONAGENS. O MISTÉRIO FICA COMO PANO DE FUNDO Em Easttown, município do condado de Chester, na Pensilvânia, há muita qualidade de vida, que podemos intuir só de olhar as ruas pavimentadas, o paisagismo cuidadoso, o trânsito pacato e as residências belas e confortáveis. Há também uma investigadora de polícia chamada Mare Sheehan, de quem imediatamente desejamos nos tornar íntimos, só de olhar o semblante maduro, grave e atormentado que assume por estar vestida com a pele da atriz Kate Winslet. A força de Mare of Easttwon , a minissérie da HBO que se tornou sucesso imediato e arrebatador, talvez esteja ancorada nesses três elementos: uma personagem, uma atriz e uma comunidade!           Desenvolvida em sete episódios, Mare of Easttown nos traz um drama policial, que gira ao redor de um misterioso assassinato. Sabemos que ele será resolvido, mas não sabemos a que custo emocional para os incontáveis personagens

O Último Grande Herói: sátira inteligente dos filmes de ação, com toques de metalinguagem

Imagem
O Último Grande Herói: filme de John McTiernan UM COMPLETO E INESPERADO EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM Minhas postagens na Crônica de Cinema são sempre aleatórias, resultado do meu humor e estado de espírito. É assim que garanto o caráter autoral do blog. Mas, de vez em quando, na hora de escolher um filme para comentar, esbarro numa boa sugestão dos amigos. Dessa vez, quando li o comentário da Jane Chiesse Zandonadi sobre o filme O Último Grande Herói , pensei: – Boa ideia! Eis aqui um filme que pode render uma boa conversa com os cinéfilos!           Para quem ainda não associou o nome à figura, o filme em questão é aquela comédia de ação de 1993 estrelada por Arnold Schwarzenegger e dirigida por John McTiernan, sobre o garoto que, de repente, se vê transportado para a realidade paralela dos filmes de ação. Tornou-se um estrondoso fracasso de bilheteria, causado por uma série de decisões equivocadas tomadas pelos marqueteiros do estúdio – foi lançado praticamente junto com Jurassic Park

Mad Max 1: aqui, a matéria-prima é a insanidade

Imagem
Mad Max: filme dirigido por George Miller O PONTO MÁXIMO DA LOUCURA PÓS-APOCALIPTICA No final dos anos 70 costumava sair das aulas e ir direto aos sebos no centro da cidade, para vasculhar as estantes à procura de livros baratos e histórias em quadrinhos. Era frequente encontrar exemplares em inglês da revista Heavy Metal e em francês da Metal Hurlant , os quais colecionava. O universo gráfico que vislumbrava no folhear de cada página era feito de pura modernidade. Não havia estética mais ousada e imaginativa chegando por meio da mídia convencional. Então me deparei com o filme Mad Max , realizado em 1979 por George Miller.           Na tela, reconheci imediatamente o visual pós-apocalíptico e a abordagem distópica dos quadrinhos que tanto apreciava. O filme  Mad Max veio como um sopro de novidade, impondo um tratamento diferente para os elementos de ação e perseguição comuns nos filmes do gênero. As doses de violência eram mais intensas, as velocidades maiores, as destruições eram m

Cães de Aluguel: o que há de novidade nesse Tarantino?

Imagem
Cães de Aluguel: filme dirigido por Quentin Tarantino O ESTILO TARANTINO DE FAZER CINEMA De quais substâncias é feita uma novidade? Originalidade? Ineditismo? Singularidade? Quando Quentin Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel , em 1992, seu filme exalava novidade. Era diferente de qualquer outro já feito. Contava uma história brutal, mas o fazia com pitadas de humor, insinuando algo de improvisado e realizado com certo desleixo. Era uma obra que parecia não se levar a sério. Lembrava mais um mero fragmento do verdadeiro drama policial que tentava narrar.           Cães de Aluguel é um filme sobre um assalto bem-sucedido, realizado por um bando de homens que não se conhecem. Mas a ação, que nas mãos de um diretor convencional seria tratada como a cereja do bolo, foi solenemente ignorada por Tarantino. Ele prefere contar os fatos que acontecem após o assalto, quando se encontram em um galpão abandonado para dividir os diamantes roubados.           Mas onde, exatamente, está

Crime Sem Saída: filme policial com Chadwick Boseman

Imagem
Crime Sem Saída: filme dirigido por Brian Kirk UM POLICIAL INFALÍVEL AGINDO DO LADO CERTO: RECEITA DE BOM ENTRETENIMENTO Tem certos dias em que tudo o que preciso é relaxar. Esfriar a cabeça. É quando o cinema de entretenimento se torna a melhor pedida. Nada de tramas intrincadas, abordagens psicológicas, referências literárias, criações artísticas que exigem bagagem cultural... Um filminho leve, despretensioso e escapista é um santo remédio!           Quando compartilho a televisão com a Ludy, a escolha relaxante recairá sobre uma comédia romântica, uma aventura ou mesmo um drama leve. Minha mulher não suporta filmes violentos. Se estou sozinho, será um filme de ação, com tiros, perseguições, lutas... O problema é encontrar um filme de ação leve, despretensioso e escapista que seja bom. No último final de semana tive sorte!           Crime Sem Saída , filme de 2017 dirigido por Brian Kirk é uma dessas gratas surpresas, que nos põem relaxados no sofá. Traz uma trama policial si

Siga a Crônica de Cinema