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Pequena Miss Sunshine: uma família, uma Konbi e um objetivo em comum

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Pequena Miss Sunshine: filme dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris UMA COMÉDIA DELICIOSA, RECHEADA DE DRAMA AUTÊNTICO Uma velha Kombi amarela e branca, empurrada por uma família inteira. Uma família com problemas, mas inteira! Que se reconhece como família, depois que seus membros perturbados exercitam um pouco do bom e velho... convívio. Seguem para um futuro desconhecido, empanturrados de presente e preparados para encarar seus dramas com bom humor. O que é preciso para realizar um filme assim? Criatividade? Persistência? Coragem? Bem... todos esses ingredientes são essenciais, mas de nada servem sem um bom roteiro. E o filme Pequena Miss Sunshine , dirigido em 2006 pelo casal Jonathan Dayton e Valerie Faris tem um dos bons! Essa produção encantadora nos mostra que o cinema, mesmo quando não é feito em escala industrial, é resultado da soma dos talentos que se reúnem ao redor de uma ótima ideia.           Tudo começou com o roteirista iniciante Michael Arndt. Certo de que havi

Rumble Fish

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Rumble Fish: filme dirigido por Francis Ford Coppola Imagine-se explorando uma imensa biblioteca, quando se depara com a placa “Preciosidades” colada numa das prateleiras. É lá que você encontra obras como essa! ------------------------------ No Brasil, Rumble Fish virou O Selvagem da Motocicleta – o título decepcionou os desavisados que entraram no cinema esperando ver uma espécie de Velozes & Furiosos da época. Para os amantes do cinema, esse autêntico Francis Ford Coppola continua brilhando até hoje, sem perder a intensidade. Leia também as crônicas sobre outros filmes dirigidos por Francis Ford Coppola: Apocalypse Now O Poderoso Chefão

Ilha do Medo: revisitar esse filme pode ser ainda melhor!

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Ilha do medo: filme dirigido por Martin Scorsese AQUI, A MATÉRIA-PRIMA É SURPRESA Um bom escritor não usa truques sujos para distrair o leitor. Não omite informações para criar suspense, nem espalha pistas falsas para pegá-lo de surpresa, em alguma virada de página lá pelo segundo terço do livro. Ao invés disso, um autor competente prefere levar o leitor a descobrir a verdade junto com o personagem. Procura colocar o leitor no exato ponto de vista do protagonista, para que montem juntos o quebra-cabeça da trama e descubram a verdade. Sintam o seu impacto. Dividam as emoções. Esse é o talento de Dennis Lehane, que assina o romance Ilha do Medo , adaptado para o cinema em 2010 por Martin Scorsese.           Lehane é um escritor muito bem aproveitado pela indústria do cinema. Em 2003 já teve seu romance Sobre Meninos e Lobos filmado por Clint Eastwood e depois, em 2007, foi a vez de seu romance Medo da Verdade ser adaptado por Bem Affleck. Agora, com esse thriller psicológico sombrio e

A.I. Inteligência Artificial: com final idealizado por Stanley Kubrick

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A.I. - Inteligência Artificial: direção: Steven Spielberg SINERGIA DE DUAS INTELIGÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS Stanley Kubrick era um caçador de histórias. Quando encontrava uma que o surpreendia, apropriava-se dela com a voracidade de um felino compenetrado e não sossegava enquanto não conseguisse adaptá-la para as telas. Em 1969 ele leu um conto publicado na revista de moda Harper’s Bazaar, escrito por Brian Aldiss e intitulado Super-Toys Last All Summer Long . Pronto! Encontrou uma história pela qual valeria a pena mover montanhas para filmar. E moveu, mas não viveu para vê-lo concretizado.           O conto era sobre máquinas inteligentes convivendo com seres humanos solitários, num futuro sombrio onde apenas poucos recebem permissão para ter filhos. Monica Swinton e seu marido Henry vivem com o filho David, mas não conseguem ser plenamente felizes. Ela não consegue se relacionar com o garoto e tenta de tudo para desenvolver alguma afetividade por ele. Compra um brinquedo robô, Teddy, n

Os 12 Macacos: viagem no tempo e o significado de salvar a raça humana

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Os 12 Macacos: filme dirigido por: Terry Gillian FICÇÃO CIENTÍFICA COM A ENTONAÇÃO DE UM DIRETOR INOVADOR Em 1895, Albert Einstein contava apenas 16 anos e ainda estava longe de publicar suas teorias sobre a Relatividade. O grande público não fazia ideia sobre os conceitos de gravidade, espaço-tempo e outras bizarrices da física moderna, mas naquele ano deliciou-se com o romance de H.G. Wells intitulado A Máquina do Tempo . Foi o primeiro livro desse autor genial e também a primeira história contada sobre as viagens no tempo. Abriu a porteira! De lá para cá, passou uma boiada inteira de ótimas ideias envolvendo viajantes ao passado e ao futuro, fazendo a festa dos amantes da ficção científica. E quando pensávamos que o assunto já estava esgotado, vem o filme Os 12 Macacos , dirigido em 1995 por Terry Gilliam e recupera um brilho de criatividade para esse gênero.           Contada do ponto de vista de Terry Gillian, uma história sobre viagens no tempo vai além do que já se tornou clich

Chinatown: um caso complicado explicado num roteiro primoroso

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Chinatown: filme dirigido por Roman Polansky MAIS DO QUE UM FILME, JÁ VIROU PATRIMÔNIO CULTURAL Roman Polanski, empunhando um estilete, faz cara de mau para interpretar um bandido abjeto – mas elegante em sua estampa europeia. Impiedoso, corta o nariz de Jack Nicholson, ou melhor, de JJ Gittes, o detetive autoconfiante que se comporta como quem já viu de tudo nessa vida, mas que está prestes a fazer uma descoberta estarrecedora. Essa cena de Chinatown , dirigido em 1974 por Roman Polanski, vem como um alerta para o próprio espectador: não meta o nariz onde não é chamado. Mas já é tarde! Desde as primeiras cenas desse neo-noir envolvente, já fomos fisgados pelo carisma do protagonista e pelo clima de mistério dessa história complexa e surpreendente.           Chinatown foi o filme que consagrou Jack Nicholson e o colocou entre os melhores atores de Hollywood. Foi também a última produção que Polanski realizou nos Estados Unidos, antes de retornar definitivamente para a Europa. Também r

Perdido em Marte: um filme que leva a ciência a sério

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Perdido em Marte: filme dirigido por Ridley Scott CIÊNCIA DE VERDADE, MISTURADA COM AÇÃO, EMOÇÃO E AVENTURA Por intermédio do cinema, conseguimos viajar para lugares onde provavelmente jamais pisaremos. Mas alguns filmes conseguem nos levar mais longe: criam uma experiência tão verossímil, que tal viagem termina incorporada ao nosso repertório de vida. Trazemos dela memórias afetivas tão vívidas quanto aquelas que guardamos do último ponto turístico que visitamos nas férias. Quer um exemplo? As areias de Marte! Depois que assisti ao filme Perdido em Marte , realizado em 2015 por Ridley Scott, saí com a sensação de que verdadeiramente caminhei pelas paisagens avermelhadas daquele planeta. Senti os efeitos da baixa gravidade e da atmosfera rarefeita. Cheguei a pensar que, afinal de contas, Marte não é assim tão... inóspito!           Se estou empolgado, caro cinéfilo, não é por causa de alguma experiência sensorial imersiva durante a projeção – não assisti ao filme olhando para uma tela

A Origem: uma jornada pelo mundo dos sonhos

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A Origem: filme dirigido por Christopher Nolan PLANTANDO SEMENTES DE IDEIAS NO SOLO ONDE ELAS CRESCEM: O INCONSCIENTE Uma ideia original e um roteiro trabalhado à exaustão. Tratamento visual apurado e trilha sonora emocionante. Ação bem orquestrada e elenco carismático.... Com tantos atributos positivos, A Origem , realizado em 2010 por Christopher Nolan, já seria um grande filme. Mas então nos deparamos com um protagonista bem construído, revelado em sua profundidade psicológica e que descreve um arco dramático comovente. Isso eleva a qualidade do filme e o destaca dentro do gênero ficção científica. Não foi à toa que amealhou fãs de todas as faixas etárias.           A Origem consumiu um orçamento milionário, com o qual poucos realizadores conseguem... sonhar. Mas nesse caso, dinheiro não foi tudo! A habilidade de Christopher Nolan para contar com agilidade uma história tão intrincada, foi crucial. Aqui ele aborda um tema com densidade incomum para um filme de ação e nos leva a per

Blade Runner 2049: uma continuação à altura do original

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Blade Runner 2049: filme dirigido por Denis Villeneuve CINEMA EM SINTOMIA COM ESPECTADORES MAIS INDIVIDUALISTAS Em 1982, o cinema ainda possuía um forte caráter ritualista. Você precisava ir até ele. Sentar-se numa poltrona e viver uma experiência compartilhada – depois de ter enfrentado a fila do ingresso e a fila da pipoca. Para visitar os filmes, eles precisavam estar em cartaz. Para revisitá-los, sabia-se lá quando! Aquilo que tínhamos em casa, na sala de estar, era um arremedo de cinema, mais conhecido como... televisão. Alguns pouquíssimos privilegiados já plugavam nela o tal videocassete, mas o tamanho da telinha continuava irrisório. Cinema de verdade, só nas salas de exibição. Foi nesse ambiente coletivo que Blade Runner – O Caçador de Androides surgiu para se transformar em uma das mais consagradas e amadas produções de ficção científica de todos os tempos.           Em 2017, quando Blade Runner 2049 , a continuação dirigida por Denis Villeneuve foi lançada, já não era pr

Casanova de Fellini: o grande amante, na visão particular do diretor

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Casanova de Fellini: um artista sem limites O ESTEREÓTIPO DO AMANTE LATINO NA VERSÃO CARICATA DO DIRETOR Quando assisti ao filme Casanova de Fellini , realizado por Federico Fellini em 1976, compreendi que o cinema não é um jovem de pouco mais de 120 anos. É um senhor experiente, que bebeu desde sempre nas fontes do teatro, da ópera, do circo... O diretor carregou nas tintas para nos entregar uma obra exagerada, caricata e extravagante. Não há preocupação com a verossimilhança. Há sim uma deliberada busca pelo irrealismo, com cenários inspirados na linguagem teatral e uma música expressiva – composta pelo grande Nino Rota – que soa desconectada com as imagens construídas por Fellini. O personagem Casanova ao qual fui apresentado no filme não é aquele que conhecia. Era outro, grotesco, triste e perdedor.           Quando digo que “conhecia” o protagonista, é apenas força de expressão. Jamais li A História da Minha Vida , o livro de memórias escrito por Giacomo Casanova e que serviu de

Hitchcock: a história real do filme Psicose

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Anthony Hopkins vive Alfred Hitchcock no filme Hitchcock A MULHER DE HITCHCOCK É ALMA DO FILME! Vamos direto ao ponto: Hitchcock é um filme de 2012, dirigido por Sacha Gervasi e roteirizado por John J. McLaughlin com base no livro de Stephen Rebello intitulado Alfred Hitchcock and the Making of Psycho . O problema é que todas essas palavras estão longe de fornecer uma definição exata sobre o que é esse filme. Por certo, os fãs de Alfred Hitchcock vão logo sentando na poltrona para se deliciar com as histórias de bastidores de um dos maiores clássicos do gênero suspense, tal como Stephen Rebello narrou em detalhes no seu livro. Porém, se esperam acompanhar uma narrativa em tom de documentário, ou satisfazer o voyeurismo cinéfilo que domina o imaginário sobre Psicose , é preciso ligar o alerta de frustração iminente. Esse filme segue uma outra abordagem. É leve, divertido, fantasioso e nos apresenta a um personagem que conhecemos muito pouco: Alma Reville!           Nesse filme, o Alfre

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